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Paulo Filho

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Camaradas em armas: o impacto global da parceria entre Rússia e Coreia do Norte

Vladimir Putin e Kim Jong Un fazem um brinde durante uma recepção de estado, em Pyongyang, Coreia do Norte, 19 de junho de 2024. (Foto: Vladimir Smirnov/EFE/EPA/SPUTNIK/KREMLIN POOL)

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A recente visita do presidente da Rússia, Vladimir Putin, à Coreia do Norte selou o aprofundamento das relações entre os dois países, culminando na assinatura de acordos de defesa mútua.

O fato de a viagem ocorrer enquanto a Rússia trava uma guerra de alta intensidade na Ucrânia, e em um momento particularmente belicoso nas relações entre a Coreia do Norte e sua vizinha Coreia do Sul, aumenta significativamente os riscos geopolíticos na Europa e na Ásia, com reflexos globais.

O tratado de parceria estratégica, assinado por Vladimir Putin e Kim Jong-un, estabelece, dentre outras coisas, que “em caso de qualquer um dos Estados ser colocado em estado de guerra pela invasão armada de seu território por um ou mais Estados, o outro proverá assistência militar com todos os meios disponíveis, sem demora”.

Trata-se de uma redação que lembra a do famoso artigo 5º da Carta da OTAN. A aliança ocidental - liderada pelos EUA - estabelece um mecanismo de defesa mútua entre os seus membros ao dispor que um ataque armado, contra um ou mais estados membros da OTAN, será considerado um ataque a todos. Assim, consequentemente, cada um prestará assistência à parte ou partes atacadas, praticando sem demora a ação que considerar necessária, inclusive o emprego da força armada, para restaurar e garantir a segurança na região do Atlântico Norte.

A formalização do acordo celebrado entre “camaradas em armas”, conforme a expressão utilizada por Kim Jong-un, surge na esteira do enorme apoio que a Coreia do Norte vem fornecendo à Rússia, exportando armas e munições fundamentais ao esforço de guerra do país na invasão da Ucrânia. Estima-se que mais de 4,8 milhões de granadas de artilharia norte-coreanas já tenham sido enviadas à Rússia. Especula-se que a contrapartida poderia vir na forma do apoio russo aos programas espaciais e de mísseis da Coreia do Norte, ou pela transferência de outras tecnologias militares sensíveis - ainda não disponíveis para o exército norte-coreano.

Os impactos dessa movimentação já foram sentidos na península da Coreia, Ásia, Europa e mesmo no resto do mundo. Percebendo um aumento no nível da ameaça do outro lado da fronteira, sul-coreanos e norte-americanos reagiram prontamente, realizando manobras militares combinadas. O governo da Coreia do Sul também declarou que passava a considerar a hipótese - até aqui descartada - de enviar armas à Ucrânia, o que seria, nas palavras do presidente Putin, “um grave erro”.

Os chineses certamente não estão satisfeitos com a aliança entre a Coreia do Norte, país que sempre esteve em sua área de influência, e a Rússia. Primeiramente, porque o aumento das tensões na península da Coreia deve atrair ainda mais presença militar norte-americana para a região, o que contraria os interesses chineses. Em segundo lugar, porque potências não gostam de ver países que consideram estar na sua área de influência cortejados por outras potências, mesmo aquelas com as quais possuem uma “amizade sem limites” como é o caso atual entre russos e chineses.

Os EUA e os países ocidentais da Europa, especialmente os integrantes da OTAN, que há 859 dias apoiam a Ucrânia em uma guerra de escala industrial e de alta intensidade no continente europeu, também veem com preocupação a formação de um eixo de aliados que se lhes opõem.

Russos, iranianos e norte-coreanos são os pontos comuns que unem três teatros de operações altamente voláteis: o da Ucrânia, o da Faixa de Gaza e o da Península da Coreia

A história ensina que as guerras mundiais só ganharam essa dimensão porque diferentes disputas, em diferentes continentes, foram unificadas por sistemas de alianças que se opunham umas contra as outras.

A aliança entre Rússia e Coreia do Norte representa um novo desafio à segurança global, com potencial para desestabilizar diversas regiões. A reação dos países vizinhos, e das potências ocidentais, ressalta a gravidade da situação. As lições da história não deveriam ser ignoradas pela comunidade internacional, mas sim servirem de alerta para uma busca ainda mais urgente por soluções pacíficas e cooperativas.

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