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Gláucia Marins, co-fundadora e vice-presidente do Instituto Legado. Foto: Divulgação
Gláucia Marins, co-fundadora e vice-presidente do Instituto Legado. Foto: Divulgação| Foto:

A ideia de que um negócio pode – e deve – ir muito além de lucrar, empregar pessoas e pagar tributos motivou os sócios do escritório de advocacia Marins Bertoldi, James Marins e a esposa Gláucia Marins, a abraçarem uma causa há oito anos: o empreendedorismo social.

Com a certeza de que era possível fazer mais pela sociedade, eles lançaram em 2011 a semente do que mais tarde seria o Instituto Legado de Empreendedorismo Social, que nasceu para disseminar o poder transformador de empreender com propósito e gerar impacto socioambiental positivo por meio dos negócios. Neste ano, o Projeto Legado, onde tudo começou, chega a sua sétima edição ajudando a consolidar Curitiba como uma referência em negócios de impacto no Brasil. Gláucia Marins, co-fundadora e vice-presidente do Instituto Legado, contou ao Paraná S/A sobre a iniciativa e sobre o 1.º Festival Legado Delas, neste mês de março, para celebrar a força das mulheres no empreendedorismo social.

Como e com qual propósito surgiu o Instituto Legado?
O Instituto Legado surgiu com Projeto Legado, que tem como objetivo levar às organizações sociais o “mindset” de empreendedorismo social, aumentando o impacto positivo que geram, por meio da tecnologia e da ideia de negócio social. Temos em mente que empregar e pagar tributos não é suficiente para a nossa sociedade e para o mundo. É preciso mais. É necessário que os empreendedores entendam que todo negócio tenha também, dentro da sua cadeia produtiva, a necessidade de trazer impacto positivo à nossa sociedade. E como impacto positivo, me refiro à solução de um problema social e/ou ambiental.

O propósito do Instituto Legado é levar o empreendedorismo para o social e o social para o empreendedorismo, por meio da educação, de políticas públicas, do intraempreendedorismo nas empresas comuns, fazendo conexões de rede entre interlocutores que antes não se conheciam e nem se falavam.

Hoje, além do Projeto Legado, temos pós-graduação presencial com a FAE, pós EAD, projetos com empresas como Renault e Audi, um trabalho incessante com todas as redes, investimentos sociais, e estamos trabalhando com o tema de finanças sociais, na criação de fundos de investimento para impacto social. Além disso, mantemos o Legado SocialWorking, coworking que funciona em Curitiba e que foi pioneiro como espaço compartilhado exclusivamente por pessoas e empresas que trabalham com foco em impacto socioambiental. Sem contar novidades que só poderemos revelar em abril.

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Por que investir em empreendedorismo social?
Eu costumo dizer que se você oferecer a oportunidade para o investidor de investir em um negócio cujo único objetivo é o lucro ou, então, investir em um negócio no qual além do lucro ainda esteja sendo resolvido um problema social/ambiental, provavelmente ele optará pela segunda opção. Saber que seu investimento está impactando positivamente na sociedade gera um bem-estar que antes não era possível.

O escritório Marins Bertoldi é o único apoiador do Instituto ou há mais parceiros?
A primeira sede do Instituto Legado foi numa sala do Marins Bertoldi Advogados, mas logo na sequência crescemos e tivemos que procurar outro espaço. Hoje, o Instituto Legado conta com vários co-investidores, que além de contribuir financeiramente também contribuem com decisões estratégicas e ideias. Nós não aceitamos doações. Apenas co-investidores com propósito de ampliação de impacto do Instituto. Além da Marins Bertoldi, temos uma parceria estratégica com o escritório Arns de Oliveira & Andreazza, que dão toda a capacitação jurídica no Projeto Legado, além das mentorias.

Qual é o foco do Instituto?
O principal foco do Instituto Legado é o desenvolvimento do ecossistema do empreendedorismo social. Chamamos isso de Movimento Transformador Massivo, que é um movimento de transformação da consciência, da economia, da inovação para impactar positivamente o mundo.

E o perfil dos negócios e empreendedores sociais selecionados?
Procuramos sempre negócios sociais ou organizações sociais que possuem capacidade de criar um negócio social, com possibilidade de ampliação de impacto. A ideia central é entregar a elas ferramentas que possam ser úteis na ampliação do impacto. Para isso, o perfil dos empreendedores tem de ser ético, aberto à inovação e à possibilidade de fazer diferente se necessário, tendo atitude ousada, obstinada e prática.

