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Pecuária leiteira

Indústria investe mais tempo na nutrição animal para elevar produtividade e impactar no preço do leite

Vacas da raça holandesa que produzem 40 litros de leite por dia, em Witmarsum.
Vacas da raça holandesa que produzem 40 litros de leite por dia, em Witmarsum. (Foto: André Macedo/Elanco)

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Um novo conceito vem chamando a atenção e ganhando destaque entre os produtores de leite. O chamado "90 dias vitais" surge como um diferencial que pode garantir um rendimento cerca de 30% a mais na produção de leite. O impacto positivo pode chegar ao consumidor, na forma de melhor preço.

O conceito propõe estender para 90 dias os cuidados especiais com a saúde e a nutrição animal no período de transição (entre a secagem da vaca, quando a ordenha é suspensa, e o pós-parto). Tradicionalmente, nas fazendas leiteiras esse período é de apenas seis semanas (três antes e três após o parto).

“Com mais produtividade, menos custos e menos animais acometidos por doenças do pós-parto, é possível oferecer um leite de melhor qualidade e preço para o mercado”, destaca André Pratto, médico veterinário e consultor técnico da Elanco, uma das principais indústrias voltadas à saúde e nutrição animal.

Os "90 Dias Vitais" foram o tema do Dairy Summit que a Elanco, uma das principais indústrias farmacêuticas e de nutrição animal do mundo, realizou no mês passado em Castro, nos Campos Gerais do Paraná. O evento reuniu cerca de 100 médicos veterinários e zootecnistas dos principais estados produtores de leite (MG, PR, GO, SP, SC e RS).

“Muitos pecuaristas costumam negligenciar esse período [de 90 dias], entendendo que, se a vaca não está produzindo leite, não precisa de uma nutrição adequada, o que é um erro”, pontuou o zootecnista formado pela Universidade de Lavras (RS), Renato Palma Nogueira, um dos palestrantes do evento.

Impacto no mercado

Suspender a ordenha mais cedo e ainda investir em mais alimentação nesse período pode, num primeiro momento, parecer mais oneroso para o produtor de leite. Mas resultados de pesquisas mostram o contrário. “É um período de balanço energético e proteico negativos, baixa em nutrientes essenciais e, por causa disso, temos uma vaca imunodeprimida”, destacou Rodrigo Almeida, professor e pesquisador do Departamento de Zootecnica da Universidade Federal do Paraná (UFPR), justificando a necessidade de uma atenção especial em cuidados com a saúde e a nutrição animal como forma de garantir um bom índice de prenhez e uma boa produtividade de leite.

“A questão do bem-estar animal é fundamental e é peça-chave na obtenção de uma produção quantitativa e qualitativamente significante”, diz André Pratto, da Elanco. “Apenas sob esse ponto de vista, os gastos com a vaca em seu período seco são, na verdade, um investimento. Estamos cuidando do animal, preparando para o melhor parto possível, trabalhando para que tenha condições fisiológicas de passar por esse momento e, consequentemente, aumentar sua produção leiteira com segurança e bem-estar, e emprenhar mais fácil”, explica o veterinário.

Pratto destaca ainda que é essencial esse período de descanso da glândula mamária e regeneração alveolar para que a vaca tenha condições de ter uma maior produção e, ao mesmo tempo, expor todo o potencial genético. A Elanco oferece um pacote de soluções voltadas à nutrição e saúde animal para os "90 Dias Vitais".

A programação do Dairy Summit incluiu palestras com especialistas, em Castro, e o Dia de Campo, na Agropecupária Reggia, localizada em  Witmarsum, colônia do município de Palmeira, a 70 quilômetros de Castro. Trata-se de uma das fazendas leiteiras modelo. Com um plantel de 3.100 animais, tem 1.200 vacas em lactação. Elas são ordenhadas três vezes ao dia. Cada vaca produz 40 litros de leite diariamente. O resultado é acima da média da região, que é de 30 litros/vaca/dia e bem acima da média nacional, que é de 5 litros de leite por vaca ao dia, de acordo com o Censo Agropecuário do IBGE.

Marcos Epp, proprietário da Agropecuária Reggia, é a terceira geração da família dedicada à pecuária leiteira. Ele conta que adota o protocolo dos "90 Dias Vitais", em parceria com a Elanco, e as soluções são em grande parte o que garante o bom rendimento do rebanho.

Na Agropecuária Reggia, as vacas são ordenhadas três vezes ao dia. Cada vaca produz 40 litros de leite diariamente. (André Macedo/Elanco). (Foto: Andre Macedo)

“Influencia muito no resultado e viabiliza um leite de melhor qualidade com maior teor de proteína e gordura, o que rende mais para a indústria e garante uma remuneração melhor”, observa.

A Agropecuária Reggia integra a bacia leiteira conhecida por ABCW (Arapoti, Batavo, Castrolanda e Witmarsum), localizada nos Campos Gerais do Paraná e uma das mais produtivas do Brasil.

Castro e Witmarsum  foram sede do Dairy Summit da Elanco pelo destaque na produtividade de leite e por concentrarem fazendas leiteiras altamente tecnificadas.

Gustavo Oliveira Ribeiro médico veterinário da Cooperativa Comigo, do sudoeste goiano, participou do Dairy Summit e disse que o evento agregou muito em conhecimento. “Em Goiás temos uma diversidade muito grande, com algumas propriedades tecnificadas, como essa aqui, mas são minoria”. Segundo ele, poucas em Goiás adotam o protocolo dos 90 dias.

Veterinário que atua na região de Patos, Minas Gerais, principal estado produtor de leite do Brasil, Luis Fernando Faria Coury também participou do Dairy Summit e destacou que é visível  que os melhores resultados na pecuária leiteira ocorrem nas fazendas que adotam o protocolo dos "90 Dias Vitais". “São dias muito críticos que vão ter impacto em toda a vida do animal, na saúde, na produção de leite e na reprodução. Por isso temos procurado disseminar esse modelo”, frisou.

O Paraná é o segundo maior produtor de leite do Brasil. Produz 14% da produção nacional, ficando atrás de Minas Gerais, que produz cerca de 27% de todo o leite do país. O Paraná é líder em produtividade, em grande parte pelo alto nível da bacia leiteira ABCW.

*A repórter viajou a Castro a convite da Elanco.

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