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O Paraná registrou o saldo de 54.064 novas empresas entre janeiro e maio de 2020, um número 27% maior que o período do ano passado. Os resultados positivos podem, em um primeiro momento, surpreender, já que o cenário econômico é de incerteza por conta da pandemia do coronavírus. Entretanto, a busca pela sobrevivência na crise pode ajudar a explicar o crescimento. A facilidade para abertura de novos negócios também impulsionou a procura.

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Dados apurados pela Junta Comercial do Paraná levam em conta a diferença entre as empresas que foram abertas e as encerradas. Portanto, o número de novas constituições foi de 78.046, enquanto o de baixas 23.982 até maio deste ano. Na mesma média do ano passado, nos cinco primeiros meses de 2019 o estado contou com novos 42.640 CNPJs. Foram 76.537 novas empresas de janeiro a maio de 2019, enquanto no mesmo período do ano passado 33.897 empreendimentos encerraram suas atividades.

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Um dos motivos que podem ter impulsionado a procura pela abertura de novos negócios é o desemprego agravado pelo coronavírus. Segundo os dados divulgados no final de maio pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), apesar de ter iniciado o ano com a abertura de 17.733 empregos em janeiro e 28.128 em fevereiro, o saldo no Paraná ficou negativo em 22.424 na soma do quadrimestre. Até o momento, abril foi o mês com maior impacto no mercado de trabalho em razão do agravamento da pandemia. Em todo o Brasil, foram fechados 860.503 postos de trabalho. O Paraná apresentou 55.008 demissões.

Forçados a se virar

Marcos Rigoni, presidente da Junta Comercial, reforçou esse movimento de empreendedorismo em função da necessidade.

“As demissões aumentaram e as pessoas estão buscando constituir uma empresa, seja de micro ou pequeno porte para se manter. Sem alternativa, muitos foram forçados a se virar”, disse.

Rigoni destacou também que desde a criação do programa Descomplica, no início do ano passado, a abertura de empresas de forma on-line foi facilitada, outro motivo para o aumento. Com isso, mesmo com a Junta Comercial fechada desde março como medida preventiva ao coronavírus, os processos de abertura seguiram normalmente.

“Apesar de já existir o sistema eletrônico desde 2019, as pessoas tinham o hábito de ir pessoalmente resolver os trâmites de abertura e fechamento de empresas, o que chega a atrasar o processo. Agora ficou claro que o meio digital veio pra ficar e facilitar”, comentou.

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O Descomplica visa simplificar abertura de empresas, diminuindo a burocracia. Por meio do programa, realizado de forma 100% on-line, a Junta Comercial trabalha ligada a outros órgãos, funcionando como um integrador estadual.

Ana Cristina Mayer Santos e Rodrigo Carvalho uniram conhecimentos para formar nova empresa| Foto: Divulgação

Choro e lenço

O casal Ana Cristina Mayer Santos e Rodrigo Carvalho precisou rapidamente se reinventar após se verem sem renda como consequência do cenário econômico que veio com a Covid-19. Ela, jornalista com amplo conhecimento em marketing digital, e ele, administrador experiente na área comercial, uniram forças para criar a Namá Comunicação.

“Trabalhava no marketing de uma loja que fechou as portas por conta da pandemia. No início, trabalhei home office, mas como a loja estava sem faturamento, decidiram cortar custos e fiquei sem emprego. O Rodrigo atuava na área comercial de escola de idiomas, também fechada, e viu a demanda cair.Decidimos unir nossos conhecimentos. Ele sabe vender e eu produzir”, explicou a sócia-proprietária.

Os dois tinham consciência de que seria desafiador iniciar uma caminhada do zero, porém contaram com um momento favorável para o mercado em que atuam para fechar os primeiros contratos. Pouco mais de um mês depois iniciarem os trabalhos, eles já comemoram os clientes conquistados, prospectados pelo responsável comercial.

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“As empresas estão justamente procurando mais ainda estar na internet neste período em que as vendas físicas diminuíram. O Rodrigo sempre fala que decidimos, ao invés de chorar, vender o lenço. Mais do que nunca estar na internet se fez fundamental. Surfamos a onda”, contou a responsável pela produção conteúdo.

A Namá Comunicação se encaixa na categoria mais procurada no Paraná nos últimos meses: microempreendedor individual (MEI).  Foram constituídos 60.556 MEIs no Paraná de janeiro a maio, o que representa 79% do total de novas empresas. Também foram abertos 11.061 empreendimentos com Sociedade Limitada, 4.767 com natureza jurídica de Empresário (não MEI), 2.235 Eirelis (empresa individual de responsabilidade limitada), 172 Sociedades Anônimas fechadas, 88 cooperativas, 41 Sociedades Anônimas abertas e 27 consórcios.

Para abrir a empresa, o casal realizou o processo todo pela internet de forma rápida, como vem sendo tendência entre os empreendedores, segundo Juarez Morona Filho,Presidente do Sicontiba - Sindicato dos contabilistas de Curitiba e Região.

“Em alguns casos, conseguimos fazer o registro de empresas em até cinco minutos. Antes havia uma grande burocracia que agora já não existe”, afirmou o contador, que afirma que a demanda de trabalho no escritório aumentou desde o início do período de isolamento social com essa e outras demandas.

Legalizar a empresa em seu nome logo de início foi uma vantagem para Ana Mayer.

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“Além de seguir contribuindo, com a abertura da empresa como MEI não vou perder alguns direitos trabalhistas. Também podemos emitir notas e a taxa é de apenas R$57,25 mensais”, reforçou.

Fé no futuro

A chef de cozinha Beatriz Klug até hesitou em alguns momentos sobre se deveria seguir adiante com a ideia de abrir um restaurante por quilo no Centro Cívico em plena pandemia, o Bon Bini. Porém, acreditando que em algum momento a rotina das pessoas voltará ao normal, optou por ir adiante com o plano de iniciar o segundo estabelecimento do ramo.

“Na semana em que a pandemia começou a ficar crítica, em março, e exigir o isolamento social, fechamos negócio. Ficamos na dúvida se deveríamos assinar o contrato, mas decidimos encarar”, explicou a empreendedora, que há 15 anos mantém outro restaurante por quilo no Largo da Ordem. O novo estabelecimento passou por processo de registro e um outro CNPJ foi criado. O Bon Bini enquadra-se como pequena empresa.

Chef Beatriz Klug decidiu levar adiante novo empreendimento, mesmo em meio à pandemia| Foto: Divulgação

A chef acreditou que no máximo um ou dois meses seriam suficientes para normalizar a situação, mas apenas no dia 16 de junho – depois de 90 dias de espera – , foi possível abrir as portas.

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“Passamos por dificuldades, pois não conseguimos negociar o aluguel do imóvel. Além disso, tivemos que investir bastante. Isso nos desmotivou. Em contrapartida, conseguimos contratar quatro pessoas, esperando o início das atividades, então foi algo muito positivo saber que de alguma forma contribuímos com famílias que poderiam estar sem renda”, explicou.

Ainda que a expectativa seja de, futuramente, contratar mais quatro funcionários, por enquanto, a ideia é que o restaurante apenas se mantenha até o final do ano, sem a necessidade de demitir ninguém.

O cadastro em diversos aplicativos de entrega não tem movimentado a cozinha, pois o público-alvo do restaurante não é aquele que recebe a comida em casa. O estabelecimento fica próximo à Prefeitura e outros órgãos governamentais e, por isso, aguarda o retorno no movimento da área administrativa da cidade.

“Já passei noites sem dormir pensando na loucura que foi encarar tudo isso. Penso que não posso me endividar em um momento tão incerto na economia, mas aí o meu lado empreendedora me faz ver que lá na frente as coisas vão melhorar. Não posso deixar me abater, pois em algum momento as pessoas vão sair para comer. Acredito no meu produto e na região”, enfatizou.

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O otimismo da chef de cozinhatambém é compartilhado pela jornalista.

“Para os próximos meses a expectativa é a melhor possível. As empresas vão precisar mais se reinventar e necessitar de mais serviços para internet e rede social. Queremos futuramente expandir, quem sabe no ano que vem aumentar a equipe. Nosso pensamento é trabalhar para crescer”, afirmou.

Opinião também reforçada por Rogoni para detalhar o porquê do grande número de empresas no estado.

“Os empreendedores estão acreditando que isso vai passar e quem estiver pronto, já regularizado, estará na frente daqueles que não começaram”, finalizou.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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