“Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.”
(Mt 5, 7)
Muitos se orgulham por ter um santo em seu país; outros se sentem felizes por ter um santo em seu estado; alguns podem dizer que têm um santo em sua cidade; eu tenho uma santa na minha rua.
Madre Leônia Milito (1913-1980) viveu aqui, a poucos metros de onde moro. Na “Terra Santa de Londrina” — como dizia meu saudoso amigo Dom Albano Cavallin —, ela caminhou por estas ruas e gramados, conheceu os bosques e as casas de madeira (no lugar do meu condomínio, havia uma madeireira), pisou a terra vermelha, anunciou a palavra de Deus, rezou e praticou o bem neste mesmo cenário, sob o mesmo sol e céu de Londrina que hoje eu contemplo pela janela do meu escritório, enquanto escrevo estas palavras.
No dia 17 de julho de 1975, um dia antes da geada negra que encerrou o ciclo do café em Londrina, Madre Leônia escreveu em seu Diário Espiritual:
“Fazer o bem a todos; perdoar a todos; rezar por todos; doar-se a todos. O amor é forte como a morte. Quem não estiver disposto a sofrer e a morrer, como Jesus não ama. Jesus é amor”.
No dia seguinte, milhões de pés de café no Norte do Paraná estavam mortos e milhões de pessoas se viram sem trabalho e sem rumo. Houve um êxodo de proporções bíblicas, e muitos acharam que seria a morte de Londrina. No entanto, a cidade encontrou forças para se erguer, numa ressurreição civilizacional. Não tenho a menor dúvida de que a fé, a esperança e o amor pelos pobres de Madre Leônia foram decisivos para esse renascimento da cidade e da região.
Quando penso que Madre Leônia viveu na minha rua, a santidade aparece em sua verdadeira dimensão: ela é o nosso destino, o destino que Deus sonhou para cada um de nós
Isso enche de esperança até mesmo o coração de um pecador feito este cronista de sete leitores.
Sim, minha rua tem uma santa! Encontro-a todos os dias, ao sair de manhã para o estúdio, ao passear com meu cãozinho vira-lata, ao ir à missa com a Rosângela e o Pedro. Vejo Madre Leônia quando vou ao posto comprar pão, quando faço uma caminhada, quando o sol se levanta.
A santa da minha rua está no silêncio das madrugadas, no caminho dos notívagos de fim de semana que voltam para casa, no rastro dos automóveis que não sei (e nunca saberei) dirigir. Assim que abro a janela de casa e olho para a avenida que leva seu nome, digo:
— Bom dia, Madre Leonia!
No próximo dia 10 de dezembro, Londrina vai completar 90 anos. Exatamente um mês antes, em 10 de novembro, dia do onomástico da Madre, São Leão Magno, a cidade ganhou um presente mais do que especial: a Irmã Terezinha Almeida, postuladora da causa de Madre Leonia, concluiu a elaboração do Positio, volume que reúne todos os documentos, escritos, depoimentos e testemunhos necessários à beatificação e canonização de nossa querida madre.
Não é algo que se faz do dia para a noite: desde o início da chamada fase romana do processo junto ao Dicastério das Causas dos Santos, no Vaticano, em 2005, a Irmã Terezinha reuniu 14 mil páginas sobre a vida, a obra e as virtudes de Madre Leonia.
Todo esse material será enviado agora ao Colégio Cardinalício da Igreja Católica, que irá emitir o seu parecer sobre a causa de Madre Leonia. Desde que voltei para a Igreja, há 25 anos, venho colecionando relatos de curas milagrosas atribuídas à Madre Leônia, inclusive um amigo que levou um tiro do coração e foi inexplicavelmente salvo depois que uma relíquia da Madre foi colocada sobre seu peito. Mas, entre todas as curas e graças atribuídas à intercessão de Leônia, um milagre será destacado agora.
Caberá ao Papa Francisco a última palavra para conceder-lhe o título de Venerável, Beata e, após a comprovação de mais um milagre, Santa. Mas não resta dúvida de que a maior parte da caminhada já foi feita, e Madre Leônia está muito perto de ser elevada à dignidade dos altares.
Nascida em Sapri, na Itália, em 23 de junho de 1913, Madre Leônia Milito veio para o Brasil no início dos anos 50 e estabeleceu-se em Londrina.
Em 1958, ao lado do primeiro arcebispo de Londrina, Dom Geraldo Fernandes, fundou a Congregação das Missionárias de Santo Antônio Maria Claret, que hoje está presente nos cinco continentes com obras de caridade e misericórdia.
No dia 22 de julho de 1980, sofreu um acidente automobilístico na rodovia BR-369, na saída de Londrina para Cambé, e fez a sua Páscoa definitiva.
Anos antes, quando a casa-mãe da Congregação foi construída, Madre Leônia reservou um lugar para seu túmulo ao lado do Santíssimo Sacramento, no Santuário Eucarístico Mariano, para que pudesse estar em eterna adoração a Deus.
Eu tenho a alegria de visitar esse lugar todos os dias e dizer:
— Madre Leônia, rogai por nós!
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