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Coronavírus

Falta de matéria-prima trava indústria de máscaras e aventais hospitalares

Uso das máscaras contra a covid-19 pode mudar
(Foto: Bigstock)

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A crise causada pelo novo coronavírus movimentou uma indústria praticamente inexplorada no Paraná: a dos equipamentos de proteção individual (EPIs) hospitalar. Com a alta demanda por máscaras e aventais cirúrgicos – estima-se que só a rede de saúde pública do estado irá consumir 7 milhões desses itens nos próximos 60 dias –, muitas empresas de outros ramos, principalmente confecção tradicional, que estavam paradas começaram a atuar no segmento.

Além delas, projetos sociais entraram no jogo, engrossando esse caldo.

Mas, se hoje há um coro de empreendedores dispostos a produzir materiais que antes eram quase todos importados da China, agora, o problema é a escassez de matérias-primas. É que máscaras e aventais cirúrgicos de uso hospitalar são confeccionados com um insumo específico, o “tecido-não-tecido” (TNT). De alta proteção bacteriológica, o material é produzido por poucas indústrias no Brasil e, de novo, comprado em larga escala das empresas chinesas.

“Nosso estoque zerou”, afirma Claudia Miranda Leite, da distribuidora Cad’s, especializada no material. “Pegamos TNT da região de Curitiba e de Santa Catarina. A escassez começou há umas três semanas, quando teve essa corrida por máscaras [embora as máscaras cirúrgicas sejam recomendadas apenas para profissionais da saúde, o medo do Covid-19 causou uma corrida às farmácias]”, conta.

De acordo com a proprietária, de 20 ligações por dia, ela viu seu telefone receber cerca de cem chamadas diárias de confecções e pequenos empreendedores buscando o “tecido-não-tecido”.

Somada à escassez – e, claro, decorrente dela –, a escalada de preços se tornou mais um impeditivo aos interessados em fabricar EPIs. Gestora de um projeto que tem doado máscaras e aventais a instituições e comunidades com necessidade, a designer de moda Gabriela Garcez Duarte conta que há uma espécie de “leilão” para a compra do TNT. “Está faltando há duas semanas. Eu estava fechando a produção de 300 mil máscaras, tentando levantar investimento, e já não tinha mais. A perspectiva de algumas empresas [fornecedoras] era de entregar apenas em um mês. Agora já estão sem prazo”, diz a gestora.

“Algumas empresas estão pedindo que se pague à vista. Para negociar com investidor e empresas grandes, a burocracia não permite que se pague na hora. Além disso, soube de empresas que subiram o preço do metro quadrado para R$ 20. Normalmente gira entre R$ 1,50 e R$ 2,50. Isso já é abusivo em qualquer situação de mercado convencional. Em uma situação de emergência, é pior ainda”, critica Duarte.

O projeto Ação Solidária Covid-19 é organizado pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) de Curitiba.

A reportagem tentou contato com a principal fabricante de TNT no Paraná, a Berry Global, de São José dos Pinhais, mas não obteve retorno. Uma fornecedora de Santa Catarina, que também abastece o mercado paranaense, a DKN Nonwoven, anunciou que está dobrando a sua produção. Mas, o problema é nacional. Fitesa, Protdesc e outras empresas de fora do estado – que não têm no Paraná o principal mercado – também já anunciaram ter aumentado a produção, mas admitem que, ainda assim, não será possível atender a demanda atual.

O governo federal, por outro lado, tem trabalhado em trazer novas remessas de máscaras e aventais para o Brasil, o que pode aliviar a pressão na indústria interna.

Larga escala

Gerente de Assuntos Estratégicos da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), João Arthur Mohr tem uma visão mais otimista para a produção de EPIs no estado. “O fornecedor de TNT está ampliando sua capacidade de produção neste momento, além de novos turnos de produção, com a ativação de novas máquinas, para justamente poder atender estar aumento de demanda”, diz.

Mohr coordena um trabalho com indústrias do estado para a confecção de máscaras e aventais cirúrgicos em larga escala, que envolve cerca de 5 mil empresas de várias regiões, com 80 mil pessoas trabalhando na produção. A Fiep cuidou da capacitação técnica destes fabricantes, acostumados a produzir itens diferentes, como camisetas e bonés. A expectativa é elevar a produção no estado para 800 mil EPIs por semana.

Ainda assim, Mohr preconiza o uso consciente. “As máscaras de TNT devem ser utilizadas apenas por profissionais que assim o necessitem. A população, de forma geral, deve usar máscaras de tecido convencional”, alerta.

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