“As pessoas sabem em seus corações que o jornalismo é uma arte como outra qualquer, que seleciona, aumenta e falsifica. Apenas sua nêmese é o mesmo que o das outras artes: se ela perde todo o cuidado com a verdade, perde, igualmente, toda a forma”. (G.K. Chesterton)
Lembro-me até hoje do efeito que teve em minha vida a assinatura de um jornal impresso. Era um periódico que circulava somente na cidade de São Paulo. Embora fosse – já não existe mais – compacto, era bastante abrangente, e tinha um tom mais informal, que agradava minha jovem visão de mundo.
Não me recordo ao certo os motivos que me levaram a fazer a assinatura, mas sei que meu horizonte se expandiu consideravelmente; como não tinha o costume de assistir a jornais na tevê, foi com o jornal impresso que passei a me informar – e, consequentemente, formar minha opinião sobre assuntos que, até então, não eram de meu interesse. Nesse sentido, posso dizer que fui educado, também, pelo jornalismo. Não sem, evidentemente, avaliar e confrontar as notícias que mais me chamavam a atenção. A informação educa; a leitura detida e crítica educa ainda mais.
Como leitor e, atualmente, articulista desta Gazeta do Povo, sei que produzir boa informação dá bastante trabalho. Informar com qualidade não é fácil, ainda mais em períodos de tensão social e política como a que vivemos atualmente. O papel do jornalista é fundamental em tais momentos, pois o cidadão comum, muitas vezes, depende dele para formar sua opinião sobre os temas relevantes da atualidade. O bom jornalismo é um farol a iluminar a sociedade, e o bom jornalista é aquele que se compromete não só a transmitir uma mensagem fria e datada, mas a eternizar a informação, tornando seu trabalho valioso à geração presente e às próximas gerações. Como disse Gustavo Corção sobre G.K. Chesterton em Três alqueires e uma vaca: “Como jornalista, Chesterton viveu e construiu sua obra em estreita ligação com os acontecimentos do tempo. Podemos, portanto, submeter sua mensagem a uma prova difícil, abandonando os dados que se referem a ambiente e época, a fim de realçar o que ela contém de forte e perene. E o autor resiste à prova”.
Porém, os tempos são de descrédito, e a mídia tradicional vem sofrendo forte rejeição da população, que já não confia em seu famigerado fetiche de isenção. Com o advento da internet, ficou mais difícil manipular a sociedade e, vez por outra, vemos jornalistas sendo confrontados com essa dura realidade. Recentemente o ator Denzel Washington, ao ser perguntado, numa entrevista, o que achava de ter sido alvo de notícias falsas a respeito de seu suposto apoio a Donald Trump, respondeu: “Se você não lê os jornais, fica desinformado; se os lê, fica mal informado […] Qual o maior objetivo da informação? Um dos maiores objetivos é a necessidade de ser o primeiro, não mais em dizer a verdade […] Não importa a quem magoam ou destroem; só digam, vendam!”. Esse tipo de saia-justa tem sido cada vez mais comum, resultando em perda considerável de assinantes e – o que é muito pior – de credibilidade.
Nesse sentido, a Gazeta do Povo inovou completamente. Deu voz plural à sua linha editorial, tornando-se uma das principais fontes de informação dos últimos anos. Inovou e foi pioneira ao eliminar a edição impressa diária, investiu em tecnologia, contratou novos colunistas e alcançou um crescimento recorde em usuários e unique visitors.
É assim que se faz: saindo da zona de conforto, dizendo claramente a que veio e sendo, sobretudo, honesta com o público. Essa foi a receita que levou a Gazeta do Povo a ser um dos principais veículos de boa informação da atualidade, chegando ao seu centenário em grande estilo. Parabéns!
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