Jornalistas e outros formadores de opinião que escrevem para o público em geral encontram incentivos adicionais e poucas restrições para explicarem o mundo em termos que tanto seu público quanto principalmente eles mesmos consideram emocionalmente satisfatórios. Muitas questões são mal concebidas, não porque sejam muito complexas para as pessoas entenderem, mas porque uma explicação mundana é muito menos satisfatória emocionalmente do que uma explicação que produz vilões para se odiar e heróis para se exaltar. (Thomas Sowell, Os intelectuais e a sociedade)
Não sei. Mas algumas informações e dados, a um passo de sabermos se o presidente republicano se reelege ou entrega o comando do país para Joe Biden, podem nos ajudar a compreender algumas coisas que a mídia e a geração assustada insistem em esconder.
Uma coisa é verdade: se nos pautarmos por seus atuais detratores, de lá e daqui (que apenas emulam os de lá), o bilionário Donald Trump é o Hitler do século 21; o sujeito que arrancava aplausos no Saturday Night Live; que, em 1999, foi homenageado por ninguém menos que Jesse Jackson por seus serviços prestados à comunidade negra americana (o negrito é para enfatizar mesmo); que tinha um relacionamento próximo não só com Jackson, mas com o arquiagitador Al Sharpton e com Don King (que ainda é seu amigo e conselheiro); que era adorado por rappers; que apresentou, por dez temporadas, um dos programas mais populares da televisão americana – O Aprendiz –, e que tem ao seu lado figuras como Larry Elder, Candace Owens, Lil Wayne e Kanye West; que recebe apoio de importantes lideranças negras americanas (e tem sustentado certo apoio popular); que foi o presidente republicano com votação recorde entre a população negra – que vota majoritariamente, há décadas, nos democratas; e que tem, trabalhando em seu governo, o extraordinário dr. Benjamin Carson (ainda não viu Mãos Talentosas?), não pode ser chamado de racista sem algumas ponderações.
Os dados econômicos colocam Trump a favor da população negra americana
Óbvio que Trump é um presidente disruptivo, grosseiro e espetaculoso, que gosta de provocar e detesta ser pautado – ainda mais pela mídia, com quem mantém uma guerra declarada. Também é óbvio que intelectuais e artistas não só têm uma preferência declarada pelo progressismo do Partido Democrata – cada dia mais radical, abrigando socialistas empedernidos como Bernie Sanders e Alexandria Ocasio-Cortez –, como fazem campanha aberta para seus candidatos, sempre enfatizando que qualquer outra escolha só pode ser pautada na ignorância ou na maldade pura e simples. Para esses intelectuais (e artistas) ungidos, o diferente é, necessariamente, errado. Como diz Thomas Sowell: “Aqueles cujas ideias específicas ou visão geral são diferentes – os ignorantes – são geralmente tratados como elementos desprezíveis, meros obstáculos ao progresso, incômodos que podem ser desconsiderados, contornados ou desacreditados, em vez de ser tratados como pessoas que participam do mesmo plano moral e intelectual, cujos argumentos podem ser avaliados factual e racionalmente”.
Um exemplo é suficiente. No primeiro debate entre o atual presidente e seu concorrente Joe Biden, o moderador Chris Wallace questionou Trump em relação aos supremacistas brancos que, segundo seus opositores, ele apoia – ou, pelo menos, não condena com veemência. Wallace perguntou: “o senhor criticou repetidamente o vice-presidente [Biden] por não nomear, especificamente, os Antifa e outros grupos extremistas de esquerda. Mas o senhor está disposto, esta noite, a condenar os supremacistas brancos e as milícias, e dizer que eles precisam se retirar e não aumentar a violência em várias dessas cidades, como vimos em Kenosha e como vimos em Portland?”. Trump, mantendo a sua postura de não se deixar pautar, respondeu e retrucou: “Sim, posso fazer isso. (...) Eu diria que quase tudo o que vejo vem da ala esquerda, não da direita”.
Wallace, então, insistiu para que ele condenasse os grupos supremacistas e ele pediu: “Dê-me um nome, dê-me um nome. Vá em frente, quem você quer que eu condene?” Neste momento, Biden interveio e disse um nome: “Proud Boys”. Trump, então, respondeu: “Proud Boys, recuem e aguardem [stand back and stand by]. Mas eu digo que alguém tem de fazer algo em relação aos Antifa e à esquerda, porque isso não é um problema da direita, é um da esquerda”.
Isso foi o suficiente para a mídia toda, americana e brasileira, dizer que Trump, mais uma vez, não condenou os supremacistas brancos. Mas o ridículo disso tudo é que o Proud Boys não é um grupo supremacista. Pelo menos é o que diz um de seus principais líderes, Enrique Tarrio, um cubano radicado nos EUA, que é negro! Tarrio, em 2019, deu uma entrevista no mínimo curiosa à CNN, em que a repórter Sara Sidner quis rotulá-los de qualquer maneira, inclusive em relação ao racismo, e Tarrio teve de lembrá-la que ele mesmo era negro, cubano, que membros de sua família foram mortos pelo regime de Fidel Castro, e que seu grupo não tem nada a ver com assuntos raciais, mas que é um grupo pró-vida, pró-família e a favor do que se costuma chamar de civilização ocidental. Também a corrigiu quando ela disse que eles se referiam a si próprios como male chauvinists (“machos chauvinistas”), dizendo que, na verdade, eles se definem, jocosamente, como western chauvinists (“chauvinistas ocidentais”) – e explicando que “chauvinista é alguém patriota e extremamente orgulhoso de seu país”. Só isso.
