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Sudoeste do Paraná aposta na industrialização do leite para encher o bolso

Sudoeste busca industrialização para agregar valor à produção leiteira (Foto: Daniel Caron/Arquivo/Gazeta do Povo)

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No início de dezembro, os menos de 10 mil habitantes do pequeno município de São Jorge D’Oeste ouviram pela primeira vez os maquinários trabalhando na construção daquela que será a maior fábrica de queijos do Brasil. Obviamente, a escolha da cidade para receber a nova indústria da Piracanjuba, principal marca do grupo goiano Laticínios Bela Vista, não foi à toa. Maior bacia leiteira do Paraná e uma das principais do país, o Sudoeste do estado vem se firmando também como a região dos laticínios - indústrias que agregam valor ao produto e transformam a economia local.

A planta da empresa goiana, prevista para ficar pronta em dois anos, fortalece um ecossistema regional capaz de produzir 1 bilhão de litros de leite por ano (cerca de 9% do volume nacional), a maior parte disso por pequenos produtores. Tal abundância tem atraído mais indústrias para a região. Em 2010, eram nove; em 2020, passaram para 11, segundo dados da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep). No Paraná todo, são 68.

Essas indústrias transformam o leite em produtos como manteiga, leite condensado e, principalmente, queijo (que responde por cerca de 50% da produção). E, claro: geram empregos. Ainda de acordo com dados da Fiep, os laticínios empregavam 148 pessoas diretamente há 11 anos. Pelos dados de 2020, são mais de 300. A nova fábrica na região deve elevar esse número para cerca de 550 postos de trabalho.

Mesmo produzindo há relativamente pouco tempo, cerca de quatro décadas, os números de ordenha colocam o Sudoeste paranaense à frente dos Campos Gerais, outra região leiteira importante (e mais antiga) do estado. Na industrialização, o Sudoeste está chegando ao mesmo patamar.

“O Sudoeste do Paraná tem o clima e um relevo muito propício para o leite. Para nós, também é muito importante a questão da água, já que uma indústria de alimentos não funciona sem esse recurso. Devido ao potencial da região, ela foi a melhor opção para a construção da nova fábrica de queijos. O local está sendo planejado de acordo com os critérios ambientais, de respeito ao meio ambiente e com tecnologia compatível para a produção sustentável”, disse em comunicado o superintendente da Piracanjuba, Cesar Helou.

Ronei Volpi, presidente da comissão técnica de pecuária de leite da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), liga o crescimento industrial local à grande produção leiteira e ao perfil dos atuais laticínios na região. "A região dos Campos Gerais já está abastecida por duas grandes indústrias: a Frísia e a Castrolanda. Tem uma pequena indústria em Witmarsum. Tem também uma grande indústria, em Ipiranga, da Tirol. Se eles [as novas indústrias, como a Piracanjuba] se metem nos Campos Gerais, a concorrência é muito maior. Em termos logísticos, claro que seria melhor a região dos Campos Gerais, pela distância do Porto e do mercado consumidor [principalmente São Paulo], mas a disputa pelo leite seria também muito maior", avalia.

Com isso, o Sudoeste tem se beneficiado e atraído os investimentos. "A industrialização cresceu muito [nos últimos anos]. Tem novas unidades como a da Confepar, em Pato Branco, da Laticínios HE em Coronel Vivida. A indústria está chegando lá como uma frente para esse volume todo [produzido]. O que é ótimo para nós. Quanto mais indústrias, é mais gente consumindo nosso produto. Vamos a longo prazo ter um valor agregado maior", diz Volpi.

Fortalecer a industrialização das regiões na produção leiteira é para Evanio Felippe, economista da Fiep, importante para o estado. "A indústria paranaense do leite tem uma importância no cenário nacional. No Brasil, estamos em segundo lugar em número de estabelecimentos industriais no Brasil [atrás de Minas Gerais e empatados com São Paulo] e em terceiro em geração de empregos [atrás de Minas e São Paulo]. Para a economia paranaense esse setor também tem uma importância muito grande. É uma atividade que depende, por exemplo, da pecuária. Então ela move uma cadeia muito grande, levando a geração de emprego, renda, o aumento das riquezas geradas no Paraná", define.

Números da Fiep apontam que, em 2019, dado mais recente, os laticínios representaram 9,2% do PIB da indústria de alimentos do Paraná, que é uma das mais fortes das Américas. Se levar em conta toda a indústria (incluindo o setor automotivo, por exemplo), o percentual é de 2,9%.

Produção de leite lida com custos altos de insumos 

Apesar da caminhada de crescimento, a produção de leite tem sofrido com o custo alto nos últimos dois anos. A competição com o mercado externo para comprar soja, alimento básico na ração dos bovinos de leite, elevou os preços no campo, fazendo muitos produtores abandonarem o segmento e muitos outros operarem no vermelho.

"É uma série de pontos históricos e da conjuntura desse momento. Alguns insumos encareceram muito. Como a soja. Estão vendendo três vezes mais caro em relação ao preço que tinha há dois ou três anos. Os custos ficaram altos. O produtor está trabalhando quase na faixa do vermelho. E com um agravante: o mercado externo para o leite é muito pequeno. E na balança comercial somos mais importadores que exportadores", defende Volpi.

Ainda assim, ele aposta suas fichas na industrialização e acredita que, em cinco anos, o Paraná estará tratando o leite “como a carne suína” - a proteína é um dos principais produtos de exportação no estado.

Fábrica da Piracanjuba deverá começar a operar em dois anos  

Em São Jorge D'Oeste, a Piracanjuba espera começar a produzir no nova fábrica, em sua primeira etapa, no começo de 2024. A indústria, com capacidade de processar 1,3 milhão de litros de leite por dia, começará produzindo queijo mussarela e manteiga e, posteriormente, terá um espaço para secagem de soro e uma fábrica de leite longa vida (UHT). A planta criará 250 novos empregos no município, que hoje dependente da atividade agrícola.

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