Plantar árvores agora para colher daqui uma década faz parte do dia a dia de planejamento do Grupo Santa Maria, que perfila no ranking das 100 maiores empresas do Paraná. Esse pensamento de longo prazo, exigido pelas florestas plantadas, deve pavimentar a guinada para o setor energético pretendida pela empresa familiar com sede em Guarapuava, ao celebrar 60 anos.
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Sem descuidar de seu “core business” – o reflorestamento e a produção de papéis linha branca para a indústria – a Santa Maria decidiu apostar alto no negócio de geração de energia. São R$ 750 milhões em projetos já no pipeline, com 30% de recursos próprios e 70% financiados. “Em cinco anos queremos triplicar o faturamento com energia. Significa que mais ou menos 60% a 65% de todo o Ebitda [lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização] da empresa será do setor energético. Vai acabar se tornando nosso principal negócio”, adianta Felipe Mariotto Correa, diretor de negócios de energia do conglomerado.
Atualmente, a conta de luz da Santa Maria já está mais do que “zerada”. Por meio das hidrelétricas Salto São Pedro, localizada em Pinhão, e da Usina Curucaca, em Guarapuava, e de um turbo gerador à base de biomassa, também em Guarapuava, o grupo produz o dobro do que consome e vende o excedente. “Lá no início de nossa história, acabamos entrando sem querer no mercado de energia, porque não tinha fornecimento abundante, em redes, para conectar uma fábrica”, lembra Marcelo Podolan Lacerda Vieira, presidente da Santa Maria.
Santa Maria vai construir fazenda de energia solar do PR
O próximo passo desta incursão no setor energético será dado no mês que vem, com início das obras da PCH Três Capões, no Rio Jordão. Com potência de 10 megawatts, a usina receberá investimentos de R$ 80 milhões e deve entrar em operação no segundo semestre de 2023. E no mês de junho começa, paralelamente, a instalação de uma usina de painéis fotovoltaicos. A um custo de R$ 20 milhões, será uma das maiores fazendas de energia solar do Paraná, de 5 megawatts, cobrindo uma área de 12 hectares. A previsão é que seja inaugurada ainda neste ano. “O crescimento do país traz indústrias consumidoras de energia. Para alcançarmos a meta estratégica dos próximos cinco anos, a gente precisa emendar uma obra na outra”, destaca Correa.
Emendar obra não é figura de linguagem. Antes de a PCH Três Capões ficar pronta, no ano que vem, o plano da Santa Maria é iniciar a construção de mais três pequenas hidrelétricas na região de Guarapuava – Galo Vermelho (2,8 megawatts) e Cavernoso 7 (3,3 megawatts), que estão mais adiantadas, e a Cavernoso 6 (3 megawatts), em negociação. Além disso, a empresa estuda investir numa usina eólica em Palmas e avalia a oferta de outra usina em Goiás.
Potencial de hidrelétricas no PR é um dos maiores do país
O potencial do Paraná para instalação de centrais hidrelétricas é ainda um dos maiores do país e alcança 1.700 megawatts de energia inexplorada, segundo dados da Associação Brasileira de PCHs e CGHs (Abrapch). No entanto, o estado passou quase uma década sem autorizar qualquer empreendimento, por opção política dos governos de Roberto Requião. Felipe Correa, que na época trabalhava para a Brookfield Energia (atual Elera), disse que a empresa tinha como estratégia investir no Paraná, mas desistiu devido aos entraves. “Foi o maior retrocesso na geração de energia. Ficamos oito anos parados”, aponta o executivo.
Durante encontro nacional de empresários do setor, na semana passada, o governador Ratinho Junior declarou seguir uma política diferente das de seus antecessores. “Nos últimos 16 anos foram licenciadas 12 PCHs, em apenas 3 anos emitimos 127 licenças ambientais. Isso demonstra a importância que a energia limpa e renovável tem para o nosso governo”, disse.
Uma iniciativa da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) deve ajudar a mudar esse jogo truncado para investimentos em PCHs. A agência estuda permitir a análise ambiental dos projetos já na etapa de estudos do inventário hidrelétrico. Assim, de saída o investidor terá a segurança de que o projeto sairá do papel. “Hoje ele investe de olhos vendados”, diz Correa, e só vai descobrir que o projeto é inviável ambientalmente depois de já ter gasto alguns milhões de reais.
O CEO da Santa Maria, Marcelo Vieira, comemora que atualmente é possível, pelo menos, “startar” projetos. Mas entende que há muito ainda a melhorar: “Por mais que o discurso seja ‘estamos flexibilizando’, ainda é preciso ter uma visão de longo prazo. É um processo desgastante, insano. Dez anos no mínimo para conseguir as licenças”.
“Você não monta uma matriz energética num ano, num governo. São décadas e décadas de planejamento. Tem que haver regras para investimento, respeitando as questões ambiental e fundiária, mas a política tem que propiciar ao investidor entrar nesse jogo”, destaca o executivo.
*o jornalista viajou a Guarapuava a convite do Grupo Santa Maria.
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