Danielle Blaskievicz, especial para a Gazeta do Povo
Situar o Hospital Pequeno Príncipe no mundo dos negócios é uma tarefa difícil. A instituição, que completa 100 anos em outubro, sempre direcionou seus esforços para a promoção da saúde de crianças e adolescentes e hoje é referência no atendimento pediátrico do Brasil. Com perfil filantrópico, destina cerca de 70% da sua capacidade para o atendimento de pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). Por outro lado, os repasses do SUS cobrem apenas uma pequena parcela dessas despesas. Em 2017, esses recursos corresponderam a 24,31% da receita anual do hospital – R$ 58,6 milhões dos R$ 241 milhões arrecadados naquele ano.
Para fechar a conta matemática sem comprometer a qualidade do atendimento, a alternativa encontrada pela direção foi a de aplicar as técnicas do mundo corporativo para fazer a gestão de uma organização não-governamental. Uma das apostas é o forte apelo para despertar a empatia e a mobilização de toda a sociedade: a saúde de crianças e adolescentes.
“Um hospital precisa funcionar como uma empresa. É uma atividade importante, do ponto de vista social. Porém, financeiramente, não é interessante”, explica o diretor executivo do Complexo Pequeno Príncipe, José Álvaro da Silva Carneiro. “Enquanto as empresas precisam desenvolver estratégias para conquistar o consumidor, aqui a gente trabalha pensando que o ideal é não ter freguês”, complementa.
Elaboração de projetos e campanhas para destinação de recursos junto às empresas e à sociedade em geral fazem parte da rotina da instituição. Em 2017, foram arrecadados R$ 40,8 milhões dessa forma (16,9% da receita total).
Outra situação cotidiana são os problemas como a defasagem da tabela SUS e casos que desafiam os médicos. Por ano, são mais de 20 mil cirurgias pediátricas, além de outros procedimentos de alta complexidade, como tratamentos oncológicos e transplante de medula óssea (TMO).
PP é modelo para outros hospitais
Hoje, além da contratualização SUS e da captação externa, a receita da instituição é composta pelos repasses dos convênios, que em 2017 representaram 42,83% do total arrecadado, recursos provenientes das Faculdades Pequeno Príncipe e das universidades que mantêm convênio com o hospital (14,43%), além de atendimentos particulares (1,54%).
O publicitário e especialista em gestão executiva Luiz Alberto César, da OAK Marketing, fala que o modelo adotado no Pequeno Príncipe deveria servir de modelo para outros hospitais. “A direção adotou diversas estratégias para captar recursos e financiar as ações do hospital. Sempre foi muito humilde para criar métodos e angariar recursos”, pontua.
Anualmente, são realizados 305 mil atendimentos ambulatoriais e mais de 22 mil internações. Referência em 32 especialidades, o hospital recebe pacientes de todo o Brasil para diversos tipos de tratamentos. “O Pequeno Príncipe sempre destinou o mesmo acesso e atenção a todos os pacientes”, destaca Donizetti Giamberardino, que está na direção técnica da entidade há 24 anos, mas desde 1974, quando ainda era acadêmico de Medicina, circula diariamente pelos corredores do hospital.
Com 370 leitos – 60 deles de UTI –, uma das preocupações da direção é acompanhar as novidades na área da saúde e implantá-las na realidade do hospital. “Nunca olhamos para trás. O objetivo é continuar ampliando e qualificando os serviços”, explica Giamberardino. É o caso do Laboratório Genômico, instalado em 2018, que permite diagnóstico precoce e preciso para diversas doenças.
Nos últimos anos, também vem sendo feitos investimentos em telemedicina – que permite a discussão de casos com profissionais em outras localidades – e em realidade virtual, com a implantação do Centro de Simulação Realística, para capacitar e aprimorar as técnicas cirúrgicas por vídeo.
Do hospital ao complexo
O “PP”, como é carinhosamente chamado pelos profissionais da área da saúde, originou o Complexo Pequeno Príncipe, formado pelo hospital, as Faculdades Pequeno Príncipe (2003) e o Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe (2005). Por trás disso tudo, está a Associação Hospitalar de Proteção à Infância Dr. Raul Carneiro, mantenedora de toda essa estrutura e presidida por Ety da Conceição Gonçalves Forte, a “Ety mãe” – a “Ety filha”, Ety Cristina Forte Carneiro, é diretora executiva do hospital – responsável por assumir, ainda na década de 1960, o desafio de revolucionar a forma de atenção à saúde das crianças e adolescentes muito antes que a saúde se tornasse um direito constitucional.
Uma vida construída dentro do Pequeno Príncipe
Espaço de ensino e pesquisa desde a década de 1930 e um dos berços da pediatria paranaense, a história do Hospital Pequeno Príncipe vem sendo construída por diversos profissionais e voluntários que fizeram e ainda fazem parte da rotina da instituição. A auxiliar de enfermagem Wladyslawa Provessi, 69 anos, trabalha na instituição há 51 anos e traz na memória muitos dos acontecimentos ao longo do tempo.
Nascida na antiga Alemanha Oriental, Wladyslawa é filha de um russo e de uma polonesa que enfrentaram em campo as batalhas da Segunda Guerra Mundial. Em 1951, após o final da guerra e com a crise que havia se instalado na Europa Oriental, a família migrou para o Brasil em busca de novas oportunidades.
Ela tinha apenas 3 anos e já ouvia as histórias da mãe, que foi enfermeira e trabalhou atendendo aos feridos da guerra. Ainda adolescente, Wladyslawa encontrou na enfermagem a sua missão de vida e no Hospital Pequeno Príncipe a sua segunda casa.
“Meu interesse pela enfermagem foi despertado pela minha mãe. Continuo trabalhando até hoje porque sinto um grande amor pelo meu trabalho e me sinto útil”, afirma a auxiliar de enfermagem, que está aposentada há mais de duas décadas.
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