Flávia Silveira, especial para Gazeta do Povo
Identificar o problema e transformá-lo em uma oportunidade é um dos caminhos para o empreendedorismo. Foi assim que surgiu a Pegaki, empresa que é uma alternativa para os Correios ao criar uma rede de pontos de retirada para compras realizadas pela internet. Depois de São Paulo e Rio de Janeiro, a Pegaki desembarcou em Curitiba há pouco mais de um mês.
Funciona assim: quando o usuário vai finalizar a compra em um e-commerce conveniado, na hora de escolher a modalidade de frete, pode optar por retirar em um dos pontos que trabalhem com a Pegaki. As opções que aparecem são as mais próximas do CEP informado pelo consumidor.
Já são 10 pontos credenciados, em Curitiba. O plano é fechar o ano com cem. No Brasil todo, são mais de 300 locais de retirada, entre hotéis, lavanderias, lojas de conveniência, papelarias e outros, em São Paulo e no Rio de Janeiro. A Pegaki espera fechar 2018 com pelo menos mil pontos de retirada, operando nas principais capitais do país. Alguns exemplos dos pontos credenciados são Accor Hoteis, lavanderia 5àSec e o Carrefour, este último apenas em São Paulo, por enquanto.
Para se tornar um pick up point, como é chamado em inglês, o estabelecimento deve ter um espaço ocioso de no mínimo 1m³ para armazenar as encomendas, e cumprir alguns requisitos, como horário de atendimento estendido (após 18h), abrir aos finais de semana, possuir fácil acesso (facilidade para estacionar, por exemplo) e estar em uma boa localização. O cadastro é feito no site da Pegaki, e depois de avaliados os critérios de seleção, existe um treinamento da equipe do novo credenciado.
Quando a transportadora entrega a encomenda no ponto de retirada, o comerciante registra no sistema Pegaki o recebimento e automaticamente uma mensagem via celular e um e-mail é enviado ao cliente, que tem sete dias para retirar sua compra, apresentando um documento de identificação. Até o momento da retirada, as mercadorias também têm seguro.
Ideia surgiu em Blumenau
Fundada por três sócios, João Cristofolini (CEO), Ismael Costa (CTO) e Daniel Frantz (COO), a ideia surgiu quando Frantz, dono de um e-commerce, começou a ter problemas com os serviços de entrega e, consequentemente, sua empresa passou a receber avaliações negativas e reclamações. Cristofolini e Frantz se juntaram e começaram a observar o que havia de soluções fora do país, e então surgiu a Pegaki, primeiro com um piloto em Blumenau, onde vivem os sócios, e depois indo para São Paulo e Rio.
“Nosso objetivo é solucionar o problema da não entrega, seja porque a pessoa não está em casa, o prédio não tem porteiro ou ele não pode receber encomendas, por exemplo. Trabalhamos com o conceito de economia compartilhada, e com isso todos saem ganhando”, explica João Cristofolini.
Ajuda nas vendas dos postos de coleta
O aumento de fluxo de pessoas nas lojas físicas é uma das vantagens apontadas por Cristofolini. Cerca de 30% dos consumidores que vão para buscar a encomenda acabam fazendo uma nova compra no ponto de retirada, segundo o empresário. “Ajudamos a divulgar o estabelecimento, o que pode gerar novos clientes e novas vendas. Tudo isso sem custo para a loja, que ainda recebe uma comissão (R$0,50 por entrega recebida)”, conta.
Um exemplo que o CEO dá é das lavanderias parceiras. Um dos e-commerce que trabalha com a Pegaki é a Dafiti, que comercializa roupas, sapatos e acessórios. “As lavanderias acabam aproveitando um dos nossos pontos fortes, que é a moda, e o interesse do cliente pelo assunto e oferecem um cupom de desconto”, exemplifica.
Vantagens para lojas e clientes
Para as lojas virtuais, a vantagem é oferecer uma solução para o problema das entregas, uma vez que o descontentamento dos clientes com atrasos, desvios ou extravio das compras é um dos principais motivos de reclamação e avaliação negativa. “A entrega é mais rápida, pois concentra em um local só várias encomendas, o que também ajuda a diminuir os custos com transporte”, afirma Cristofolini.
Por fim, o CEO aponta a comodidade maior para os clientes, que podem escolher o local e horário mais conveniente para a retirada da encomenda. Com a diminuição dos custos com transporte para o e-commerce, Cristofolini acredita que, a médio ou longo prazo, será possível que o frete se torne mais barato. “Pode haver uma redução entre 20% e 30% no custo para o consumidor final, dependendo do volume da compra”, aponta.
A Pegaki também trabalha com logística reversa, quando o consumidor precisa devolver o produto comprado. Até então, este tipo de serviço dependia dos Correios, e o cliente precisava ir até uma agência para isso. “Ainda estamos em fase de testes em São Paulo e Rio, mas logo devemos disponibilizar também em Curitiba”, conta o CEO.
Investidores de olho
Em 2016, a Pegaki recebeu R$ 100 mil da Cotidiano Aceleradora, de Brasília. No ano seguinte, a empresa levantou mais R$ 360 mil via EqSeed, uma plataforma que conecta startups e investidores. “O segundo aporte foi levantado em apenas nove dias, o que se tornou o case mais veloz da fintech e um marco para o equity-crowdfunding brasileiro”, ressalta Cristofolini.
E a Pegaki segue chamando a atenção de investidores, e um terceira captação deve ser anunciada ainda em 2018. “Os três sócios têm experiência e perfil empreendedor, e o potencial disruptivo do modelo de negócio vem despertando o interesse dos investidores”, considera o CEO, que além da Pegaki, é escritor com seis livros publicados, palestrante e apresenta um famoso podcast sobre negócios.
A sede da empresa segue em Blumenau, com uma enxuta equipe de dez pessoas. Nas cidades onde opera, há também uma equipe móvel tanto comercial, como para o treinamento das equipes nos pontos de retirada.
A Pegaki já intermediou a entrega de mais de 10 mil pedidos. Para Cristofolini, o negócio aponta para uma tendência irreversível em um mercado em crescimento em todo mundo. No Brasil, grandes redes como as comandadas pela Via Varejo começaram a oferecer, neste ano, a opção de retirada como alternativa de entrega. 20% das lojas que possuem loja virtual e física já oferecem este tipo de escolha para o cliente.
Lá fora, este tipo de negócio já está mais desenvolvido. Só em 2017, Europa, Estados Unidos e China somaram cerca de 40 mil pontos de retirada, média de 300 mil pacotes por dia, o que equivale à 40% de todas as compras online.
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