“Não é logo a saudade/ das terras onde nasceu/ a carne, mas é do Céu,/ daquela santa cidade,/ donde esta alma descendeu.”
(Luís Vaz de Camões)
Era 24 de fevereiro de 2022 e meu coração estava triste. Um mês antes, havíamos perdido nosso querido mestre Olavo de Carvalho. Ele morrera no dia de São Francisco de Sales, padroeiro dos escritores e jornalistas. Naquela quinta-feira de tristeza, eu faria uma palestra em homenagem ao Olavo, buscando definir a importância que ele teve em minha vida e na vida de tantas pessoas. No entanto, para aumentar minha angústia, Vladimir Putin — sobre quem Olavo tanto alertava — havia ordenado a invasão da Ucrânia exatamente no dia da palestra.
Eis que recebo uma mensagem da minha amiga e leitora Nara. Ela manifestava sua vontade de ir à palestra, mas me perguntava se poderia levar a filha recém-nascida, Maria. Minha resposta foi a seguinte:
— Só deixo você assistir à palestra se você me deixar fazer uma foto com a Maria.
Dito e feito. Aqui está a foto:
Na imagem, Maria está nos braços de sua madrinha, Fernanda; minha amiga e leitora Nara, a mãe da Maria, é a primeira à esquerda.
Durante a palestra, que durou mais de duas horas, Maria comportou-se muito bem. Só teve que sair uma vez para mamar. Confesso que a presença dessa linda recém-nascida foi para mim um motivo de grande alegria e paz de espírito. Era como se Deus tivesse enviado aquela sua filhinha para acalmar o meu coração.
Dois anos e meio depois daquela noite, a pequena Maria nos deixou. A morte de uma criança sempre é uma notícia devastadora; quando eu soube da tragédia, imediatamente pensei em meu encontro com Maria e sua jovem mãe.
A palavra recordação evoca tudo aquilo — imagens, emoções, presenças — que guardamos no coração
Durante esses 30 meses, a pequena Maria — que depois encontrei várias vezes, quase sempre durante a missa — esteve constantemente ali, entre as memórias que conservamos como preciosidades de nossa alma. A presença daquela criança vivia em alguma parte valiosa do meu ser, ao lado das cenas da minha infância, de meus pais, de Vó Maria, de Vô Briguet, do Pai Costa (meu bisavô menino abandonado no Brasil) e do professor Olavo parando tudo que estava fazendo para brincar com os netinhos na Virgínia.
Tenho algumas poucas e fundamentais certezas na vida; uma delas é a de que o bebê que conheci naquela noite, em 24 de fevereiro de 2022, a pequena Maria, hoje está na presença de Deus, na plenitude da idade (a idade de Cristo), intercedendo por todos que aqui ficaram: seus pais, irmãozinhos, padrinhos, amigos e um cronista de sete leitores que hoje publica esta crônica-oração de saudade.
Pequena e santa Maria, rogai por nós!
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