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Análise

Por que a tilápia encareceu no Paraná, mesmo sendo o estado que mais produz o peixe?

Tilápia
Copacol processa tilápia produzida no Paraná (Foto: Jonathan Campos/Aen )

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Maior produtor de tilápias do país, com larga folga para o segundo colocado, o Paraná tem visto uma situação conflitante nas gôndolas. A alta no preço de insumos de produção – basicamente o custo da ração animal – e o aumento no consumo para substituir proteínas mais caras jogaram o preço do filé nas alturas para o consumidor paranaense.

No varejo do estado, o quilo do filé de tilápia bateu a média de R$ 46,28 em janeiro, segundo dados da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (Seab). Doze meses antes, em janeiro de 2020, o preço era consideravelmente mais baixo: R$ 37,90. A alta de 22% foi superior inclusive às registradas na maior parte dos cortes de carne bovina, considerada uma das vilãs na conta do brasileiro no ano que passou.

E é ainda maior se a comparação for feita com dados de meses seguintes, já que o preço do peixe chegou a baixar no primeiro semestre do ano passado. Em abril, o quilo custava R$ 33,40.

São números que surpreendem diante da abundância da produção de tilápia no Paraná. O estado é disparado o maior produtor desta espécie. Segundo dados do Anuário Peixe BR 2020, um compilado de dados do setor levantados pela Associação Brasileira da Psicultura (a Peixe BR), o Paraná produziu em 2019 um total de 146.212 toneladas de tilápia, enquanto São Paulo, na segunda posição no ranking, produziu 64.900 toneladas.

A Peixe BR deve divulgar na próxima semana o compilado de dados de 2020 e a expectativa é de uma consolidação ainda maior, já que grandes empresas no estado fizeram investimentos pesados na produção do peixe no Paraná.

Francisco Medeiros, presidente da associação, contemporiza a alta. Ele destaca que o aumento foi registrado apenas no filé da tilápia, que é um corte mais nobre e com tendência de ter preço mais elevado. “Temos que desmitificar esse processo. A tilápia não é só o filé. Tem o filé, tem a posta e tem o peixe inteiro. O filé é a parte nobre, com apenas 30% do peixe. É comparável ao filé de carne bovina; se compara aos cortes nobres de qualquer proteína animal”, diz.

“Se você for a um atacarejo e procurar preços de posta de tilápia congelada, vai ver que o custo é semelhante ao da maioria dos cortes de frango. Vai encontrar a tilápia inteira congelada a um preço de frango congelado”, destaca Medeiros.

A Seab não faz os levantamentos de outros cortes da espécie, mas, de fato, em uma pesquisa em sites de supermercados do estado, outras versões da tilápia – que não o filé – têm o preço do quilo variando entre os R$ 20 e R$ 30.

Mas e o preço do filé, por que aumentou nos últimos 12 meses? Para o presidente da Peixe BR, porque o custo da produção de proteína congelada aumentou. “As commodities encareceram e pressionaram os preços”, diz Medeiros. É que as tilápias são alimentadas com farelo de soja e milho, que também são a base da alimentação na avicultura, por exemplo. Como a produção de alimentos explodiu na pandemia, os produtores de soja e milho passaram, consequentemente, a cobrar mais pela sua produção.

Não é a única explicação. Para o economista Eduardo Ferreira, o encarecimento de outras proteínas, sobretudo a carne bovina, levou também ao aumento da procura por peixes, frangos e suínos. “Tivemos o auxílio emergencial alavancando principalmente o consumo. Claro, o consumo de alimentos também foi impactado. Mas, como a carne bovina vinha de aumentos sucessivos, é natural que as famílias optem por outras fontes. Nessa toada, vimos os preços inflacionarem para muitos grupos alimentares, incluindo os peixes”, destaca.

Embora as indústrias paranaenses tenham começado a exportar tilápia em 2020, a busca do mercado externo não teve impacto nos preços. Por enquanto, a briga ainda é doméstica.

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