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“Sabemos que tudo coopera para o bem daqueles que amam a Deus.” (Romanos 8, 28)
Decidi fazer esta primeira crônica de 2025 em homenagem a dois jovens amigos que tenho no Céu: Karoline Verri Alves e Luan Augusto da Silva. Embora jamais os tenha encontrado pessoalmente, sinto como se os tivesse conhecido há muito tempo, em algum recôndito da infância. Talvez a Karol e o Luan já estivessem guardados no cofre daquelas imagens que carregamos no coração, presenteadas por Deus. A infância espiritual desconhece diferenças de tempo e espaço. Eles tinham idade para ser meus filhos, mas aqui eu os chamarei de amigos.
Naquele fatídico 19 de junho de 2023, um ex-aluno do Colégio Estadual Helena Kolody, em Cambé, obteve acesso ao ambiente escolar e, encontrando-se armado, começou a atirar contra um grupo de alunos que conversava no intervalo das aulas. Karol e Luan estavam lá – e infelizmente não havia ninguém para protegê-los. Luan foi o primeiro a ser atingido; permaneceu em estado grave, vindo a falecer mais tarde no hospital. Em seguida, Karol foi baleada e perdeu sua vida no mesmo instante. Embora suas vidas tenham sido interrompidas de um modo tão brutal e precoce, a partir desse acontecimento trágico o exemplo de fé e testemunho do jovem casal de namorados vem sendo compartilhado e tem tocado o coração de inúmeras pessoas.
Karol e Luan eram católicos devotos, pertenciam à Paróquia Santo Antônio de Cambé, participavam da Comunidade Nossa Senhora do Divino Amor e do Grupo de Jovens Ilummi, frequentavam os sacramentos, eram alunos do meu querido amigo e irmão Bernardo Pires Küster e procuravam uma vida de santidade. No sábado anterior à tragédia que tolheu suas vidas, o dia do Imaculado Coração de Maria, eles se confessaram. No domingo, receberam a comunhão, o que nos permite supor, com grande esperança, que ambos morreram em estado de graça e agora habitam o Coração de Jesus Cristo. Aqueles que conviveram com Karol e Luan não hesitam em dizer que nós ganhamos dois santos no Céu. E eu acho que eles estão certos.
A infância espiritual desconhece diferenças de tempo e espaço. Karol e Luan tinham idade para ser meus filhos, mas aqui eu os chamarei de amigos
A santidade é aquilo que o demônio mais odeia. Como o inimigo não pode criar nada, ele procura destruir a criação de Deus e bloquear todos os caminhos que conduzem à salvação eterna. Karol e Luan eram exemplos de busca pela santidade em um mundo que faz a apologia do pecado e glamouriza a desobediência a Deus – e exatamente por isso eram vítimas preferenciais do demônio. Ele não suportava o que Karol e Luan eram, o que eles são. O professor Olavo de Carvalho ensinava que tudo aquilo que acontece, nem que seja por uma fração de segundo, já está na eternidade, nunca mais voltará a não ser. O diabo odeia essa qualidade irreversível do ser, porque ele nada pode fazer contra ela, exceto revoltar-se e remoer-se para sempre. Mas o motivo que faz o diabo odiar os santos é o mesmo que faz Deus amá-los: por isso, Ele os chama de volta às vezes tão cedo.
O Apóstolo escreveu na Carta aos Tessalonicenses: “Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus, em Cristo Jesus, a vosso respeito”. Confesso que muitas vezes, em meu processo de conversão, tive dificuldade em compreender essa necessidade de dar graças a Deus mesmo nos momentos de dor mais profunda. Pensava particularmente no caso dos pais e mães que perdem seus filhos – uma dor tão grande que para ela não existe nome. Até que um sacerdote sábio me disse com simplicidade: “O próprio Deus entregou a vida do seu Filho”. E subitamente as coisas se tornaram mais claras.
Na antevéspera do Natal, estive com minha esposa Rosângela na casa dos pais de Karol, Dilson e Keller. Lá também encontrei os irmãos mais velhos da Karol, Kecillin (casada com Miguel) e Daniel (casado com Maria Eliza). Foi nessa noite que conheci duas lindas crianças, os sobrinhos da tia Karol: Antônio (de 4 meses) e Timóteo (de 2 meses). Ter em meus braços o simpaticíssimo Antônio e contemplar o Timóteo dormindo como um anjo no quarto da tia Karol foi o meu melhor presente de Natal. O outro presente foi constatar a alegria e o amor dessa família que transformou a tragédia da escola em uma escola de perdão.
Nascida em 7 de outubro de 2005, Karoline foi batizada com esse nome em homenagem ao papa São João Paulo II (Karol Wojtila), que falecera naquele mesmo ano. Durante a gravidez da terceira filha, Keller e Dilson descobriram que o bebê tinha um problema sério em um dos rins: uma dilatação no sistema pielo-calicilar, que obstruiu a passagem da urina. Era praticamente certo que o bebê precisaria ser operado logo após o nascimento. No entanto, Keller e Dilson pediram a intercessão de papa polonês e, para surpresa dos médicos, o problema desapareceu completamente nos exames realizados na pequena Karol após o parto.
O motivo que faz o diabo odiar os santos é o mesmo que faz Deus amá-los: por isso, Ele os chama de volta às vezes tão cedo
Karol cresceu em um ambiente de profunda fé e manteve em seus 17 anos uma pureza e uma inocência que impressionavam a todos. Fez a sua primeira comunhão no dia 13 de maio de 2017, no centenário das aparições de Nossa Senhora de Fátima. No mesmo dia, em 2022, ela marcou o início oficial do seu namoro com o jovem Luan, um rapaz igualmente fervoroso na fé e cheio de sonhos. Um dia depois de sua morte, Keller encontrou o último livro que a filha estivera lendo, ainda com o marcador de página: Tratado da Castidade, de Santo Afonso Maria de Ligório. A foto que ilustra esta crônica foi feita na Capela de Santa Teresinha, a doutora da Igreja que se tornou um modelo de pureza e a apóstola da infância espiritual. Tudo em Karol e Luan nos faz pensar nessa pureza e nessa infância que conduzem ao Céu. No ano em que Carlo Acutis será canonizado, abre-se o caminho para que uma nova geração de santos seja elevada à dignidade dos altares.
Muitas pessoas aproveitam o começo de ano para fazer listas de propósitos. Vou usar essa crônica para deixar aqui registrado um dos meus maiores propósitos para 2025: escrever um livro sobre a vida de Karol e Luan e seu caminho para o Céu.
Conteúdo editado por: Jônatas Dias Lima