Na verdade, o grupo foi criado pelo jornalista e comentarista político canadense Gavin McInnes, por pura brincadeira. McInnes, cujas esquetes de humor politicamente incorreto no The Rebel Media fizeram enorme sucesso durante o período eleitoral de 2016, é, segundo um de seus amigos (e ex-chefe) Anthony Cumia, da Compound Media: “um dos caras mais engraçados e ultrajantes [que conheço]. Toda a sua carreira é baseada em sátiras e paródias... ele é extremamente provocador”. E Cumia segue dizendo como toda a ideia dos Proud Boys nasceu das piadas provocativas – bullying – de McInnes com um colega de trabalho todo certinho. Depois o grupo se tornou uma confraria, que saía para tomar cerveja e se divertir. A explicação toda está na entrevista (em inglês).
O grupo se transmutou em ativismo político quando McInnes começou a ser convidado para dar palestras, e grupos de esquerda apareciam para tumultuar os eventos. Ou seja, o Proud Boys começou a agir em legítima defesa contra os ataques de manifestantes de esquerda, participando de comícios republicanos e protegendo as pessoas da violência daqueles que dizem estar lutando contra a violência. É, aliás, o mesmo princípio de legítima defesa defendido por Malcolm X e pelos Panteras Negras. E muitas vezes, infelizmente, os confrontos acontecem.
O Proud Boys não é um grupo supremacista. Pelo menos é o que diz um de seus principais líderes, Enrique Tarrio, um cubano radicado nos EUA, que é negro!
Recentemente, McInnes se afastou do grupo por conta de todas essas controvérsias. Ele mesmo está sendo tachado de neofascista, o que, segundo pessoas próximas a ele, é um completo absurdo. Mas o que podemos dizer é que qualquer grupo que passa a existir para confrontar outro pode sair do controle em determinadas situações. A violência é mimética – para usar o conceito de René Girard –, e qualquer grupo que se paute pela violência passa a alimentar mais violência, até que um bode expiatório apazigue as coisas.
Podemos dizer, com certeza, que não há supremacistas envolvidos no Proud Boys atualmente? Óbvio que não. Mas estou somente querendo dizer que 1. o grupo não nasceu com ideais supremacistas, 2. um de seus principais líderes é negro e 3. os rótulos que recebem da mídia são extremamente difamatórios e não correspondem à realidade – é só conferir, por exemplo, as pesadas adjetivações em sua descrição na Wikipedia. Ou seja, Biden, ao mencioná-los no debate, o fez ou por desconhecimento ou por malícia, e pode ser que a resposta ambígua de Trump tenha sido exatamente uma tentativa de não rotulá-los como fez seu oponente. Tarrio reagiu à menção do grupo no debate, inclusive condenando, ele mesmo, os supremacistas brancos.
O fato é que os dados econômicos colocam Trump a favor da população negra americana. Os índices de desemprego diminuíram (o próprio New York Times, um jornal que abomina Trump, admitiu, ainda que com ressalvas) e a participação da força de trabalho aumentou. Trump assinou um projeto de lei para transferir fundos exclusivamente para escolas e universidades negras, e criou o Platinum Plan, projeto voltado para o desenvolvimento econômico da população negra americana. Inclusive sua campanha discutiu, recentemente, esse projeto com o rapper Ice Cube – que criou um projeto próprio, chamado Contract with Black America. Cube foi muito criticado por ter aceito o convite para conversar – tratei disso num artigo recente aqui, nesta Gazeta do Povo.
Por fim, o jornal Pittsburgh Post-Gazette, que não apoiava um presidente republicano desde 1972, declarou seu apoio à reeleição de Donald Trump, baseando-se no cumprimento de suas promessas de campanha, dentre elas, a de que “o desemprego entre a população negra americana está menor do que nunca, sob qualquer presidente de qualquer partido”. O jornal diz:
Ele não é um unificador. Ele geralmente age como o presidente de sua base, não do país todo. Não fez nada para diminuir nossas divisões, e, na verdade, muitas vezes as aprofundou. As convicções e o intelecto de todos os americanos devem ser respeitados por TODOS os americanos, especialmente pelo presidente. O Sr. Trump lidou com a pandemia perfeitamente? Não. Mas ninguém domina uma pandemia. E o presidente estava e está certo que não devemos nos encolher diante da doença, e temos de manter a América aberta e trabalhando. Ele não ouviu bem as pessoas que poderiam tê-lo ajudado. Ele não aprendeu a governar, nem mostrou interesse em fazê-lo. Mas o que a dupla Biden-Harris nos oferece são impostos mais altos e um Estado-babá que se curvará aos valentões e aos acordos que destruiriam a história em vez de aprender com ela e construir o país.
Tudo isso prova que Donald Trump não é racista. Talvez não – a muitos, não mesmo. Mas nos dá uma dimensão da manipulação torpe que seus inimigos – e, nesse caso, inimigos do país – são capazes de provocar para tomarem o poder. A resposta pode vir nas urnas.
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