Lula comparou a guerra de Israel contra o Hamas ao Holocausto em entrevista no último domingo.| Foto: André Borges/EFE
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“Quando os justos governam, alegra-se o povo; mas quando o ímpio domina, o povo geme.” (Provérbios 29,2)

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Ontem conversava com um amigo e perguntava: como deve ser viver num país normal? Desses em que as pessoas simplesmente vivem suas vidas, trabalham, estudam, ganham seus salários, moram com relativo conforto, se divertem, cuidam de suas famílias e, eventualmente, até falam umas bobagens sobre política nos churrascos entre amigos. Como deve ser viver, por exemplo, em Lichtenstein, ou mesmo na Suíça? Como será viver num país que não está nos noticiários diariamente? Como se sente o morador de um país cujos governantes simplesmente fazem seu trabalho, não enriquecem no serviço público e não manipulam a população através da perpetuação da miséria e da dependência? Pois é, caro leitor, não sei. Você sabe?

A verdade é que a dolorosa experiência de ser brasileiro não nos permite sequer um vislumbre disso. Somos um país cuja população é mantida, há muito, muito tempo, por um lado, num estado de letargia e ignorância profundas; e, de outro, em frenesi ideológico constante. Desde a escola somos mergulhados em meias-verdades, alucinações históricas, filosofias de botequim, quando não num tipo de militância ralé e emburrecedora. Nossas universidades, sobretudo nas ciências humanas, são celeiros cuja produção de pensamento é realizada, quase em sua totalidade, na Segunda Realidade, que, segundo Eric Voegelin em suas Reflexões autobiográficas, é “a imagem da realidade criada pelos homens quando em estado de alienação”.

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A perpetuação da estupidez (no sentido de incapacidade de compreensão), mais do que um projeto, é uma consequência e um círculo vicioso. A cada geração, o fato de nossos intelectuais – por uma notória “recusa de perceber” e incapacidade de estabelecer nuances em suas análises – detestarem o país e se utilizarem de toda e qualquer teoria esdrúxula europeia para criticá-lo fez com que a educação se tornasse um processo de embotamento da consciência, ao mesmo tempo em que alimenta o orgulho de um suposto despertamento para as injustiças sociais (daí o termo woke).

Se não há qualquer distinção de superioridade moral e autoridade entre os governantes e seus governados, o que nos resta é a total falta de referenciais que nos poderiam fazer avançar

Óbvio que esse não é um problema brasileiro somente, mas nos afeta de maneira particular pela falta de qualquer traço de identidade que nos permitiria alguma ponderação. Isso nos torna vítimas de nossa própria ignorância, de nossa dificuldade em fazer distinções e de analisar desapaixonadamente um objeto ou problema. Somos impulsivos, cordiais – no sentido que Sérgio Buarque de Holanda atribuiu a nossa passionalidade carnavalesca, avessa a formalidade e à reflexão. Ele explica:

“No ʻhomem cordialʼ, a vida em sociedade é, de certo modo, uma verdadeira libertação do pavor que ele sente em viver consigo mesmo, em apoiar-se sobre si próprio em todas as circunstâncias da existência. Sua maneira de expansão para com os outros reduz o indivíduo, cada vez mais, à parcela social, periférica, que no brasileiro – como bom americano – tende a ser a que mais importa. Ela é antes um viver nos outros. Foi a esse tipo humano que se dirigiu Nietzsche, quando disse: ʻVosso mau amor de vós mesmos vos faz do isolamento um cativeiroʼ.”

Tudo isso acentua nossa vulnerabilidade e nos expõe a todo tipo de aventureiro e oportunista que, por sua habilidade em “dizer o que pensa” – a autenticidade já atribuída a Lula e a Bolsonaro –, conquista nossa confiança de povo avesso às distinções mais básicas da vida social. A facilidade com que nos entregamos a nossos algozes se dá pelo fato de que eles são essencialmente iguais a nós; passionais como nós, brincalhões como nós, impacientes como nós, atrapalhados como nós; enfim, brasileiros como nós.

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Agora, se não há qualquer distinção de superioridade moral e autoridade entre os governantes e seus governados, o que nos resta é a total falta de referenciais que nos poderiam fazer avançar. Pelo contrário, o que temos é uma sucessão de atropelos, de desmandos, de loucuras e estripulias que são prontamente aceitas e reproduzidas de cima a baixo, sem filtro, sem fato e sem nenhuma noção das consequências. Todos parecem estar “vivendo o momento”, sem um país para construir, sem uma nação para formar, apenas uma sucessão de sentimentos, de reações, de prazeres difusos e ódios conduzidos.

Diante disso temos a normalização de absurdos cada vez maiores, dentre os quais um dos mais graves de nossa história sendo protagonizado recentemente por Luiz Inácio Lula da Silva, “o primeiro presidente da República de origem operária” – a prova cabal de tudo o que expus acima – e que está “presidindo” o país pela terceira vez. Diante de uma guerra de legítima defesa entre uma nação constituída e um grupo terrorista, Lula faz o absurdo dos absurdos: transforma a vítima em algoz por pura ignorância ideológica.

Mas isso não foi o pior. As reações de correligionários, da imprensa, de intelectuais, de influencers e de todo tipo de formador de opinião alinhado à esquerda foi de embrulhar o estômago; ouvir e ler o festival de antissemitismo que tomou conta das redes sociais é um dos sinais mais evidentes de nossa total e absoluta desgraça civilizacional. O presidente da República, agora persona non grata em Israel, nos transformou numa nação a ser repudiada pelo mundo civilizado. Pois é, quando os ímpios governam, o povo perece.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]