Homens foram atacados na Avenida Paulista.| Foto: Divulgação/MBL
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“Vivemos sob o brutal império das massas”. (Ortega y Gasset)

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O leitor deve ter acompanhado, no último final de semana, o ataque covarde que militantes do Movimento Brasil Livre (MBL), que coletavam assinaturas para a fundação de seu partido político, Missão, sofreram na Avenida Paulista, em São Paulo. Militantes de esquerda e – segundo eles próprios – antifascistas, chegaram à barraca de coleta fingindo interesse em conhecer o projeto e, traiçoeiramente, começaram a atacá-los com facas e socos ingleses, numa clara tentativa de homicídio. Por sorte, policiais que faziam ronda próximo ao local, rapidamente agiram e impediram que algo ainda pior ocorresse. Dos quatro criminosos envolvidos, dois foram presos – mas já estão soltos, pois estamos no Brasil.

O que leva alguém a agir desse modo por motivos políticos já tratei em artigos recentes aqui mesmo (aqui e aqui), nesta Gazeta do Povo – curiosamente, os dois casos abordados tiveram como alvo também membros do MBL –, é fruto do famigerado ódio ideológico. Sim, o MBL é provocativo, se envolve em polêmicas propositadamente por uma simples estratégia de engajamento que seus adversários insistem em cair. Você pode discordar frontalmente disso e do próprio MBL, mas, infelizmente, o internauta médio é movido a polêmicas e são esses os conteúdos que mais viralizam nas redes. Se quer uma prova, é só ver o recente crescimento de novos membros públicos do MBL ou a ascensão meteórica de um jovem impetuoso como Nikolas Ferreira, o deputado federal mais votado do Brasil em 2022. Sabemos que a direita ainda domina a militância na internet (tratei disso na semana passada), inclusive a técnica de produzir conteúdos virais; a vantagem do MBL, é bom que se diga, é que eles têm todo um universo de iniciativas internas que ultrapassam a mera polêmica – um exemplo é a Revista Valete.

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Mas o que ocorreu no último domingo não foi uma resposta à provocação, foi uma agressão traiçoeira, criminosa, que pegou dois jovens indefesos (que não esperavam) para espancá-los – com grande possibilidade de matá-los, caso os policiais não chegassem.

Foi um ataque orquestrado por gente que odeia o dissenso, o debate livre de ideias, as contradições, a liberdade; ou seja, que odeia a democracia

Em nome de um fictício antifascismo, agem como fascistas. Norberto Bobbio, em seu Dicionário de Política, entre as várias definições de Fascismo, afirma que:

“Em geral, se entende por Fascismo um sistema autoritário de dominação que é caracterizado: pela monopolização da representação política por parte de um partido único de massa, hierarquicamente organizado; por uma ideologia fundada no culto do chefe, na exaltação da coletividade nacional, no desprezo dos valores do individualismo liberal e no ideal da colaboração de classes”.

E o que é a esquerda brasileira senão isso: um grupo político autoritário, violento, que odeia a pluralidade política, os valores individuais e é avesso a qualquer ideia que não seja a sua? Mas não só: o que há de sórdido na esquerda é que sua violência não é reativa – como, por exemplo, os casos que envolveram a militância bolsonarista; ela faz parte de seu método, de sua mentalidade revolucionária, de seu projeto. Se, para a esquerda, o mundo é dominado por burgueses, opressores, fascistas – ou qualquer outro rótulo que tenham criado para seus inimigos –, que são poderosos pelo próprio domínio do sistema capitalista, a única maneira de chegar ao poder é através da violência.

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Não falo aqui do que chamo de esquerdista ingênuo, aquele que aprendeu na escola que a esquerda é preocupada com o social, com o coletivo, e a direita com o capital e o individualismo. Essa visão maniqueísta é uma generalização que não cabe na realidade. Conheço muitas pessoas que se dizem de esquerda por terem abraçado esse discurso e jamais terem ouvido algo coerente de alguém de direita. Mas, ao conversarmos com as pessoas, vemos, por exemplo, muitos comportamentos e ideias conservadoras e mesmo liberais. Essas coisas são muito mais complexas no dia a dia de uma pessoa comum. Estou falando do esquerdista ideologizado, aquele que faz parte de agremiações e partidos políticos, que frequenta os movimentos estudantis, os DCEs universitários. Aquele cujo ideal utópico de igualdade foi elevado a tal descolamento da realidade que aceita qualquer absurdo em nome da “justiça social”. Como diz Scruton em Tolos, fraudes e militantes:

“Nenhum costume, lei ou hierarquia, nenhuma tradição, distinção, regra ou devoção pode superar a igualdade se não puder fornecer credenciais independentes. Tudo que não se conforma ao objetivo igualitário deve ser destruído e reconstruído, e o mero fato de que algum costume ou instituição foi repassado e aceito não é um argumento a seu favor. Desse modo, a ʻjustiça socialʼ se torna uma demanda mal disfarçada pela ʻlimpeza totalʼ da história que os revolucionários sempre tentaram.”

Por isso o ataque aos coletores do MBL é gravíssimo, por isso a tentativa de censurar as redes sociais é perigosa. Há um agravante: essa mentalidade conta com o apoio da mídia e de grande parte dos formadores de opinião no Brasil. Quem quer ser tachado de ser contra os avanços sociais não é mesmo? Por uma ingenuidade tacanha de nossa classe falante e, em muitos casos, por mero oportunismo, as maiores insanidade da esquerda são aceitas tacitamente, pois o discurso sentimental e apelativo é intimidador, e o ressentimento que provoca nos ingênuos militantes é visto como indignação genuína.

Apesar de alguns veículos da grande mídia terem noticiado o crime contra os coletores do MBL, as redes sociais foram inundadas de gente comemorando o ocorrido, o que não deixa de ser sintomático. Como diz a frase atribuída a Thomas Jefferson: “o preço da liberdade é a eterna vigilância”. E, obviamente, os tradicionais sabotadores da democracia (em nome da democracia) estão soltinhos no governo atual.