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No ano em que completa 70 anos, marca de malas Ika quer faturar R$ 36 milhões

Victory, uma das atuais linhas da Ika, em três cores. (Foto: Carolina Becker). (Foto: )

Flávia Silveira, especial para a Gazeta do Povo

Como uma marca tradicional sobrevive à própria falência, a trocas de comando e à concorrência acirrada? A marca paranaense Malas Ika passou por tudo isso e em 2018, ano em que completa 70 anos, revela seus planos para faturar R$ 36 milhões e dobrar este número nos próximos dois anos.

Leon Knopfholz é o atual diretor de marketing da K1, empresa que detém a marca Ika atualmente, mas a relação de sua família com a empresa remete à sua fundação. Em 1933, foi fundada a Irmãos Knopfholz por José e Leon Knopfholz, respectivamente avô e tio-avô de Leon. Os dois irmãos começaram com uma operação pequena, fabricando artefatos de couro. Aos poucos, a atividade cresceu e em 1948 surgiu a marca Ika, como um ativo da Irmãos Knopfholz.

A marca começou a se tornar conhecida nas décadas seguintes. Leon conta que poucas pessoas sabem, mas no Memorial de Irmã Dulce, na Bahia, a maleta usada pela beata e lá exposta é uma Ika. O Papa João Paulo II também foi presenteado com produtos da marca quando esteve em Curitiba, em 1980.  Como uma das operações dos Irmãos Knopfholz, a Ika foi um sucesso especialmente nas décadas de 1970 a 1990. Nos anos 1980, a marca chegou a ter 45% de participação do mercado brasileiro de malas. “Era uma operação ikânica”, brinca Leon.

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Os negócios começaram a se complicar no início dos anos 1990, quando o aumento da concorrência com a abertura para importações, em combinação ao momento delicado da economia brasileira à época, acarretou o fechamento da Irmãos Knopfholz, e o posterior encerramento das atividades, em 1996.

A Malas Ika, então, foi a leilão em 1998 como um ativo (dentre os vários que a Irmãos Knopfholz detinha), e desde então passou por outros dois donos, as empresas RMS e Sunbag, até chegar à K1, que a princípio trabalhava como licenciada da marca, responsável pelos produtos da linha executiva, como pastas e maletas. “Ficamos como licenciados até 2004, quando passamos a detentores da Ika. Foi um processo de conveniência e convergência mercadológica, pois estávamos operando a unidade executiva de forma eficaz. A partir daí, começamos a operar a Ika em sua totalidade de produtos”, conta Leon.

Malas da Ika são importadas da China. Fábrica no Brasil não faz parte dos planos futuros

Quando a K1 assumiu a Ika, a produção da marca começou a ser feita de forma híbrida, com uma parte sob responsabilidade de uma terceirizada em São Paulo e outra parte importada, principalmente da China. Assim foi até 2012, quando a operação de produção começou se mostrar inviável. Desde então, as malas começaram a ser importadas em sua totalidade do mercado chinês, já montadas.

Leon Knopfholz é diretor de marketing da K1, atual detentora da Ika, mas a relação de sua família com a empresa remete à sua fundação. (Foto: Carolina Becker)

Este cenário pode mudar nos próximos anos. Segundo Leon, o plano é abrir, em um curtíssimo prazo, uma unidade de produção em um país vizinho, que ele não revela o nome, mas diz que oferece “vantagens fiscais irresistíveis ao empresário brasileiro”. A novidade permitirá que sejam importadas as peças das malas, mas que o produto final seja montado na unidade de produção na América Latina. “Com isso, pagaremos 16% a menos do que pagamos hoje. É um mérito do país que está oferecendo isso, e que ganha em emprego e consumo”, conta.

Em Curitiba, a antiga fábrica das Malas Ika funcionava em um prédio na Avenida Nossa Senhora Aparecida, no Batel. O prédio foi a leilão junto com a massa falida da Irmãos Knopfholz, que incluía outras edificações, mas não mais a marca, em 2016.

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Olhar para o estilo de vida das pessoas orienta novos planos da Ika

Para Leon, a força da marca Ika não vem só da tradição, mas também por estar presente em momentos quase “sagrados”, como o ato de viajar. “É uma quebra na rotina, um momento inesquecível. Creio que este impacto no inconsciente gere o vínculo da marca há tantas gerações. Não é algo construído em um ano, mas ao longo de décadas”, considera. Segundo ele, este talvez seja o momento mais importante para a marca desde 2004, com um mercado receptivo e simpático.

Mas na busca de um reposicionamento da marca, a K1 utilizou sua expertise em marketing para identificar seu consumidor e pensar em novos produtos. Leon conta que foi possível identificar o que o consumidor brasileiro busca design, funcionalidade e preços atrativos. “Identificando estas três palavras, a estratégia básica é ofertar um produto que as combine, e assim aumentar nosso mix de produtos”, diz. “As mudanças do perfil de viagens, o incremento do deslocamento aéreo, tanto a lazer como profissional, e as restrições de peso das companhias aeronáuticas foram determinantes para as mudanças do segmento”, explica.

Entre as novidades para 2018, a linha executiva, por exemplo, terá uma mala de bordo com conector USB, que permite carregar o celular durante o deslocamento. A novidade deve ser lançada neste segundo semestre.

Já nas coleções de produtos para viagens, as novidades são as linhas Vanguard, Shell, Unika e Victory, cada uma com suas especificidades, mas todas apostando em design moderno, com material ABS, carrinho embutido, cadeado TSA, zíper expansor que aumenta em 30% o espaço, rodas duplas 360°, alças diferenciadas, elásticos na parte interna, modelos monocromáticos, com possibilidade de personalizar puxador, placa e forro. “São conceitos de design e funcionalidade, mas dentro de uma oferta que caiba no bolso do consumidor”, avalia Leon.

A negociação com os canais de distribuição e pontos de venda também faz parte da estratégia da Ika. Para oferecer as melhores condições de acordo com o tamanho da operação do varejista parceiro, a K1 elaborou contrapartidas específicas para pequenos, médios e grandes distribuidores. Os varejistas de médio porte que comprarem, por exemplo, R$ 30 mil em produtos para revenda, ganham da K1 o mesmo valor para ser usado em veiculação de publicidade e propaganda na região onde atuam.

“Sabemos que o mercado varejista é um desafio dionoturno, que sempre passa por mudanças significativas, como por exemplo o surgimento do e-commerce e sua estreita aproximação de negócios tradicionais”, destaca. A Ika está no e-commerce, mas apenas nos grandes marketplaces. “Não vamos ter um próprio, porque acredito que isso agrediria o pequeno varejista que sobrevive com o ponto de venda”, acrescenta Leon. Atualmente, a Ika é vendida em 3.500 pontos de venda.

Com uma operação enxuta, vinte pessoas estão ligadas à gestão da marca no escritório da K1 em Curitiba, e outros 35 representantes comerciais atendem os pontos de vendas espalhados por todo Brasil.

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