O presidente russo, Vladimir Putin, e o líder norte-coreano, Kim Jong-Un.| Foto: Gavril Grigorov/EFE/EPA
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O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, declarou que seu país pode, em breve, ser obrigado a lutar contra tropas norte-coreanas, em plena Europa. Suas palavras repercutiam dados de inteligência da própria Ucrânia, mas também informações divulgadas pelos governos da Coreia do Sul e dos Estados Unidos, que indicam a presença de alguns milhares de soldados da Coreia do Norte em território russo.

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A entrada da Coreia do Norte na guerra, que parece se confirmar, é o desdobramento de um acordo militar assinado em junho deste ano entre russos e norte-coreanos. O acordo prevê o fornecimento de assistência militar mútua entre os dois países em caso de guerra. De forma significativa, a câmara baixa do parlamento russo ratificou o pacto por unanimidade, justamente na semana passada.

A presença de tropas da Coreia do Norte na frente de combate amplia de forma muito significativa o enorme apoio logístico que o país já vinha fornecendo à Rússia na guerra contra a Ucrânia e suscita grandes preocupações no leste da Ásia, na Europa e nos Estados Unidos.

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Reunidos em Washington, os Conselheiros Nacionais de Segurança dos EUA, Coreia do Sul e Japão – países que conformam uma Aliança de Segurança – expressaram “grave preocupação” com a possibilidade de emprego de tropas norte-coreanas na guerra da Ucrânia e conclamaram russos e norte-coreanos a cessarem esse tipo de cooperação.

Tudo isso ocorre em um momento de especial agravamento das tensões entre as duas Coreias, no qual o governo do Norte alterou a Constituição para definir formalmente a Coreia do Sul como um “estado hostil", além de ordenar a destruição de estradas e ferrovias que conectam as duas Coreias, literalmente “explodindo as pontes” que ligam os dois países.

As preocupações da Coreia do Sul são de natureza prática. Em troca de que estão sendo empregados milhares de soldados norte-coreanos? Suspeita-se que os russos possam estar repassando tecnologias sensíveis nas áreas missilística, satelital, nuclear e cibernética, entre outras.

Além disso, o emprego de milhares de soldados em um confronto real fornecerá aos norte-coreanos uma experiência de combate significativa, da qual os sul-coreanos não dispõem. Reagindo de forma veemente, o presidente, Yoon Suk Yeol, afirmou que a Coreia do Sul poderá revisar sua política e passar a fornecer armas à Ucrânia, dependendo do nível de envolvimento das tropas norte-coreanas na guerra.

A atuação da Coreia do Norte na Ucrânia deixa mais clara a formação de blocos antagônicos que começam a se confrontar em diferentes regiões ao redor do globo, relembrando políticas de alianças que já levaram a humanidade a guerras mundiais

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A Rússia recebe o apoio da Coreia do Norte na guerra contra a Ucrânia, que, por sua vez, é apoiada pela OTAN e pelos EUA. Em contrapartida, os EUA são aliados da Coreia do Sul, mantendo 27 mil militares naquele país, que está em permanente confronto com seu vizinho do norte, aliado da Rússia. Isso sem mencionar que, também no Oriente Médio, russos e norte-americanos estão em lados opostos, com os EUA apoiando Israel e os russos recebendo armas iranianas para uso na guerra da Ucrânia e, em troca, fornecendo dados de inteligência e provavelmente tecnologias críticas aos iranianos.

Dessa forma, fica clara a formação de um bloco, que, na falta de um nome melhor, vou chamar de “Eixo Autoritário Euro-Asiático”, composto por Rússia, Coreia do Norte e Irã, em oposição a um bloco já consolidado, formado pela OTAN e seus parceiros tradicionais na Ásia: Coreia do Sul e Japão, além de Israel.

Uma pergunta que surge neste ponto é: para onde penderá a China nesta confrontação? Afinal, sua rivalidade com os EUA é evidente, assim como sua “amizade sem limites” com a Rússia e sua relação especial com a Coreia do Norte, único país com o qual a China mantém uma aliança militar formal, firmada em 1961.

Até agora, embora existam acusações de que a China repassa à Rússia tecnologias de uso dual, e seja inegável seu papel de apoio econômico aos russos, não há relatos de vendas de armas e munições. Também na crise do Oriente Médio, o papel da China tem sido discreto. Mas existe um ponto de grande preocupação: Taiwan. Caso a crise no Estreito de Taiwan se intensifique, e os EUA apoiem decisivamente Taiwan, talvez esse seja o momento em que a China se alinhe definitivamente ao Eixo antiocidental, buscando o apoio decisivo de russos, iranianos e norte-coreanos.

A história não se repete, mas frequentemente rima, teria dito Mark Twain. A atual formação de blocos antagônicos traz à memória as duas guerras mundiais, nas quais, primeiro, a Tríplice Entente enfrentou a Tríplice Aliança e, depois, o Eixo confrontou os Aliados. São lembranças sombrias. Que os ensinamentos do passado orientem as ações dos líderes mundiais hoje, é o mínimo que se espera para evitar a repetição de catástrofes humanas que já ceifaram milhões de vidas.

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