Que trajetória os projetos selecionados percorrem dentro do Instituto?
No começo do ano lançamos um edital e escolhemos, numa banca de mais de 15 pessoas, 30 projetos. Essas organizações passam por uma capacitação de gestão que dura oito meses, período durante o qual há vários desafios que precisam ser entregues. Nesse período elas repensam seu negócio, criam novas estratégias de ampliação de impacto, entre outras tarefas. Ao final eles têm que apresentar um projeto de ampliação de impacto a uma banca. Os três melhores projetos recebem investimento para aceleração. No ano seguinte, todas as organizações recebem mentoria para acompanhamento dos projetos apresentados. Durante todo esse processo e após o término dos dois anos, todas as organizações contam com a nossa rede e podem colaborar umas com as outras.

A lógica financeira é diferente  quando se trata de negócios sociais?
Sim. Os negócios sociais podem se apresentar de várias formas: sem fins lucrativos, com fins lucrativos e distribuição de lucros, com fins lucrativos e sem distribuição de lucros, por exemplo. Assim sendo, o que difere os negócios sociais com fins lucrativos e com distribuição de lucros, e um negócio comum, é o propósito. Para cada tipo jurídico há uma lógica financeira distinta. Mas eu diria que no caso do negócio social com fins lucrativos e distribuição de lucros, o fator diferencial não é o financeiro, mas o propósito.

No negócio social, o propósito é a mola propulsora e não o resultado financeiro.

Uma rede em formação

Como é o ecossistema de negócios de impacto em Curitiba?
Curitiba está sendo vista como a capital do Empreendedorismo Social por muitos órgãos internacionais. Por sermos uma capital menor e termos a fama de capital ecológica, estamos conseguindo criar uma das redes mais fortes do país. O Instituto Legado tem trabalhado muito na união dos diversos interlocutores, e deles com as grandes empresas.

O Projeto Legado, criado em Curitiba, teve este ano seu edital baixado em todos os estados do país e está recebendo 160 inscrições de iniciativas de impacto de 18 estados.

Além disso, estaremos daqui a duas semanas com um stand no Smart City Expo Cutitiba, além de estarmos dando suporte institucional ao evento. Ano passado criamos o Festival de Impacto, junto com a força tarefa de finanças sociais e a Libria, cujo sucesso foi tão grande que este ano em outubro teremos o segundo; criamos o Legado Experiência, no qual damos fala aos empreendedores sociais que participam do Projeto Legado. Esses dois últimos são eventos gratuitos patrocinados por grandes corporações que estão trabalhando com a ideia de propósito.

Somos co-fundadores da RIS (Rede de Investidores Sociais), que traz para a interlocução grandes organizações, como Fundação Boticário, Instituto Positivo, Instituto Renault, entre outros. Temos também o Vale do Pinhão, trabalhando com startups, do qual nós, do Instituto Legado, fazemos parte, para levar a ideia de startup social. Juntamente com o Jupter e o Founder Institute, que estão em Curitiba e são os maiores originadores de startups do país, criamos o Social Founder, um programa de apoio à criação de startups de impacto social e ambiental. Enfim, Curitiba não para. É um ecossistema maravilhoso que está ganhando vida e visibilidade.

O que é o 1.º Festival Legado Delas?
O Instituto Legado aproveitou o mês da mulher e criou uma série de eventos onde o espaço da fala estará aberto para as empreendedoras sociais, para que possam falar e ouvir experiências umas das outras. Os homens são convidados a ouvir e entender as dificuldades que ainda pairam sob as empreendedoras sociais por conta do preconceito. A ideia deste evento é juntar uma rede de empreendedoras que se unam e se apoiem em todos os seus projetos. O Instituto Legado trabalha sempre com a ideia de união e de rede. E o Legado Delas é uma oportunidade de reunir essas mulheres corajosas, resilientes, batalhadoras e cheia de propósito num mesmo espaço. O que vai sair desses encontros deverá ser muito rico.

Qual a porcentagem de empreendedorismo feminino no Instituto Legado?
Não saberia dizer com exatidão, mas podemos afirmar que a presença delas é muito expressiva. Até porque a própria natureza psicológica feminina as impulsiona a ter essa presença frente a problemas sociais e a públicos vulneráveis que estão à margem. Culturalmente, as mulheres foram colocadas na posição de cuidado e de resiliência para atender esses públicos, como é o caso das crianças e dos idosos. Mas não é tarefa fácil.

Diria que o evento Legado Delas é uma forma de nos unirmos e trazermos para dentro desse universo pessoas que não conhecem o empreendedorismo social, mulheres que estão sofrendo discriminação e não têm apoio no mundo corporativo. Por que uma coisa que tem de ser trabalhada no ser humano é o não preconceito. Somos seres humanos querendo a mesma coisa, um mundo melhor e feliz, e todo dia acordo pensando que a diversidade é um presente do universo que não sabemos aproveitar. E o empreendedorismo social surge para provar que isso é possível.

Os melhores empreendimentos sociais são aqueles onde a diversidade atua junta, onde a transversalidade de conhecimentos e de experiências enriquece o resultado positivo desejado. No futuro, todo empreendedor será social, da mesma forma que hoje não podemos falar de desenvolvimento se não for sustentável.

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