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Em fevereiro, uma empresa de Brasília, a Movi Electric, escolheu o Paraná para inaugurar sua primeira linha de montagem de carros elétricos no Brasil. Instalada no parque tecnológico Biopark, em Toledo, região Oeste do estado, a planta deverá fabricar, inicialmente, cem unidades daqueles que são considerados os carros do futuro – sobretudo por substituir os cada dia mais saturados combustíveis fósseis por energia elétrica, uma fonte mais sustentável.
A chegada da empresa reforça uma posição que o estado tem informalmente adotado: de protagonista na produção de elétricos no país. Além da Movi, uma série de outras pequenas empresas têm produzido seus elétricos no Paraná de uma forma que poucos outros estados brasileiros conseguem acompanhar.
No Brasil, o mercado de elétricos ainda é muito incipiente. De apenas 559 unidades vendidas em 2019, passamos para 857 em 2020, um número mais alto, mas que ainda não causa grandes reações. Apesar disso, um dado positivo: o crescimento de 53,3% se contrapõe à queda nas vendas do setor automotivo como um todo, que encolheu em 26%. Isso mostra que os elétricos têm solidez no enorme mercado a se conquistar (entidades internacionais acreditam que até 2040 os elétricos dividirão meio a meio o mercado com os veículos a combustão).
No entanto, a grande maioria dos comercializados no país, apesar de ser de montadoras grandes (Audi, Renault e Fiat, por exemplo), é importada. O mais vendido no Brasil, por exemplo, é o Audi e-tron. Embora a empresa até tenha linha de montagem no país (exatamente no Paraná), traz esse carro da Bélgica. É que os elétricos dependem de plantas com alta complexidade tecnológica para serem produzidos, além, é claro, de um mercado que permita a fabricação em escala. Com um custo ainda muito alto – que muitas vezes eleva o preço em duas, três ou mais vezes em relação a um veículo tradicional – , a produção em série por uma grande marca ainda é impraticável no país.
Bem por isso, os fabricantes que optam por montar veículos elétricos no Brasil têm modelos menos robustos, com custo mais baixo de produção, e, geralmente, focados em finalidades bem específicas – como abastecer a frota de uma empresa para circulação interna ou fornecer utilitários para um serviço determinado. Esse é o cenário das empresas que atuam ou são paranaenses.
A Movi Electric, por exemplo, quer produzir três modelos de carros pequenos – um compacto e dois utilitários. Com espaço para duas pessoas, eles foram desenvolvidos para o deslocamento em pequenas distâncias, já que sua autonomia é de 150 km e sua velocidade máxima é de 50 km/h. Como grandes vantagens, os veículos podem ser carregados em tomadas convencionais de 110V e 220V e o tempo de carregamento é relativamente curto, varia de 5 a 7 horas.
A Movi utiliza os modelos desenvolvidos pela empresa argentina Sero Electric, que trabalha com veículos elétricos há uma década.
Outra paranaense que tem atuado no setor é a eiON, que fabrica o buggy batizado de Buggy Power. O pequeno carro usa baterias de íons de lítio que variam entre 2 e 5 horas para carregar, com voltagem 220V ou 110V, respectivamente. O veículo tem autonomia acima de 200 km, dependendo da versão escolhida.
A Hitech Electric, empresa com planta em Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, lançou recentemente um off road elétrico. O Utility Task Vehicle (UTV) foi projetado para trafegar em terrenos acidentados, áreas rurais ou campestres e tem capacidade de carregar equipamentos e ferramentas. É uma das poucas opções de elétricos nesse segmento, ainda dominado por veículos movidos a combustão.
O carro atinge velocidade máxima de 40 km/h e tem autonomia de até 80 km – com um tempo de recarga entre de 5 a 6 horas.
“Ainda não temos um fabricante nacional se destacando como a marca ‘absoluta’ do mercado. Como a tecnologia ainda é nova, mesmo fora daqui, esse é um período experimental destes veículos e da aceitação do público. Mas, com os preços que a gente vê aqui no Brasil da gasolina e do etanol e, mais, com uma conscientização de que precisamos ser mais sustentáveis, não é arriscado dizer que nesta década esses players [os concorrentes do segmento] estarão faturando mais e empregando muita gente”, diz o consultor em energia e novos negócios Ivan Rothschild.