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Daniela Diniz é jornalista e diretora de conteúdo do Great Place to Work Brasil. Também é autora do livro Grandes Líderes de Pessoas. Elas esteve em Curitiba em agosto.
Daniela Diniz é jornalista e diretora de conteúdo do Great Place to Work Brasil. Também é autora do livro Grandes Líderes de Pessoas. Elas esteve em Curitiba em agosto.| Foto: divulgação.

A jornalista Daniela Diniz prefere ver o copo meio cheio quando o assunto é equidade de gênero em cargos de liderança nas empresas brasileiras. Com mais de quinze anos mergulhada no ambiente corporativo e investigando a presença feminina na área, ela vê com otimismo o aumento das estatísticas: em 1998, as mulheres representavam 1% dos cargos mais importantes dentro das companhias, hoje, esse número é de 23%.

Os dados são do Great Place to Work (GPTW), onde Daniela é, atualmente, diretora de conteúdo. A entidade é um selo global que destaca as melhores práticas no mundo do trabalho. Há três anos a GPTW premia também as melhores empresas para as mulheres trabalharem, como uma tentativa de incentivar a diversidade.

Daniela Diniz também é autora do livro Grandes Líderes de Pessoas e, no Grupo Abril, escreveu para revistas Exame, Você S/A e Você RH, essas duas última como editora-chefe. Ela esteve em Curitiba em agosto e em uma conversa exclusiva com o Paraná S/A falou sobre o cenário de contratações.

Qual é o panorama de liderança feminina nas empresas?

Quando a gente olha para o mundo corporativo vemos que falta muito para estarmos em equilíbrio. Existe um gap muito grande para ser costurado. Mas eu sou otimista. Analisando as melhores empresas para se trabalhar, em 1998, tínhamos uma representatividade mínima de mulheres em cargos de liderança. Era de 1% em cargos de gestão. Hoje, este número está entre 23 e 24%. Não é ideal, temos muito a conquistar, mas é sim um avanço. Há ainda o estereótipo do homem de negócios versus a mulher de negócios.

Como é uma boa empresa para uma mulher trabalhar?

Analisamos acima de tudo as políticas e práticas que a empresa tem para ser igualitária, é o conceito do for all [para todos]. Já quando olhamos só para o universo feminino, precisamos tentar entender quais são os entraves para elas crescerem profissionalmente. É mais do que a maternidade. Esse é um dos pontos, mas não só.

A flexibilidade é vista como um diferencial nas boas empresas para se trabalhar, por conta das jornadas duplas, triplas, quádruplas que as mulheres assumem. Jornadas flexíveis e home office são exemplos da coisa colocada em prática. É quando o empregador confia que não importa de onde se está trabalhando, o trabalho vai ser entregue. 

A flexibilidade não deveria ser implantada também aos homens?

Sim, com toda certeza. A flexibilidade é bem recebida para ambos os gêneros. Mas a mulher enxerga um ganho maior porque ainda - embora contemos com um engajamento maior dos homens [em atividades domésticas] -, ainda não atingimos o equilíbrio nesta área. As mulheres ainda assumem mais funções domésticas, escolares e da vida dos filhos. Esse tema precisa ser discutido dentro das lideranças.

Trazer os homens para o debate?

Isso. Se fala muito em empoderamento feminino, mas muito em “clube da luluzinha”. Se tem muitos eventos discutindo esse espaço de fala, mas de mulher para mulher. Cadê os homens? Se eles não são incluídos nesta discussão, vamos continuar falando dentro da bolha, e as conquistas vão ficando mais lentas. Para ser bem sincera, as empresas que realmente tem sucesso neste tópico, que aumentam, de fato, o número de mulheres líderes em seus quadros, são empresas que colocam metas para isso.

Seriam cotas para mulheres?

Gosto de falar em metas ou objetivos. A empresa que já tem essa consciência tem na sua porta de entrada 50-50. Por exemplo, na hora de promover funcionários para cargos de diretores, gerentes, coordenadores, é preciso que as mulheres sejam consideradas e representadas.

Não dá para ter 8 homens e 2 mulheres em uma seleção, porque não 5 e 5? 

De quanto tempo estamos falando para atingirmos a equidade?

Se as empresas colocarem suas metas hoje em prática, pode levar até 50 anos. Se as metas não forem, sequer, avaliadas, tem pesquisas que apontam para mais de 150 anos para se chegar no equilíbrio.

É preciso sair do discurso, para ontem.

E como empoderar as mulheres?

É um treinamento diário. É apontar onde o estereótipo machista está sendo repetido e contestar. Em uma reunião é dizer “neste momento, você fez cinco comentários machistas e pode ser que você nem tenha percebido”. Porque somos todos criados em uma cultura machista. Nós, mulheres, também.

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