“Tenho medo que tomem os meus programadores e não os meus clientes”, desabafa o CEO das empresas curitibanas Gestran e FreteFy, Paulo Cézar Raymundi. “Em três anos os salários dos meus funcionários subiram 50% e mesmo assim não conseguimos manter o pessoal”, comenta, preocupado com a projeção de seus negócios voltados ao desenvolvimento de tecnologia para a área de transportes e logística.
Ele não está só. A ressalva do empresário é uma constante na vida de quem empreende na área. Onde conseguir mão de obra qualificada para ocupar as quase três mil vagas em aberto, somente no Paraná?
Essa e outras estimativas sobre o mercado foram identificadas pela Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação ( Assespro), em parceria com o Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Eles usaram como base o boletim de Evolução Mensal do Emprego em TI e o Insight Report: Panorama do Setor de TI, para produzir as análises.
Juntas, as duas entidades reuniram dados do setor que mostram não só o déficit na ocupação de vagas, como também a tendência de terceirização na área.
"Hoje, 80% das empresas que prestam serviços em TI afirmam não possuir nenhum funcionário especializado contratado formalmente, mostrando que a mão de obra empregada é constituída em sua maioria por autônomos terceirizados", mostra a pesquisa.
Empregabilidade
Por outro lado, a empregabilidade nunca esteve tão alta. Entre maio de 2018 e abril de 2019, o número de vagas criadas no estado subiu 9,3%, índice quase oito vezes maior do que o mercado comum. Somente em abril, o estado encerrou o período com um saldo positivo de 171 vagas na área.
“O nosso desafio é enorme, porque precisamos, através de políticas públicas, formar profissionais mais capacitados desde o ensino básico, com um reforço ao ensino de matemática, estatística, lógica e inglês”, comenta o presidente da Assespro, Adriano Krzyuy. “Ao chegar a faculdade, sem essa base, o aluno desiste, não consegue terminar o curso e criamos esse hiato gigantesco de vagas”, explica.
O presidente faz referência ao índice baixo de alunos que conseguem se formar. No Paraná são ofertadas periodicamente 46 mil vagas de estudo na área, mas apenas 26% desses postos são mantidos até o final.
“São profissionais que precisam de uma constante atualização. Estamos falando de blockchain, internet das coisas, desenvolvimento Cloud, entre outras. Se não existir a prática, não adianta apenas estar qualificado. É necessário um trabalho de sensibilização grande para atrair os jovens para essa área”, arremata Krzyuy .
“O Brasil é um grande consumidor de tecnologia, mas precisamos de desenvolvedores, estamos ficando para trás”, lamenta o presidente do órgão.
Salários formais em TI não são atrativos
Apesar da alta procura por profissionais na área, a média salarial no Paraná não é das mais atrativas. O estado ocupa o 11º lugar no ranking das localidades que pagam melhor aos funcionários da área, com remuneração média de R$ 4 mil mensal aos trabalhadores celetistas. No topo do ranking está São Paulo, com salários até 55% maiores do que os praticados no Paraná.
A explicação, de acordo com os especialistas na área, passa por diversos fatores. “Nas posições mais altas temos estados como Rio de Janeiro, ou Distrito Federal, que possuem um custo de vida maior, então os salários são mais altos em todas as áreas, não só TI”, pontua o professor de economia da UFPR, Victor Pelaez.
“Por outro lado, estados como Amazonas, Bahia e Mato Grosso estão em nossa nossa frente por uma combinação de escassez de mão de obra e presença de estatais fortes nessas regiões, que conseguem manter salários mais altos” comenta Pelaez.
Outro fator preponderante para empurrar o Paraná para baixo no ranking é a formação dos profissionais da área. Aqui, 70% da mão de obra possui grau de tecnólogo e não bacharelado, enquanto a média nacional é de 40%. “Isso é explicado pela oferta das instituições e as modalidades de EAD (Ensino à Distância). Somos o estado que mais forma profissionais, depois de São Paulo”, arremata o docente.
Realidade de autônomos é diferente
Apesar da pesquisa salarial, realizada com base em dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), apontar uma média em torno dos R$ 4 mil, a realidade do mercado é outra. Com as altas taxas de terceirizações e emprego de “pejotistas”, os ganhos mensais dos profissionais ocupam uma faixa salarial mais alta.
“Com menos de R$ 4,5 mil eu não consigo contratar sequer um programador júnior”, admite o CEO, Paulo Raymundi. “O salário de funcionários plenos, praticados pelo mercado, gira em torno de R$ 7 mil. A partir de R$ 10 mil começamos a inviabilizar o serviço para o cliente final, porque a hora de trabalho de um profissional desses fica muito alta”, comenta.
O estudo realizado pela Assespro e pela UFPR apontou ainda que as áreas que mais crescem em número de vínculos empregatícios formais na área são os segmentos de provedores de conteúdo, serviço de internet e suporte técnico e manutenção. Na outra ponta, cai o interesse para contratação formal nas áreas de consultoria em tecnologia e tratamento de dados.
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