As usinas de etanol do Paraná não devem se beneficiar da Medida Provisória 1063/21, publicada em Diário Oficial na última semana e que permite aos usineiros vender o combustível diretamente para os postos de gasolina. Essa é a avaliação de Miguel Tranin, presidente da Associação de Produtores de Bioenergia do Estado do Paraná (Alcopar), entidade que representa o setor. Para ele, dificuldades estruturais e pouco retorno financeiro tendem a manter o produtor do estado longe da venda direta.
De acordo com o texto do governo federal, as usinas podem excluir o distribuidor da cadeia do etanol, vendendo o combustível diretamente para os postos. O Ministério de Minas e Energia justificou a medida alegando que a alteração logística iria reduzir os custos nas bombas.
A medida, no entanto, não deve pegar por aqui. "É uma demanda muito pontual das usinas do Nordeste. A grande população do Brasil está a até 100 quilômetros do litoral. A região metropolitana de Curitiba, por exemplo, tem um terço da população do nosso estado. E as usinas do Nordeste ficam no litoral. Em princípio isso levaria a uma pequena redução no custo do frete. Diferentemente daqui, onde as usinas ficam mais em Maringá e nas cidades do Norte e Noroeste, a 400, 500 quilômetros do litoral", diz.
"Uma usina que viabilize colocar um caminhão daqui até lá, muito provavelmente não irá gerar tanta receita. Talvez nem dê muito resultado", diz o presidente da Alcopar, que acredita que não aponta ganhos no repasse dos custos logísticos de um distribuidor para o produto. “Como é uma medida que deve ser facultativa, não creio em uma correspondência das usinas do Paraná. Acho que não terá uma aderência”, indica.
Tranin indica que outros pontos ainda dificultam o interesse pelo modelo de venda. "Outra questão é a tributação. No combustível tem imposto na usina, na transportadora e nos postos. Tem tributos federais e estaduais. Como ficaria essa tributação. Se ficar toda para a usina, nós não somos solidários a isso. A responsabilidade de cada um tem que continuar", diz. “E tem várias questões. O posto vai comprar isso? De quem será levado? E a gasolina e o diesel, ele compra de quem? É um pouco complexo para se efetivar", aponta.
Produção de cana cai e usinas apostam em "etanol para gasolina"
Com a pandemia e a estiagem afetando os resultados das plantações de cana-de-açúcar, as usinas do Paraná deixaram como secundária a produção do etanol hidratado (aquele usado para abastecer os carros) e passaram a investir mais em etanol anidro, que é uma mistura obrigatória na gasolina brasileira. Pela legislação, a gasolina leva em sua mistura 27% do composto).
O setor previa para o Paraná uma safra de 34 milhões de toneladas de cana, mas revisou suas estimativas pelas condições climáticas e restrições da pandemia. Com isso, a safra deverá ser de 30 milhões de toneladas.
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