Parar de esperar que doentes crônicos tenham uma crise - e precisem de atendimento de urgência - e passar a monitorar a saúde dessas pessoas rotineiramente. Essa é a proposta da startup curitibana PGS Medical para reduzir em até 90% o atendimento em prontos-socorros do SUS (Sistema Único de Saúde) e 65% das internações de pessoas diagnosticadas com doenças como obesidade, hipertensão, diabetes e Alzheimer.
A solução parece óbvia para quem é partidário da atenção básica e conhece o trabalho das equipes da Saúde da Família, por exemplo. Prevenir é sempre melhor do que remediar. Mas para os fundadores da empresa de parceria público-privada, o que falta nesta equação lógica é algo tão básico quanto: tecnologia.
É por isso que a startup dedicou-se a desenvolver um sistema que envolve desde triagem desses pacientes com prioridade em realização de exames, até organização de agenda de atendimentos e uso de inteligência artificial para determinar protocolos de cuidados personalizados, inclusive em caráter domiciliar.
“O Brasil tem 40 mil equipes da Saúde da Família com esse propósito [prevenção]. São profissionais incompetentes? Não. Quando muito, trabalham com planilhas virtuais para acompanhar os pacientes crônicos, uma ferramenta que nem de longe é adequada para desenvolver uma linha de cuidados”, conta o diretor da PGS Medical, Wagner Marques.
“Com a tecnologia aplicada conseguimos aumentar não só a produtividade desses profissionais, como baixamos as internações e liberamos as unidades de emergência para outros tipos de atendimento, com melhor qualidade”, afirma Marques.
“Conseguimos quebrar o círculo vicioso de muitos pacientes crônicos que desenvolvem uma rotina de internações e tem dificuldade de aderir a um tratamento", pontua.
O gestor da empresa calcula que, em média, o custo de implementação desse sistema é de R$ 406 por ano, por paciente que esteja dentro desse perfil de atendimento. O valor, segundo ele, pode chegar a ser até 11 vezes menor do que o custo que um doente crônico proporciona ao SUS durante o mesmo período, sendo atendido de forma precária.
“Em Curitiba, por exemplo, a estimativa é gerar uma economia de até R$ 260 milhões”, garante Marques.
De acordo com a PGS, que há uma década já oferecia esse sistema em escala menor para unidades de saúde privadas, o mesmo protocolo de atendimento e acompanhamento personalizado pode ser implantado a outros grupos de atenção especializada, como gestantes, por exemplo.
Em Alagoas, sistema reduziu espera em UPA
A tecnologia está sendo colocada a prova em Penedo, Alagoas. Há um ano a startup estacionou por lá, aproveitando o novo marco de Ciência, Tecnologia e Inovação, para firmar parceria com a prefeitura do município. Testada inicialmente em um grupo de 30 pacientes, hoje o sistema da PGS já atende 400 habitantes, graças aos números surpreendentes do programa.
“Hoje eu não tenho mais estrangulamento no atendimento básico”, garante o prefeito da cidade Marcius Beltrão (PDT).
“A espera média nas unidades para pulseira verde (pouco urgente) é de no máximo 40 minutos. Não é apenas o município que economiza, mas também o Estado e o governo federal, porque os atendimentos de alta complexidade são reduzidos quando há esse acompanhamento”, pontua.
“Além da redução de internações em quase 60%, também consegui aumentar em 30% o número de pacientes com câncer que atendemos, porque fazemos diagnósticos mais rápidos e aumentamos as chances de cura”, finaliza.
O diretor médico do Conselho Regional dos Secretários Municipais de Saúde do Paraná, Darci Martins Braga, disse que há uma sinalização do governo estadual para que a tecnologia curitibana seja aplicada em sua terra natal.
“Confesso que meus 30 anos de trabalho em saúde pública me gabaritam para dizer que essa tecnologia revoluciona a nossa forma de atender. Ao meu ver não vamos ter como não incorporá-la em algum momento”, arremata.
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