A dificuldade na compra de insumos causada pela pandemia tem levado a indústria a verticalizar processos. Para não depender de fornecedores que não conseguem mais atender a alta demanda de consumo, diversas empresas de todo o país estão planejando produzir as próprias matérias primas. No Paraná não é diferente.
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O processo de verticalização ainda não foi detectado estatisticamente como tendência pela Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep). Mas a entidade admite que já vem observando o movimento nos bastidores.
O objetivo é reduzir custos e tempo de entrega. E, assim, depender cada vez menos das importações. Em especial da China, país do qual a indústria do estado mais importa insumos.
O mercado paranaense aumentou 51% as aquisições do gigante asiático no primeiro semestre desse ano em relação ao mesmo período de 2021. No total, as importações chinesas representaram 24% de tudo que o Paraná comprou fora do Brasil nos seis primeiros meses de 2022, segundo a Fiep.
"Temos a percepção que, pela dificuldade com a pandemia de se trazer insumos de fora, algumas iniciativas estão sendo tomadas para reverter o processo. O empresariado está vendo da seguinte forma: às vezes, vale pagar um pouco mais caro para se ter uma matéria prima de qualidade e com entrega garantida", avalia o economista da Fiep Evânio Felippe.
O economista afirma que o principal entrave da indústria brasileira hoje é o alto custo da produção. Indicador que se elevou ainda mais com o desabastecimento gerado pela crise sanitária. Com o fim do isolamento social e a reabertura das fronteiras, o consumo aumentou muito rapidamente sem que a cadeia fornecedora estivesse preparada.
O resultado foi um descompasso entre produção e demanda com impactos sentidos por toda a estrutura logística global até agora, mesmo com melhorias no quadro epidemiológico da Covid-19. Cenário agravado ainda mais com a guerra na Ucrânia desde o fim de fevereiro. "A guerra só encareceu ainda mais a logística, afinal, navio é movido a petróleo. Ou seja, mais uma elevação de custo que impacta na indústria", explica Felippe.
Por outro lado, o economista da Fiep vê com bons olhos a verticalização da indústria no estado. "É bom, porque gera mais empregos e renda para o Paraná e o Brasil", avalia.
Fábrica de latas da Above
Foram exatamente essas dificuldades que levaram o Grupo Baston Aerossol a investir R$ 150 milhões na instalação de duas fábricas de embalagens, além de uma planta para fabricação da nova linha de produtos de higiene pessoal que inclui xampu e sabonete líquido. As três novas fábricas serão ao lado da unidade que produz desodorantes da marca Above em Palmeira, nos Campos Gerais.
A meta do grupo é zerar a dependência com fornecedores da China, de onde vem metade da matéria prima da produção da Above e cujo frete ficou dez vez mais caro para a empresa no decorrer da pandemia.
"Com nossa própria fábrica de latas vamos ter zero dependência da China. Vamos poder comprar chapas de aço de qualquer lugar do mundo onde seja mais vantajoso, inclusive no próprio Brasil, se for o caso", cita o CEO do Grupo Baston, Gustavo Bacila.
A partir de novembro, a unidade começa a produzir 12 milhões de latas por mês com a instalação da primeira das duas máquinas italianas adquiridas pela Above. Volume que vai dobrar para 24 milhões de latas mensais quando a segunda máquina for instalada ano que vem. No total, a unidade de latas vai gerar 40 empregos diretos.
Ainda em 2023, a empresa, que tem como garoto propaganda o jogador Neymar, planeja o início da operação da fábrica de dispensadores - a tampa da embalagem onde se aperta para ativar o aerossol do desodorante.
O CEO do grupo cita ainda dificuldade de adquirir matéria prima no próprio mercado interno, onde apenas quatro empresas atendem todo o país. "Hoje o mercado não tem como nos atender. Ficamos nas mãos de poucos fornecedores. E para manter a promessa da nossa marca de oferecer um produto a preço honesto, a única opção é verticalizar a produção", aponta Bacila.
Polímeros próprios
Outra empresa paranaense que está apostando na produção do próprio insumo é a fabricante de plásticos orgânicos Earth Renewable Technologies (ERT). Primeira marca da América Latina a produzir plástico biodegradável, o grupo vai instalar na fábrica em operação há um ano na Cidade Industrial de Curitiba (CIC) uma linha de produção própria de polímeros - matéria prima usada na composição do plástico feito de cana de açúcar que hoje é importada da Tailândia.
"A verticalização é para aumentar nossa capacidade produtiva. Para isso, temos que ser cada vez menos dependentes da Ásia, não só pelo valor alto do frente, mas também pelas entregas inconstantes", ressalta o CEO da ERT, Kim Gustensten Fabri. "Estamos dando um passo atrás na cadeia produtiva, optando por uma matéria prima menos evoluída, que ainda não está industrializada. Ou seja, vamos comprar commodity. Por outro lado, vamos ganhar na margem e depender menos dos fornecedores, além de não precisar ir fisicamente até a Ásia para acompanhar os processos", reforça Fabri.
O objetivo com a produção dos polímeros é de que a ERT aumente em dez vezes a capacidade produtiva em três anos, saltando das atuais 3,5 mil toneladas anuais de plástico orgânico para 35 mil toneladas anuais.
Para isso, a marca recebeu aporte de R$ 50 milhões da XP Private, braço da XP Investimentos que atua com fundos de grandes valores. Com esse investimento, a fábrica na CIC dobrou de tamanho, passando a ter 3 mil metros quadrados para receber o novo maquinário que vai produzir a matéria prima.
Garrafas da Ambev
A gigante de bebidas Ambev também decidiu verticalizar a produção no Paraná. Com investimento de R$ 870 milhões anunciado no fim de 2021, a marca vai instalar em Carambeí, nos Campos Gerais, a sua segunda fábrica de garrafas, a maior do país na produção de vidro reciclado.
A instalação da planta começa ainda em 2022, com previsão de conclusão em 2025. A previsão é de que a fábrica de vidro gere entre 300 e 400 empregos diretos.
A unidade de vidros em Carambeí vai produzir garrafas para as cervejarias da Ambev em Curitiba e Ponta Grossa, no Paraná, e de outros estados. Serão 500 milhões de vasilhames por ano, dependendo do modelo.
As garrafas de Carambeí serão nas versões long neck, 300 ml, 600 ml e 1 litro dos rótulos Brahma, Skol, Budweiser e Stella Artois.
A coluna Paraná S/A procurou a Ambev para ter mais detalhes da verticalização da produção no estado, mas a empresa preferiu não se manifestar.
A fábrica de garrafas da Ambev no Paraná foi anunciada 14 anos após a empresa inaugurar a primeira unidade de vasilhames, no Rio de Janeiro, que também trabalha com vidro reciclado.
Desde o ano passado, a falta de vidro no mercado tem afetado diversos setores da indústria, em especial o de bebidas. No caso das cervejas, o impacto da pandemia vem junto com o aumento de demanda gerado pelo próprio setor, com o crescimento de consumo tanto nas vendas da bebida tradicional como na de rótulos artesanais.
Com isso, a expectativa é de que o fornecimento de garrafas para a indústria só se normalize no segundo semestre de 2023, prevê a Associação Brasileira das Indústrias de Vidro (Abividro).
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