Os talentos superiores sempre tomaram o poder e foram déspotas. Os talentos superiores não podem deixar de ser déspotas, e sempre trouxeram mais depravação do que utilidade; eles serão expulsos ou executados. A um Cícero corta-se a língua, a um Copérnico furam-se os olhos, a um Shakespeare mata-se a pedradas — eis o chigaliovismo. Os escravos devem ser iguais: sem despotismo ainda não houve nem liberdade nem igualdade, mas na manada deve haver igualdade, e eis aí o chigaliovismo! Ah, ah, ah, está achando estranho? Sou a favor do chigaliovismo! (Fiódor Dostoiévski, Os Demônios)
No dia 30 de julho relancei o meu curso “O Brasil é um país racista?”, um ano após o seu primeiro lançamento. O curso, que foi revisado, gravado com recursos profissionais e, de certo modo, expandido, oferece uma reorientação da discussão a respeito do racismo e da escravidão no Brasil – tema absolutamente inescapável para nosso desenvolvimento como nação. A herança sócio-emocional de um país pós-escravista, somada ao advento do Iluminismo e da doutrina marxista, suscita uma série de indignações anacrônicas que, a meu ver, obnubilaram a compreensão de nosso passado histórico e criaram um clima de ressentimento que, em vez de contribuir para nossa conscientização e equacionamento do problema, vem criando, cada vez mais, animosidades entre os brasileiros que, ao mesmo tempo tão perto e tão distantes da origem e manutenção desse sistema milenar, não sabem como lidar com tal situação. Uns acham que é melhor não tocarmos mais no assunto que ele, naturalmente, desaparecerá; outros pedem reparação histórica via ações afirmativas; outros, ainda, evocam um movimento de conexão com uma África mítica, a fim de criar um movimento de resistência “cultural”. E todos parecem cobrar do governo medidas que minimizem os efeitos do processo histórico que marginalizou os negros – tratei um pouco disso em artigo sobre a abolição, aqui, nesta Gazeta do Povo.
O fato é que tal herança escravista ainda é responsável, em grande parte, por uma série de discriminações e preconceitos em relação aos negros, que tornam nossa convivência ainda mais delicada e problemática. Sem falar no racismo propriamente dito, chaga moral que, após ganhar contornos científicos no final do século 19, ainda povoa o imaginário de gente estúpida o suficiente para se sentir geneticamente superior – mesmo após serem provadas as inconsistências dessa teoria.
No entanto, tal passado, ainda tão recente, precisa, de fato, se tornar passado, a fim de que possamos pensar em nosso futuro como nação. Não estou dizendo que devemos esquecê-lo, mas que os grilhões que nos prendem emocionalmente a esse período não nos dão tranquilidade para reorientarmos nossa rota histórica e buscarmos um desenvolvimento que seja benéfico para todos. A mim, a cobrança por políticas públicas – que hoje parece ser a única pauta dos movimentos negros – parece insuficiente e reducionista; buscar ajuda para os problemas causados pelo Estado no próprio Estado é, parece-me, confiar demais num sistema burocrático e ineficiente. E, no curso, tento mostrar que as liberdades individual, econômica e de associação – como sonhava André Rebouças – ainda são o melhor caminho para suplantarmos tal realidade. E que a discriminação e o preconceito devem ser vencidos através da educação e da cultura, compreendendo nossa história – assim como a formação de todas as grandes nações – como um complexo processo de contradições, erros e acertos que devem ser assimilados sem indignações anacrônicas ou mesmo influências ideológicas. E eis que surge a palavra mágica: ideologia.
Na chamada para o curso – que, modéstia à parte, julgo ser de suma importância para todos os brasileiros que desejam contribuir com a construção de um país melhor –, digo que ofereço uma visão “mais histórica e menos ideológica” do problema, e isso suscitou a reação imediata de alunos e professores de cursos de História, nas universidades – públicas em sua totalidade –, que correram para comentar, na página do curso numa rede social – uns mais incisivos, outros menos – coisas como: “não há história sem ideologia”, ou “todo conhecimento é ideológico”; ou, ainda, em tom de desdém: “esse aí pensa que há história sem ideologia”. Isso me causou espécie, e, espantado, me fiz a seguinte pergunta: como essas pessoas podem ter uma visão tão reducionista e tão tacanha de um conceito tão complexo como ideologia? Pois sei que as coisas não são tão simples assim; há uma discussão imensa em torno do conceito que não admite simplificações. Mas tal se deu em relação à mera menção de minha perspectiva. Mesmo sem conhecer o conteúdo do curso, partiram para cima tal qual hienas diante de uma carcaça de leão. Fui chamado de capitão do mato, negro da Casa e até – pasme! – de nazifascista.
Não quero aqui, caro leitor, determinar objetivamente o conceito; antes quero apresentar algumas definições e demonstrar que a realidade universitária brasileira está quase totalmente mergulhada num obscurantismo atroz, que tornou alunos e professores incapazes sequer de discutir qualquer conteúdo que lhes foge à compreensão imediata e irrefletida. O desprezo pela verdade e a repetição de jargões parece ser a única ciência que se produz. Pois vamos lá:
O filósofo marxista Terry Eagleton, em seu ensaio crítico sobre o conceito de ideologia, inicia dizendo que:
Ninguém propôs ainda uma definição única e adequada de ideologia, e este livro não será uma exceção. E isso não porque as pessoas que trabalham nessa área sejam notáveis por sua pouca inteligência, mas porque o termo “ideologia” tem toda uma série de significados convenientes, nem todos eles compatíveis entre si. Tentar comprimir essa riqueza de significado em uma única definição abrangente seria, portanto, inútil, se é que possível. A palavra “ideologia” é, por assim dizer, um texto, tecido com uma trama inteira de diferentes fios conceituais; é traçado por divergentes histórias, e mais importante, provavelmente, do que forçar essas linhagens a reunir-se em alguma Grande Teoria Global é determinar o que há de valioso em cada uma delas e o que pode ser descartado.
E enumera o espantoso número de catorze significados para o conceito, a saber:
a) o processo de produção de significados, signos e valores na vida social; b) um corpo de ideias característico de um determinado grupo ou classe social; c) ideias que ajudam a legitimar um poder político dominante; d) ideias falsas que ajudam a legitimar um poder politico dominante; e) comunicação sistematicamente distorcida; f) aquilo que confere certa posição a um sujeito; g) formas de pensamento motivadas por interesses sociais; h) pensamento de identidade; i) ilusão socialmente necessária; j) a conjuntura de discurso e poder; k) o veículo pelo qual atores sociais conscientes entendem o seu mundo; l) conjunto de crenças orientadas para a ação; m) a confusão entre realidade linguística e realidade fenomenal; n) oclusão semiótica; o) o meio pelo qual os indivíduos vivenciam suas relações com uma estrutura social; p) o processo pelo qual a vida social é convertida em uma realidade natural.
O Dicionário de Filosofia de José Ferrater Mora tem cinco páginas de definições, que divide entre definições sociológicas e filosóficas. Nicola Abbagnano, mais sucinto (em duas páginas), diz que:
Pode-se denominar ideologia toda crença usada para o controle dos comportamentos coletivos, entendendo-se o termo crença, em seu significado mais amplo, como noção de compromisso da conduta, que pode ter ou não validade objetiva. Entendido nesse sentido, o conceito de ideologia é puramente formal, uma vez que pode ser vista como ideologia tanto uma crença fundada em elementos objetivos quanto uma crença totalmente infundada, tanto uma crença realizável quanto uma crença irrealizável. O que transforma uma crença em ideologia não é sua validade ou falta de validade, mas unicamente sua capacidade de controlar os comportamentos em determinada situação.
Sabemos que, para Marx, uma ideologia é, grosso modo, o complemento imaterial do domínio material – burguês, no caso. Como ele diz em A ideologia alemã, as ideologias “não têm história, não têm desenvolvimento; serão antes os homens que, desenvolvendo a sua produção material e as suas relações materiais, transformam, com esta realidade que lhes é própria, o seu pensamento e os produtos desse pensamento. Não é a consciência que determina a vida, mas sim a vida que determina a consciência”. E, mais à frente, diz que “Os pensamentos da classe dominante são também, em todas as épocas, os pensamentos dominantes, ou seja, a classe que tem o poder material dominante numa dada sociedade é também a potência dominante espiritual. A classe que dispõe dos meios de produção material dispõe igualmente dos meios de produção intelectual, de tal modo que o pensamento daqueles a quem são recusados os meios de produção intelectual está submetido igualmente à classe dominante”.
A indefectível Marilena Chaui, em seu O que é ideologia – no qual, dentre outras sandices, faz uma interpretação tão absurda da teoria metafísica das Quatro Causas, de Aristóteles, que custa compreender o porquê de sua notoriedade – resume bem a perspectiva marxista: “ideologia é um ideário histórico, social e político que oculta a realidade, e que esse ocultamento é uma forma de assegurar e manter a exploração econômica, a desigualdade social e a dominação política”. E complementa adiante: “o poder ou a eficácia da ideologia aumentam quanto maior for sua capacidade para ocultar a origem da divisão social em classes e a luta de classes” […], pois, “a ideologia é o processo pelo qual as idéias da classe dominante tornam-se ideias de todas as classes sociais, tornam-se ideias dominantes”. Por fim, naquela investida contra a historiografia tradicional, que se perpetua até hoje no ensino de História nas escolas, assevera:
Porque a ideologia não tem história, mas fabrica histórias imaginárias que nada mais são do que uma forma de legitimar a dominação da classe dominante, compreende-se por que a história ideológica (aquela que aprendemos na escola e nos livros) é sempre uma história narrada do ponto de vista do vencedor ou dos poderosos. Não possuímos a historia dos escravos, nem a dos servos, nem a dos trabalhadores vencidos – não só suas ações não são registradas pelo historiador, mas os dominantes também não permitem que restem vestígios (documentos, monumentos) dessa história. Por isso, os dominados aparecem nos textos dos historiadores sempre a partir do modo como eram vistos e compreendidos pelos próprios vencedores.
Tal acusação parece não admitir argumentos, uma vez que os acusados não mais vivem para se defender. Mas julgar que houvesse, na historiografia clássica, um processo consciente de apagamento da história dos conquistados e uma intenção deliberada de contá-la somente do “seu” ponto de vista, a fim de manter o domínio – ao mesmo tempo em que tira o próprio corpo fora diante de um espelho que lhe dirá: “você faz o mesmo agora, só que, supostamente, da perspectiva do oprimido” – é tentar reescrever a História. Voltarei a isso adiante.
Neo-marxistas, pós-marxistas e estruturalistas redefiniram o conceito com uma visão, digamos, neutra – ou, pelo menos, não negativa. Louis Althusser diz, em Ideologia e aparelhos ideológicos do Estado, que sua tese, “que eu gostaria de defender, retomando formalmente os termos da Ideologia Alemã (‘a ideologia não tem história’), é radicalmente diferente da tese positivista-historicista da Ideologia Alemã. Porque, por um lado, creio poder sustentar que as ideologias têm uma história própria (embora esta história seja determinada em última instância pela luta de classes); e, por outro lado, que a ideologia em geral não tem história, não num sentido negativo (a sua história está fora dela) mas num sentido absolutamente positivo”. Já Stuart Hall, por exemplo, diz em The problem of ideology, que as ideologias são “as estruturas mentais – as linguagens, os conceitos, categorias, imagens do pensamento e os sistemas de representação – que diferentes classes e grupos sociais implantam para dar sentido, descobrir e tornar inteligível o modo como a sociedade funciona”. Ou seja, tudo é ideologia. E o conceito de verdade desaparece completamente.
A variedade e a complexidade de acepções – que resumi muito aqui – chega a dar preguiça. No entanto, para além dessas afirmações, historiadores mais recentes, como Hayden White, que mescla o estudo da história com as teorias literárias, dirá que “uma das coisas que se aprende com o estudo da História é que tal estudo nunca é inocente ideologicamente, ou, de outra forma, isento da perspectiva política da esquerda, da direita ou do centro”. E, muito provavelmente é de afirmações como essas que professores de História, atualmente, comunicam aos seus alunos a verdade (supostamente) apodítica: “não há história sem ideologia”.
O problema é que minha perspectiva não é marxista, neo-marxista ou pós-marxista; é conservadora. E uma vez que o próprio conceito de conservadorismo é demonizado por todos aqueles que seguem a tradição marxista (neo-marxistas, pós-marxistas, estruturalistas e pós-estruturalistas inclusos), o debate está bloqueado e tudo o que meus críticos tem a me oferecer é sua indignação injustificada e os xingamentos. Ignoram que meus pressupostos partem das reflexões de filósofos como Eric Voegelin, que denuncia uma espécie de imanentismo da ciência histórica contemporânea, e assevera, em As religiões políticas, que, nessa espécie de apocalipse da imanência:
O mundo como conteúdo afastou o mundo como existência. Os métodos da ciência, como formas de estudo do significado do mundo, tornam-se nos métodos universais em que se deve fundir a atitude do homem em relação a ele; durante longos períodos, desde o século XIX até hoje, o termo “metafísica” tomou-se uma injúria e a religião num “ópio do povo” ou ainda, numa formulação mais recente, uma “ilusão” de futuro incerto. Face às religiões espirituais e à sua visão do mundo, formaram-se contrafórmulas que se legitimam a partir da ciência como sendo a única forma válida da inteligência, por oposição à Revelação e ao pensamento místico; desenvolvem-se , assim, as “concepções científicas do mundo”, o “socialismo científico”, o “estudo científico das raças”; todos os “enigmas do mundo” são inventariados e resolvidos. Ao mesmo tempo, assiste-se ao declínio do saber relativo às questões fundamentais do ser e da linguagem simbólica da sua expressão, que se divide em círculos restritos. Indiferentismo, laicismo e ateísmo tornam-se nas características de uma nova imagem do mundo que se impõe, incontestavelmente, por todo o lado.
Voegelin produz, ainda, uma crítica mordaz das ideologias como teorias que não tratam da realidade, mas são o reflexo de um processo de alienação. Em Reflexões autobiográficas, ele diz: “As ideologias destroem a linguagem, uma vez que, tendo perdido o contato com a realidade, o pensador ideológico passa a construir símbolos não mais para expressá-la, mas para expressar sua alienação em relação a ela”. A complexidade quase intransponível dessas teorias contemporâneas parecem reforçar essa tese.
Os estudos de Voegelin sobre as ideologias remontam os tempos bíblicos, passando pela filosofia clássica, pelo cristianismo e chegando à modernidade, e são corroborados por pensadores como Lewis S. Feuer, T. S. Eliot, Edmund Burke, Kenneth Minogue e Russell Kirk – que resume magistralmente, em seu A política da prudência, o truque retórico de Marx, que foi repetido, renovado e reinterpretado por todos os citados por mim anteriormente. A citação de Kirk é longa, mas é basilar:
O termo ideologia foi cunhado na época de Napoleão Bonaparte (1769-1821). Antoine-Louis-Claude Destutt de Tracy (1754-1836), o autor de Les Elements D’Ideologie, era um “metafísico abstrato” do tipo que, desde então, se tornou comum na margem esquerda do Sena, um ponto de encontro para ideólogos incipientes, entre os quais, em décadas recentes, o famoso libertador Kampuchea Democrático, Pol Pot (1928-1998). […] Destutt de Tracy e seus discípulos planejavam uma larga reforma educacional, que seria fundada sobre uma assim chamada ciência de ideias; eles se inspiraram fortemente na psicologia de Étienne Bonnot de Condillac (1715-1780) e, em menor grau, em John Locke (1632-1704). Rejeitando a religião e a metafísica, esse primeiros ideólogos acreditavam que poderiam descobrir um sistema de leis naturais – sistema que, caso obedecido, poderia tornar-se o fundamento da harmonia e do contentamento universais. Doutrinas de autointeresse, produtividade econômica e liberdade pessoal estavam ligadas a essas noções. Filhos temporãos de um moribundo Iluminismo, os ideólogos pressupunham que o conhecimento derivado das sensações, sistematizado, poderia aperfeiçoar a sociedade por meio de métodos éticos e educacionais e de uma direção política bem organizada. […] Tais ideólogos eram, em geral, inimigos da religião, da tradição, dos costumes, das convenções, dos usos e dos antigos estatutos.
O conceito de ideologia foi consideravelmente transformado em meados do século XIX, por Karl Marx (1818-1883) e sua escola. As ideias, Marx argumentou, não são nada além da expressão de interesses de classe, definidos em relação à produção econômica. A ideologia, a assim chamada ciência das ideias, torna-se, então, uma apologia sistemática das demandas de uma classe – nada mais. [...] Para expressar esse ponto nos termos diretos e maliciosos do próprio Marx, aquilo que se chama de filosofia política é meramente uma máscara para o egoísmo econômico dos opressores – assim declaram os marxistas.
Entretanto, os explorados, como disse Marx, também desenvolvem sistemas de ideias para avançar seus projetos revolucionários. Dessa forma, o que chamamos de marxismo é uma ideologia com o objetivo de alcançar a revolução, o triunfo do proletariado e, por fim, o comunismo. Para o marxista coerente, as ideias não têm nenhum valor em si mesmas: como toda arte, valem apenas como um meio para alcançar a igualdade de condições e a satisfação econômica. Ao mesmo tempo que escarnece das ideologias de todas as outras convicções, o marxista constrói, com astuciosa paciência, a própria ideologia. […] Kenneth Minogue, no livro Alien Powers: The Pure Theory of Ideology, utiliza o termo “ideologia” para “denotar qualquer doutrina que apresente a verdade salvífica e oculta do mundo sob a forma de análise social. É característica de todas essas doutrinas a incorporação de uma teoria geral dos erros de todas as outras”. Essa “verdade salvífica e oculta” é uma fraude – um complexo de “mitos” artificiais e falsos, disfarçados de história sobre a sociedade por nós herdada. Eric Voegelin (1901-1985), Gerhart Niemeyer (1907-1997) e outros escritores enfatizaram que os ideólogos “imanentizam os símbolos da transcendência” – isto é, corrompem a visão da salvação pela graça após a morte, com falsas promessas de completa felicidade neste reino terreno. [...] A ideologia torna impossível o compromisso político [….] Quando o fanatismo ideológico rejeita qualquer solução conciliatória, os fracos vão para o paredão. As atrocidades ideológicas do “Terceiro Mundo”, nas últimas décadas, ilustram o ponto: os massacres políticos no Congo, Timor, Guiné Equatorial, Chade, Camboja, Uganda, Iêmen, El Salvador, Afeganistão e Somália. […] As ideologias são acometidas de um feroz facciosismo, na base do princípio da fraternidade – ou morte. As revoluções devoram os seus filhos. Por outro lado, o políticos prudentes, rejeitando a ilusão de uma verdade política absoluta, diante da qual todo cidadão deve se curvar, entendem que as estruturas políticas e econômicas não são meros produtos de uma teoria, a serem erigidos num dia e demolidos no outro; pelo contrário, instituições sociais se desenvolvem ao longo dos séculos, como se fossem orgânicas. O reformador radical, proclamando-se onisciente, derruba todos os rivais para chegar mais rapidamente ao Paraíso Terreno. (A política da prudência, É Realizações)
As afirmações de Kirk e dos conservadores são um assunto fechado? Não. Devem ser interpretadas como verdade absoluta? Não. Tampouco as afirmações de marxistas, estruturalistas et alli. São passíveis de debate como qualquer outra. Mas se é assim, então por que universitários investiram com tanta ferocidade contra a chamada para o meu curso? Por que os acadêmicos se mostram tão intolerantes e autoritários diante do mínimo contraditório? Por que minha afirmação, por exemplo, de que não há algo denominado racismo estrutural no Brasil, é vista como um escândalo e não como um convite à discussão? Por isso mesmo considero o meu curso como um desafio a todos os brasileiros que querem ajudar o país a emergir dessa realidade tão aterradora; pois, se não permitem o debate, se rechaçam o dissenso, é porque desejam manter a hegemonia de pensamento e, consequentemente, o poder. Diante de tamanho autoritarismo, a educação perde, a cultura perde, o Brasil perde.
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