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Quando são chefes, mulheres em TI ganham 70% a menos do que os homens

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Em painel temático, executivas do O Boticário, Detran, Assespro, Cinq e Agência de Desenvolvimento de Curitiba discutiram como ampliar a participação feminina no mercado de tecnologia. (Foto: Mariana Ceccon/Divulgação)

As mulheres que ocupam cargos de liderança na área de tecnologia, como diretoria e gerência, ganham salários 70% menores do que os homens. O dado é da Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação do Paraná (Assespro-PR), levantado regionalmente em parceria com a Universidade Federal do mesmo estado. A associação mostrou ainda que a disparidade no alto escalão também está na representatividade. Elas são menos de 14% dos diretores e engenheiros de computação empregados por aqui.

Buscando alterar este cenário, a associação promoveu nos últimos dias 21 e 22 o My Inova Summit, um evento anual de tecnologia, cuja grade de 2019 focou na agilidade de negócios e na promoção de diversidade nas empresas de tecnologia da informação (TI).  Ao todo, 800 profissionais participaram dos dois dias de evento.

Trazendo nomes renomados na área, a associação propôs uma agenda prática de como ampliar a participação feminina neste mercado, carente de mão-de-obra técnica. Também antecipou tendências de gestão e resultados. O Paraná S/A esteve no evento e conversou com as principais referências na área para entender o que pode ser mudado, na prática. Confira.

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Flexibilidade

Ponto central da explanação da diretora executiva da Integrow - empresa especializada em diagnóstico e implantação de programas de ética empresarial -,  Maria Fernanda Teixeira defendeu que uma forma prática de aumentar a participação feminina nas empresas é flexibilizar as formas e horas de trabalho.

“Não estamos falando de uma flexibilização apenas para a mulher e, sim, para todos os funcionários”, explicou a administradora. “Hoje é necessário criar uma mentalidade de que se o homem também não pode ter um horário flexível para levar o filho ou os pais idosos ao médico, quem assume isso é a mulher. É um paradoxo”, pontuou.   

Para a executiva, flexibilidade não é sinônimo de deixar de entregar resultados.  “Bater metas não está ligado a passar mais de 10 horas por dia sentado na mesma cadeira. As novas gerações tem isso bem claro”, pontuou.

Planos de carreira

Outro ponto abordado pela CEO da Integrow é a necessidade de desenvolver formas de contratações mais justas e a colocação da diversidade como prioridade nas políticas empresariais. “É importante entender que ainda que não estejam no cargo hierárquico mais alto, esta discussão pode partir das mulheres que ocupam o segundo escalão. A primeira coisa que eu faço ao chegar em uma empresa, seja no conselho ou diretoria, é comparar os cargos e salários", explanou.

"A partir daí é possível criar um plano de um a dois anos para sanar esta diferença. Não é algo que se faz da noite para o dia”, explicou. “Essa discussão também pode partir da área de recursos humanos. São as pessoas que detém esses dados, mas muitas vezes não tem a coragem de chegar no CEO e dizer que é necessário mudar o quadro”, comentou.

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Participação nos conselhos

Diversidade gera dinheiro. É isso que a empresária Maria Fernanda Teixeira defendeu ao sugerir, inclusive, a criação de cotas de participação feminina nos conselhos empresariais administrativos. Usando dados da instituição internacional de mapeamento do mercado de trabalho, Catalyst - responsável por identificar que quando há ao menos 33% de mulheres participando dos conselhos, o retorno das vendas aumenta 84% -, Teixeira lembrou do avanço econômico que políticas voltadas a inclusão gerariam para o Brasil.

“Se conseguíssemos igualar a remuneração e oportunidades de cargos e salários, só no Brasil o PIB cresceria 430 bilhões de dólares. Entretanto, o número de mulheres que ocupam cargos de diretoria-executiva (CEO) no país representa menos 4% do total destes postos”, lamentou.

Tomar decisões

A norte-americana Elizabeth Binning, diretora de transformação digital GrowthWheel - uma plataforma que auxilia na tomada decisões -, veio até o Brasil para participar do evento. “A primeira coisa que acho importante nos livrarmos é do pensamento vitimista. Aceitar a realidade, puxar um assento e sentar à mesa”, declarou.

Para a diretora, que atua há 20 anos no mercado de TI, a composição feminina nos conselhos administrativos traz segurança aos empreendimentos.

“Uma pesquisa conduzida em Harvard mostrou que, enquanto 67% dos homens fazem perguntas para promover a empresa, 66% das mulheres fazem perguntas preventivas, como quais impactos determinada decisão poderá gerar para os acionistas. O resultado disso é o aumento de 14 vezes a quantidade de financiamentos disponível para os negócios”, pontuou.

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Networking

my-inova-regina-arnsRegina Arns é co-fundadora do MEX Brasil. (Foto: Divulgação.)

Conversar, mostrar seu trabalho e ser lembrada nas rodas de discussão. Esse é o caminho estratégico citado por Regina Arns, co-fundadora do Espaço Mulheres Executivas (MEX Brasil) e diretora executiva da Lapidus.

“Os altos cargos são referenciados. Não é uma questão de currículo e sim estar inserida no meio”, explicou a executiva. “Reconhecemos as duplas e triplas jornadas femininas, principalmente quando passam pela maternidade. O que acontece é que quando elas saem do trabalho, o que elas acabam fazendo é ir para casa”, fundamentou.

Para Arns, conhecer pessoas e circular em encontros da área mais do que uma habilidade social é uma questão técnica e estratégica. “As mulheres passam mais pelas operações e muitas vezes deixam as funções de representação para os sócios e gerentes. É necessário entender que muito do aprendizado está mais fora da empresa do que dentro”, pontuou.

Vender os benefícios da carreira

O CEO da OBr.global e vice-presidente de Relações Internacionais da Assespro Nacional, Robert Janssen também palestrou no evento e aproveitou a oportunidade para mostrar como as empresas de tecnologia precisam utilizar os benefícios da área para atrair mão de obra feminina. Carente de profissionais especializados, o setor de TI tem dificuldade na contratação e retenção de talentos.

“As organizações, de forma geral, já perceberam nos conselhos, que a diversidade traz mais resultados financeiros. Impactam no bolso”, resumiu o empresário. “Agora é preciso que o restante do mercado perceba que se não construírem essa diversidade, vão ficar para traz. As mulheres são o motor da força colaborativa”, pontuou.

Dados levantados no primeiro semestre pela Assespro-PR mostraram que no Paraná são ofertadas periodicamente 46 mil vagas de estudo na área de tecnologia, mas apenas 26% desses postos são mantidos até o final, criando um grande déficit de mão-de-obra especializada.

“É nossa responsabilidade quanto associação preparar as empresas para o futuro, em curto prazo. Não é apenas o setor de tecnologia que tem essa disparidade entre salários e ocupação feminina, mas se aumentamos a consciência aqui, temos o poder de influenciar o mercado como um todo”, resumiu.

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