“Lembram-se do Zé Dirceu? ‘Vamos tomar o poder, e isso não tem nada a ver com ganhar eleições’. Não tem mesmo. Tem a ver é com o Dirceu dar ordens ao STF.”
(Olavo de Carvalho)
Há mais de 30 anos, quando eu trabalhava como assessor de imprensa em um sindicato filiado à CUT, recebi pelo correio uma fita de videocassete com palestras de intelectuais esquerdistas que discutiam a ética na filosofia, na política e na cultura. O presidente da República era Fernando Collor; a prefeita de São Paulo, Luiza Erundina. O ciclo de palestras sobre ética foi organizado pela então secretária municipal de Cultura da prefeitura paulistana, a intelectual petista Marilena Chaui (aquela que odeia a classe média e odeia quando lhe deseja as bênçãos de Deus).
Um professor de filosofia chamado Olavo de Carvalho assistiu a uma dessas palestras, no auditório do MASP, e se escandalizou com a omissão dos nomes de Platão e Aristóteles na palestra que discutia a ética na filosofia grega. Olavo saiu do auditório voando para seu minúsculo apartamento e escreveu as primeiras 150 páginas do que seria um de seus livros mais importantes, “O Jardim das Aflições”.
Dois fatos que marcaram aquele início dos anos 90 — e que ajudam a explicar a atual situação político-cultural do Brasil — estão ligados a essa discussão sobre ética promovida pela esquerda petista.
O primeiro deles, em julho de 1990, foi a criação do Foro de S. Paulo, entidade que reunia movimentos e partidos de esquerda de toda a América Latina e tinha por objetivo recuperar no continente sul-americano o poderio que os comunistas haviam perdido no Leste Europeu a partir da queda do Muro de Berlim (cujo nome oficial, não sei se vocês sete sabem, era Barreira de Proteção Antifascista).
O segundo fato marcante, hoje praticamente esquecido, é a criação do Movimento Nacional pela Ética na Política. Esse movimento, do qual participaram sindicatos, entidades e movimentos da esquerdista em todo o Brasil, culminaria, em setembro de 1992, no impeachment de Fernando Collor, para o qual se uniram as forças políticas de esquerda que viriam a encenar o teatro das tesouras das décadas seguintes.
Qual é o elemento comum entre o Movimento pela Ética na Política (que derrubou Collor e inaugurou o teatro das tesouras PT-PSDB) e o Foro de S. Paulo (que reergueu o movimento comunista na América Latina)? Ambos foram criados por José Dirceu, o agente do serviço secreto cubano que até hoje dá as cartas no cenário político brasileiro. Doze anos depois da fundação do FSP e dez anos depois do impeachment de Collor, Lula chegaria à Presidência da República.
Trinta anos depois, todos sabem quem é Zé Dirceu: o arquiteto do Mensalão e do Petrolão, os maiores escândalos de corrupção da história do Ocidente
É óbvio que Dirceu, Lula e seus companheiros do PT, e dos partidos da base alugada, não desviaram dinheiro para proveito próprio; sítio de Atibaia e triplex do Guarujá foram apenas trocadinhos no oceânico sorvedouro de recursos da cleptocracia petista. Os bilhões de reais advindos dos pagadores de impostos brasileiros, além de arruinar as empresas estatais e levar o país a uma crise econômica sem precedentes, foram utilizados para financiar ditaduras genocidas na América Latina, no Caribe e na África.
Nesta semana, depois da farsa eleitoral que serviu apenas para fortalecer uma das pernas do teatro das tesouras — o Centrão fisiológico e corrupto — e impedir o surgimento de uma verdadeira oposição ao governo golpista de Lula, os brasileiros receberam a notícia de que Gilmar Mendes anulou todas as condenações de Zé Dirceu pela Lava Jato, que somavam 23 anos de prisão.
Como um Winston Smith de toga, Gilmar simplesmente apagou os registros dos crimes cometidos por Zé Dirceu referentes ao Petrolão (esquema que, não custa lembrar, ele começou a montar dentro da Papuda, quando estava preso pelo Mensalão).
Stálin, o apagador de imagens da Revolução Russa, ficaria orgulhoso de seu pupilo. Mais uma vez, o STF exerce o papel de “editor de toda uma nação”, para recordarmos as palavras de um ex-assessor de Zé Dirceu, Dias Toffoli, também conhecido como “amigo do amigo do meu pai”.
Ao mesmo tempo em que STF descondenava Dirceu, o presidente da Câmara, Arthur Lira, resolveu sequestrar a esperança de anistia para os presos políticos e os exilados do 8 de janeiro.
Vale lembrar que Dirceu, em 1979, foi beneficiado por uma “anistia ampla, geral e irrestrita” que perdoou crimes de verdade, e não uma algazarra como a que aconteceu em Brasília naquele fatídico domingo. O 8 de janeiro se parece tanto com um golpe de Estado como um mico-leão se parece com um leão. Mas, para garantir a tranquilidade do sistema e o funcionamento das tesouras, Lira impõe a continuidade do pesadelo a milhares de irmãos brasileiros.
Para fecharmos esse artigo, não podemos deixar de mencionar aquele que foi proclamado como o grande vitorioso das eleições municipais de 2024, as eleições da tesoura: Tarcísio de Freitas. No último ano, o governador de São Paulo tem tido encontros regulares com Zé Dirceu (assim como os teve com Alexandre de Moraes).
Ao menos desde fevereiro deste ano, as conversas entre Zé e Tarcísio têm sido mensais. Mais recentemente, passaram a ser quinzenais. O último ocorreu em pleno Palácio dos Bandeirantes.
O que Zé e Tarcísio discutem nesses encontros? Não sei. O que eu sei é que Zé Dirceu está rindo da nossa cara. Mas não é só ele.
Banco do PCC movimentou R$ 8 bilhões para financiar políticos e crime organizado
“Superapp” da primeira infância pode reduzir custos, mas levanta alerta sobre vigilância estatal
“Não existe privatização de escolas”, diz Tarcísio sobre PPPs na educação pública
Projeto contra supersalários no serviço público mantém 32 “penduricalhos”
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS