O técnico de futebol Roger Machado Marques.| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

Desejamos conquistar a glória de uma superação de nossa emancipação, pelo espírito de solidariedade em toda sua extensão de harmonia e da persuasão. Já que no Brasil ainda não foi dado um testemunho vivo de qualquer espécie de reparação, como prova de sua justiça social ou política em relação ao problema do negro. (José Correia Leite, Porque lutamos, 1946)

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Estava preparando um artigo sobre educação, quando começaram a me chegar mensagens perguntando se eu tinha visto a entrevista do técnico Roger Machado, do Esporte Clube Bahia, após o jogo contra o Fluminense pelo Campeonato Brasileiro. Notei certo alvoroço, mas, mesmo sem ver, repliquei, no Twitter, a thread de um amigo historiador, que apresentava certos contrapontos às afirmações dadas na entrevista, e disse que aquilo me bastava. No entanto, mais tarde, quase sem querer, assisti à resposta do técnico que estava suscitando tantos debates e decidi fazer alguns comentários, no Twitter mesmo, que geraram certa repercussão – e que acabaram se transformando num debate com um rapaz que acompanha o meu trabalho. Por isso, decidi organizar melhor minhas críticas às afirmações de Machado, por considerá-las nocivas ao debate sobre o racismo no Brasil.

Primeiro quero dizer que a percepção de Roger Machado não está necessariamente errada. Mas é uma percepção, não um fato comprovável – pelo menos não sem grande discussão. As afirmações que ele faz são carregadas daquelas falsificações estatísticas que, apesar de serem dadas como fatos incontestáveis, prejudicam – e muito! – o debate e impedem uma verdadeira tomada de posição frente aos problemas reais. Gostaria de apresentar algumas de suas afirmações e fazer minhas ponderações, ponto a ponto. Vale lembrar que o contexto de sua resposta tem a ver com a campanha do Observatório da Discriminação Racial no Futebol – ONG que visa a denunciar e combater os casos de racismo, preconceito e discriminação racial no esporte –, que aproveitou a união dos dois únicos técnicos negros da série A, para chamar a atenção para suas pautas.

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Pois vamos lá:

  • “Com relação à campanha, vou repetir o que eu falei na entrada do campo, que não deveria chamar a atenção e ter uma repercussão grande dois treinadores negros estarem se enfrentando na área técnica, depois de terem tido uma passagem como protagonistas dentro do campo, mas para mim essa é a prova de que existe o preconceito porque é algo que chama a atenção”.

Bem, o primeiro problema aqui é a petição de princípio que o técnico faz. Se a campanha visa a chamar a atenção para um problema que eles querem combater, ele não deveria achar estranho, uma vez que essa era a intenção. Ou seja, para ele, a prova de que existe o preconceito é existir uma ONG que luta contra o preconceito. Mas pode ser que ele só tenha se expressado mal.

  • “À medida que a gente tem mais de 50% da população negra e a proporcionalidade que se representa não é igual; eu acho que a gente tem de refletir e se questionar. Se não há preconceito no Brasil, por que os negros conseguem ter um nível de escolaridade menor que o dos brancos? Por que a população carcerária, 70% dela é negra? Por que quem mais morre são os jovens negros no Brasil? Por que os menores salários entre brancos e negros, são para os negros? Entre as mulheres brancas e negras, são para as negras? Por que, entre as mulheres, quem mais morre são as mulheres negras?”

Essa é a falácia preferida dos militantes racialistas alinhados à concepção de classes sociais marxista, pois partem de uma percepção social correta – o número menor ou maior de negros em determinados extratos sociais e/ou profissionais –, mas apontam motivos apenas parcialmente corretos – quando não são totalmente errados. A começar, no caso específico do Brasil, pela dificuldade de sabermos quem é negro, pois o critério de autodeclaração é altamente subjetivo, e também sabemos que a maioria absoluta dos negros é, na verdade, composta por mestiços dos mais variados tons de pele e que somam 46,7% da população. Os pretos, como eu, somam somente 8,2% dos autodeclarados. Ou seja, partindo dos dados estatísticos do próprio IBGE, se temos, entre vinte técnicos da Série A do futebol, dois pretos, significa que temos, então, 10% de representatividade para 8,2% da população. Justíssimo! Se compararmos à totalidade dos negros – cuja soma entre pardos e pretos ultrapassa 50% da população –, então temos uma suposta sub-representação. Mas daí teríamos de supor que há uma quantidade considerável de negros querendo ser técnicos de futebol aos quais é negada a oportunidade. Quem prova isso? Ninguém. Mas parte-se do princípio que se não há um número equivalente de técnicos negros, é por causa do racismo.

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Outro detalhe importante: essa opinião não é unânime nem mesmo entre os negros que atuam no futebol. Paulo Isidoro, ex-jogador e técnico, hoje aposentado, em entrevista, apesar do estranhamento pondera: “Eu esperava tanto que alguém falasse isso comigo, é algo que me incomoda muito. O futebol brasileiro sempre teve vários destaques negros em campo, o nosso símbolo é negro (Pelé), mas fora de campo isso não acontece. Não sei se é preconceito, má qualificação... Acho que é um pouco de cada, acho que se você se qualificar bem, se você buscar aquilo que você quer, acho que você alcança. Mas às vezes é estranho. Olha o Andrade, como é; o cara é campeão brasileiro pelo Flamengo, time de repercussão mundial, e depois não consegue trabalho?”

Andrade, citado por Isidoro, assumiu o Flamengo – time onde é ídolo como jogador – em 2009, após a demissão de Cuca, e conquistou o título do Brasileirão. No entanto, foi demitido meses depois após três derrotas consecutivas. Alguns amigos técnicos dizem que foi por racismo. Lula Pereira – um dos técnicos negros mais bem preparados do país, mas que sente que as oportunidades lhe são negadas por racismo –, disse: “Andrade não foi o escolhido do Flamengo. Foi um acaso, uma solução temporária. Só assim que técnicos negros têm chance”. De si mesmo, que fez estágios no Bayern de Munique (Alemanha), Ajax (Holanda) e Milan (Itália) assevera: “Uma das coisas que falo é que o negro, quando subalterno, é bem aceito. Ele se esmera para fazer tudo melhor que o branco. Mas, para chegar ao comando, a coisa pega. Aí, é seríssimo […]. É um processo sutil de eliminação. Será que nós, em um país tão grande, não temos três atletas negros com capacidade de ser treinador?”. Ao site do Observatório da Discriminação Racial, que trata o seu caso como emblemático, disse: “Ouvi de empresários: ‘O pessoal do clube gostou do seu perfil, mas, me desculpe, você é preto’”. No entanto, o próprio Andrade procura não jogar a culpa na discriminação, mas nos empresários: “Hoje, está tudo nas mãos dos agentes. São eles que colocam os treinadores nos grandes clubes. Eu não tenho um empresário. Por isso, não tive essa oportunidade”.

Serginho Chulapa, o polêmico ex-jogador e hoje técnico auxiliar do Santos, discorda que o racismo seja um impeditivo para a maior quantidade de técnicos negros; muito pelo contrário, culpa a falta de interesse dos próprios negros: “Existem grandes ex-jogadores negros com capacidade para treinar. Mas falta interesse do negro. Se não se preparar, não vai ter espaço”. Carlos Alberto Dias, diretor do Matonense, vai na mesma linha: “Acho que a cor da pele não altera em nada. Às vezes, muitos ex-atletas pensam que só por terem jogado em grandes times, podem se tornar treinadores. Não é assim. Sinceramente, é um assunto complicado, mas para mim não existe isso no futebol”. E Raimundo Queiroz, atual dirigente do Aparecida de Goiás, culpa as circunstâncias: “O número de técnicos negros no mercado é pequeno, são poucos. São poucos os treinadores no mercado em disponibilidade. O Lula (Pereira) trabalhou anos e anos sem nenhum problema. É trabalho, não é a cor. Quem tem que buscar se profissionalizar são as pessoas. O clube não tem culpa, não vejo nenhum preconceito. O número de treinadores no mercado é reduzido. Os negros é que têm de buscar o espaço. Não importa a cor. Se for competente, vai conseguir”. Detalhe: todos os citados são negros.

Evidente que tais opiniões não são levadas em consideração pela militância, que afirma tratar-se de mera autopreservação. Aqueles que discordam, só o fazem para manter os seus empregos. Quem prova essa afirmação? Ninguém, embora seja normalmente aceita.

Sobre o nível de escolaridade, é óbvio que há uma disparidade, mas não entre negros e brancos, mas entre pobres e ricos – ou melhor: entre quem pode pagar uma escola particular para seus filhos e quem não pode. E como os negros ainda são os mais pobres na sociedade brasileira, são, de fato, os mais prejudicados. Mas essa é uma constatação de caráter econômico, não racial. Sim, os negros são os mais pobres por conta da herança escravista; mas se isso se mantém até hoje, não é porque há no Brasil um racismo estrutural que impede a mobilidade socioeconômica dos negros. O problema é que, como costumo dizer, o Brasil se tornou, há muito, um país muito bom para quem é rico, e muito ruim para quem é pobre. Os pobres, em geral, são extremamente prejudicados no Brasil; há pouco emprego e baixíssimo nível de investimento e empreendedorismo. Quando alguém consegue empreender, se não tiver um respaldo financeiro considerável para enfrentar as intempéries econômicas que o país enfrenta sazonalmente, sucumbe. Esse é o caso dos empreendedores mais modestos. Não nos faltam políticas públicas de inclusão, o que nos faltam são políticas públicas de liberdade, nas quais os negros – e pobres em geral – terão condições de potencializar seu poder econômico através do trabalho, não através da escravização do estatismo. O desenvolvimento econômico, como dizia André Rebouças, pela liberdade individual e pelo espírito de associação são “forças, todas filhas legítimas da Liberdade, perfeitamente reconhecidas pela ciência econômica como os mais poderosos agentes do progresso no século atual”.

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Há quem discorde dessa perspectiva? OK, mas não se pode simplesmente ignorá-la. Não mais.

As afirmações de Roger Machado são a mais pura manifestação da escravidão ideológica

Em relação aos demais itens – sobretudo população carcerária e disparidade salarial – ouso convidar-te, caríssimo leitor, a seguires as análises precisas do economista Thomas Sowell, um dos maiores intelectuais vivos do mundo. Sowell aponta, em Discriminação e disparidades (Record) – obra que analisei num capítulo para um livro da coleção Breves Lições (LVM, no prelo) sobre seu pensamento – que “algumas das mais grosseiras distorções da realidade envolvem omissões bastante simples. Ninguém precisa ser especialista para ver através de muitas falácias estatísticas, incluindo aquelas baseadas em simples omissões. Mas fazer isso requer parar e pensar sobre os números, em vez de se deixar levar pela combinação entre estatística e retórica”. Se temos, como diz o técnico Machado, 70% de negros ocupando a população carcerária, deveríamos, novamente, nos perguntar quem é negro. Os pretos, é um fato que se pode constatar pelas fotos e filmagem nas cadeias, são minoria; os criminosos mais procurados pela Polícia Civil de São Paulo, por exemplo, não são, em sua maioria, pretos; nem os mais procurados pela Polícia Federal. Daí, repito: quem são os negros?

Até junho de 2013 – e os dados não devem ter mudado muito destes, retirados do site da Afropress – o Brasil tinha 574.027 pessoas presas, tendo a quarta maior população carcerária do mundo. Do total, 289.843 são pretas e pardas (86.311 pretas e 221.404 pardas). Os brancos são cerca de 176.137. Tais números nos mostram que os pretos são minoria no sistema carcerário. Qual a cor da pele desses denominados pardos? A cor de quase todos os brasileiros.

Sowell afirma, ainda, que “o que seria relevante para testar a hipótese de que negros são desproporcionalmente presos pela polícia ou condenados e sentenciados pelos tribunais, seriam dados objetivos sobre a proporção de violações particulares da lei cometidas por negros, comparada à proporção de negros presos, condenados e sentenciados por essas violações”, dado dificílimo de conseguir. Se quem mais morre é o jovem negro, seria importante saber quem mais mata; se fizesse essa pesquisa – praticamente impossível de obter resultados concretos, uma vez que somente 5% dos casos de assassinatos são solucionados no Brasil –, Machado saberia que, muito provavelmente, os que matam e os que morrem têm o mesmo perfil. E não sou eu que afirmo isso, é o Ipea – conforme digo em outro artigo, aqui, nesta Gazeta do Povo.

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Sobre as disparidades salariais, Sowell afirma, em Fatos e falácias da Economia (Record), que “comparações brutas de grupos raciais e étnicos são apenas um ponto de partida no processo de tentar compreender os fatores em funcionamento na produção de diferenças de rendas e ocupações num determinado momento, assim como ao longo do tempo”. Vejamos que dados interessantes ele nos traz da sociedade americana:

O censo dos Estados Unidos no ano 2000 mostrou que os rendimentos médios dos negros tinham sido de 27.264 dólares em 1999, em comparação com uma média nacional de 32.098 dólares, de tal forma que os negros tinham em média 85% dos ganhos de norte-americanos em geral. No entanto, famílias negras ganhavam apenas 66% da média nacional. A causa disso se deve ao fato de a família negra média ser formada por menos pessoas do que as famílias norte-americanas em geral, uma vez que uma proporção maior de famílias negras não tem pais presentes. No entanto, quando casais formados por negros foram comparados com outros tipos de casais, os primeiros ganhavam 88% do rendimento médio nacional dos demais — 50.690 dólares, em comparação com uma média nacional de 57.345 dólares.

Ou seja, quanto mais você especifica os grupos, as disparidades podem mudar consideravelmente. Sem contar que esse tipo de estatísticas genéricas que apresentam para provar a discriminação, geralmente ignora a rotatividade de pessoas em determinadas faixas salariais. Voltando a Discriminação e disparidades, Sowell afirma que “a litania de resultados altamente assimétricos, tanto entre seres humanos quanto na natureza, é quase ilimitada. Apesar disso, persiste a suposição implícita de que resultados iguais, ou ao menos comparáveis, deveriam existir entre diferentes grupos de pessoas, a não ser que houvesse intervenções adversas contra alguns ou deficiências genéticas entre outros”.

A respeito das disparidades salariais femininas, peço licença, prezados leitor, para apresentar – ou te fazer rever – o vídeo abaixo. Trata-se de um debate entre Thomas Sowell e Harriet Pilpel, uma militante feminista. Os argumentos de Sowell me parecem irrefutáveis – mas provável e infelizmente são desconhecidos de Roger Machado:

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  • “Quando eu respondo às pessoas que eu não sofri preconceito diretamente, a ofensa, a injúria é só um sintoma dessa grande causa social que temos; porque a responsabilidade é de todos nós, mas a culpa desse atraso depois de 388 anos de escravidão, é do Estado. Porque é através dele que essas políticas públicas, que nos últimos 15 anos foram institucionalizadas e resgataram a autoestima dessas populações que, ao longo de muitos anos, tiveram negados essas assistências básicas, elas estão sendo retiradas nesse momento; e, na verdade, esses aumentos de casos que estão havendo agora, de aumento de feminicídio, homofobia, os casos diretos de preconceito racial, é um sintoma, porque a estrutura social é racista. Porque nós temos um sistema de crenças e regras que é estabelecido pelo Poder – e o Poder é poder do Estado, é o poder das comunicações e é o poder da Igreja. E quando esses poderes não enxergam ou não querem aceitar e assumir que o racismo existe e que precisa haver uma correção nesse curso, muitas vezes dizem que estamos nos vitimando, ou que há um racismo reverso”.

Concordo com Machado que o problema é do Estado, mas não porque ele negue o problema, mas porque não tem capacidade de resolvê-lo. O Estado brasileiro é um perpetuador de oligarquias, as leis brasileiras – inclusive as leis trabalhistas, tão louvadas por progressistas em geral – dificultam a mobilidade social. Mas fica claro compreender o pensamento de Roger Machado quando ele expõe um detalhe importante de sua “aula de sociologia” (como alguns disseram). Machado diz que as políticas públicas dos governos anteriores – petistas, obviamente – resgataram a autoestima da população pobre; mas que, infelizmente, estão sendo tiradas nesse momento. Pois então deixo aqui alguns questionamentos ao técnico – que, aparentemente, vivia no mundo da fantasia até 2018.

Gostaria que Roger Machado me respondesse quão gloriosas foram essas políticas públicas se, atualmente, os dados não são nada animadores. Se desde 2016 os números mostram que a miséria no Brasil aumentou – e continua aumentando; se o número de pobres aumentou; se, como ele mesmo diz, os jovens negros é que mais morrem – e, como ele não diz, mais matam – no Brasil; se os dados da educação, em 2016, já apresentavam estagnação e o Brasil figurava entre os piores colocados nos testes internacionais; se o endividamento só cresce entre os mais pobres; se, apesar do aumento em quantidade, a qualidade das universidades brasileiras vem piorando ano após ano; se a maioria dos jovens negros cresce em lares disfuncionais por conta de ideologias que espalharam, na periferia, que a família era uma construção opressora da burguesia – como analiso neste artigo. Que mundo de maravilhas é esse onde Machado viveu nos últimos 15 anos e que, somente agora, nesse governo que ele deve odiar – e pelo qual também não nutro nenhuma simpatia –, piorou?

Na verdade, as afirmações de Roger Machado são a mais pura manifestação da escravidão ideológica. Ele se comporta como um “negro da casa petista”, que foi aprisionado nessas narrativas – que reproduz sem o mínimo de critério –, e se sente grato aos seus senhores pelas migalhas caídas de suas mesas – mesmo que tenham subtraído bilhões das mesas e das bocas dos pobres brasileiros.

Sobre essa questão do Poder, Machado delira num marxismo de ensino médio. É preciso ignorar completamente o que é e como se forma a cultura de um país, para interpretá-la sob esse reducionismo maniqueísta que não sobrevive à mínima análise mais detida e factual. Mas não quero importunar-te mais, caríssimo e paciente leitor. Nosso técnico ainda falou sobre democracia racial, o mito de um mito que os próprios sociólogos marxistas criaram a fim de demonizar a obra de Gilberto Freyre. Mas essa análise podes acompanhar aqui, neste artigo.

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O que Roger Machado propõe? Nada de concreto – a não ser, implicitamente, essa ideia estúpida de cota para técnicos negros. Faz um apanhado de ilações mal formuladas, mas que, carregadas de um sentimentalismo tóxico que comove – ainda que não resistam à realidade –, causam indignação e, assim, alimentam a animosidade de néscios e inconsequentes que não desejam verdadeiramente solucionar o problema, mas vingar-se de seus supostos algozes. O racismo brasileiro não pode ser combatido com ressentimentos e sentimentalismos anacrônicos, mas com inteligência, com perspectiva histórica e com cultura – sobretudo para as crianças e jovens. Machado é um reprodutor de ódio ideológico, por isso suas afirmações, que jogam nas costas de todos os brancos da sociedade atual as mazelas sociais que historicamente nos assolam, promovem a injustiça. E se os negros ainda são os mais vulneráveis da sociedade brasileira, não é inteligente insurgir-se inconsequentemente contra um suposto sistema que nos oprime, é preciso ter prudência.

Por fim, quero deixar registradas as palavras sempre providenciais do Rev. Martin Luther King Jr., fonte de lucidez em meio aos delírios ideológicos:

Precisamos de uma liderança serena, mas decidida. Agora não é o momento para agitadores, negros ou brancos. Precisamos reconhecer que combatemos o mais penoso problema social do país, e, ao combater um problema tão complexo como esse, não há lugar para sentimentalismos enganadores. Devemos trabalhar apaixonada e continuadamente pela liberdade; mas devemos ter certeza de que, no decorrer da luta, não sujaremos as nossas mãos. Não devemos lutar com falsidade, ódio ou malícia. Nem devemos guardar mágoas. Há o perigo de alguns de nós, que tanto tempo fomos forçados a permanecer no meio de uma trágica noite de opressão – aqueles de nós que fomos pisoteados, aqueles de nós que fomos esmagados – há o perigo de sermos tomados pela mágoa. Mas se nos abrirmos à mágoa e cedermos a uma campanha de ódio, a nova ordem que surge nada será além da reprodução da velha ordem. Enfrentemos o ódio com amor. Enfrentemos a força física com a força da alma.