Fotos do ex-líder chinês Mao Zedong junto com fotos do presidente chinês Xi Jinping em exposição.| Foto: Andres Martinez Casares/EFE/EPA
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A perseguição religiosa — especialmente contra os cristãos — é uma característica de todos os regimes socialistas ao longo da história. Como ocorre em qualquer realidade política, essa perseguição foi precedida por elaborações intelectuais.

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Em 1844, Karl Marx escreveu: “A religião é o ópio do povo. A abolição da religião como felicidade ilusória é o que falta para sua verdadeira felicidade”. 

Em 1909, oito anos antes de liderar o golpe bolchevique e instaurar o primeiro estado socialista da história, Vladimir Lênin afirmou: “O marxismo considera sempre que todas as religiões e igrejas modernas, todas e cada uma das organizações religiosas, são órgãos da reação burguesa chamados a defender a exploração e embrutecer a classe operária. (...) Devemos lutar contra a religião. Isto é o abc de todo materialismo e, portanto, do marxismo”. 

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Vinte anos depois da Revolução Russa, na época do Grande Terror de Stalin, o papa Pio XI escreveu na encíclica “Divinis Redemptoris”: “(....) onde quer que os comunistas conseguiram radicar-se e dominar, — e aqui pensamos com particular afeto paterno nos povos da Rússia e do México, — aí, como eles próprios abertamente o proclamam, por todos os meios se esforçaram por destruir radicalmente os fundamentos da religião e da civilização cristãs, e extinguir completamente a sua memória no coração dos homens, especialmente da juventude. Bispos e sacerdotes foram desterrados, condenados a trabalhos forçados, fuzilados, ou trucidados de modo desumano; simples leigos, tornados suspeitos por terem defendido a religião, foram vexados, tratados como inimigos, e arrastados aos tribunais e às prisões”. 

É interessante notar que nas grandes distopias literárias aqueles livros que profetizaram o nosso tempo, tais como “1984”, “Admirável Mundo Novo” e “Fahrenheit 451” —, a concepção de Deus foi apagada dos corações humanos.

Em todos os regimes distópicos, tanto os da literatura quanto os da realidade, a fé em Deus é substituída pela religião do Estado e do materialismo

Em regimes comunistas, a repressão à prática religiosa não é apenas uma questão de controle social, mas uma tentativa de erradicar qualquer forma de crença que possa desafiar a autoridade do Estado, resultando em uma realidade distópica onde a liberdade de crença é severamente limitada.

Na China contemporânea, onde a ideologia do Partido Comunista Chinês (PCC) permeia todos os aspectos da vida, a religião se tornou um campo de batalha. O que antes era um espaço de fé e espiritualidade agora é um território de controle e repressão.

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Uma recente onda de medidas que visam a “sinicização” da religião revela um cenário distópico, onde imagens de Jesus e Maria são retiradas por retratos de Mao Tsé-tung e Xi Jinping nas igrejas. 

Foi isso mesmo que vocês sete leram: as figuras do maior assassino de todos os tempos e o mais poderoso ditador contemporâneo substituíram os ícones de Nosso Senhor Jesus Cristo e da Virgem Maria. 

Essa transformação não é apenas simbólica; é uma declaração de guerra contra a espiritualidade e a liberdade de crença.

A constituição da República Popular da China menciona a liberdade de crença religiosa, mas essa liberdade é rapidamente limitada pelas regulamentações que definem o que constitui uma “atividade religiosa normal”. 

O governo reconhece apenas cinco religiões oficiais, e qualquer grupo que não se enquadre nessas categorias é considerado ilegal. Assim, a prática religiosa é restrita a um espaço controlado, onde o clero deve prometer lealdade ao PCC e resistir a qualquer forma de “ideologia extremista”. A liberdade de culto, portanto, é uma ilusão, uma fachada que esconde a verdadeira face da ditadura comunista.

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Um recente relatório da Comissão dos Estados Unidos para a Liberdade Religiosa Internacional (USCIRF), publicado no último dia 5, revela a profundidade da perseguição religiosa na China. Igrejas são obrigadas a remover cruzes e substituir imagens de santos por ícones do partido. 

A propaganda do PCC se infiltra nas doutrinas religiosas, transformando cultos em reuniões de doutrinação ideológica. A imposição de slogans do partido durante os cultos é uma forma de garantir que a fé não se sobreponha à lealdade ao Estado. 

O que antes era um espaço sagrado agora se torna um palco para uma ideologia marxista, onde a espiritualidade é sacrificada em nome da política.

A chamada “sinicização” da religião não se limita ao cristianismo. Muçulmanos, budistas e taoistas também enfrentam a pressão do governo para se conformarem aos valores do PCC. A erradicação de elementos religiosos considerados incompatíveis com a agenda do partido é uma prática comum, e a vigilância sobre as atividades religiosas se intensifica. 

As igrejas domésticas, que operam fora do controle estatal, são alvo de fechamentos e prisões, enquanto os líderes religiosos são monitorados e assediados.

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A repressão religiosa na China é uma distopia em ação. A liberdade de crença é sistematicamente violada, e a ideia de um espaço sagrado é destruída

A substituição de imagens de Jesus e Maria por figuras políticas não é apenas uma questão de estética; é uma tentativa de desumanizar a fé e transformar a espiritualidade em uma ferramenta de controle.

Uma religião que deveria ser um refúgio de esperança e amor é transformada em um instrumento de opressão.

Os relatos de cristãos que enfrentam assédio e perseguição são alarmantes. Muitas são convidadas a se reunirem em segredo, em locais clandestinos, enquanto suas opiniões são ridicularizadas e suas práticas, criminalizadas.

A polícia interrompeu cerimônias e reuniões, e as igrejas de várias denominações são alvo de discriminação e violência. A repressão se estende até as crianças, que são proibidas de receber educação religiosa, uma tentativa de erradicar a fé desde a infância.

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Mas não pensem vocês, meus sete leitores, que o Ocidente está livre da perseguição anticristã. 

O governo da Escócia acaba de promulgar uma nova lei proibindo atividades que “causem incômodo” nas proximidades de clínicas de aborto. 

A distópica Lei dos Serviços de Aborto de 2024 — que parece extraída de uma página de “O Senhor do Mundo” ou “Moscou 1979” — estabelece “zonas de acesso seguro” em um raio de 200 metros em torno dessas clínicas nefastas. 

Isso quer dizer que os moradores vizinhos estão proibidos de realizar qualquer ação que possa causar desconforto ou angústia a equipes médicas, ou pacientes dessas clínicas – incluindo orações dentro de casa que possam ser ouvidas do exterior. Até mesmo exibir versículos bíblicos ou orar numa janela visível da rua pode ser interpretado como uma infração.

A Sociedade para a Proteção dos Nascituros da Escócia criticou a nova lei, chamando-a de “profundamente orwelliana”. 

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No Brasil, os recentes episódios de censura ao Frei Gilson e ao Instituto Hesed mostram que os perseguidores estão prontos a agir contra nossa fé.

Na semana passada, o Ministério Público de Pernambuco abriu um procedimento administrativo para fiscalizar a prática dos chamados “intervalos bíblicos” em escolas estaduais do município de Goiana, após denúncias feitas pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco. 

É isso mesmo que vocês leram, meus sete amigos: os sindicalistas e os promotores querem proibir a leitura da Bíblia nos intervalos de aula. Como se não houvesse problemas e escândalos no sistema escolar, eles estão preocupados em censurar Cristo.

Marx e Lênin aplaudiriam.