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Paulo Filho

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Política internacional

2025 à vista: o fator Trump e os novos rumos da geopolítica global

Donald Trump
O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, em foto de julho de 2024. (Foto: Allison Dinner/EFE/EPA)

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Amanhã é o último dia de 2024. O ano que se encerra foi marcado por muita instabilidade geopolítica: as guerras continuam a ocupar as manchetes dos jornais, as tensões políticas se multiplicam, a crise climática se agrava e há um mal-estar generalizado nas sociedades. As pessoas se veem perplexas diante desses problemas, que se somam a outros, como a velocidade vertiginosa do desenvolvimento da inteligência artificial – avanço tecnológico que, se por um lado abre caminhos promissores, por outro traz consigo novos perigos, além de questionamentos éticos profundos.

Nesse contexto, 2025 se apresenta como um ano desafiador, especialmente na arena internacional, onde disputas de poder podem se intensificar, agravando riscos e desafiando os líderes globais para a busca de soluções.

Logo no início do ano, daqui a exatamente três semanas, Donald Trump assumirá a presidência dos EUA. As decisões e ações – ou omissões – do republicano certamente terão enorme importância na definição dos rumos dos mais importantes eventos relacionados à política internacional em 2025.

Até aqui, as declarações de Donald Trump sobre como conduzirá suas relações internacionais mostram uma disposição para o enfrentamento e a imposição de suas vontades

O próximo inquilino da Casa Branca assumirá em um contexto internacional muito complexo. A Rússia trava uma guerra de conquista na Ucrânia. A China aumenta a pressão militar sobre Taiwan e sobre o Mar do Sul da China. A Coreia do Norte continua a aumentar o seu arsenal nuclear, exemplo que pode ser seguido pelo Irã. Ao mesmo tempo, esses quatro adversários dos EUA vêm aumentando a colaboração entre si, apoiando-se mutuamente em contraposição aos interesses norte-americanos. Isso sem falar em um Oriente Médio conflagrado, uma Europa cheia de instabilidades políticas e uma América Latina cada vez menos disposta a alinhamentos automáticos com os EUA.

Donald Trump tem em alta conta suas próprias habilidades como negociador. Embora se saiba que as soluções para questões tão complexas quanto as de política internacional não se subordinam somente a eventuais capacidades negociais, pode ser que dê certo, inclusive com a ajuda das circunstâncias. Em fevereiro, russos e ucranianos entrarão no quarto ano de conflito, e os custos econômicos e humanos da guerra podem servir de poderoso estímulo para que ambos os contendores se sentem à mesa de negociação. Benjamin Netanyahu, em Israel, pode querer recompensar o apoio de Trump. Nessa hipótese, ele aguardaria a sua posse para selar o tão aguardado cessar-fogo com o Hamas, possibilitando ao americano comemorar como se fosse um êxito próprio. Os iranianos, por sua vez, que veem seus principais aliados no Oriente Médio serem duramente castigados pela campanha militar israelense, talvez não encontrem outra saída a não ser buscar um acordo diplomático com os EUA.

Por outro lado, as chances de dar errado não são desprezíveis. Putin pode estar convencido de que este é o momento para alcançar objetivos maximalistas na Ucrânia, não a hora de negociar. Os iranianos, especialmente depois da queda de Bashar al-Assad na Síria, podem imaginar que a manutenção do regime somente poderá ser garantida se o país seguir o exemplo da Coreia do Norte, tornando-se uma potência nuclear. Os chineses podem concluir que o momento para uma ação militar contra Taiwan é durante o governo Trump, não depois; afinal, ele mesmo já declarou que não se sentia obrigado a apoiar a ilha em caso de uma ação militar chinesa.

Até aqui, as declarações de Donald Trump sobre como conduzirá suas relações internacionais, no mais das vezes divulgadas por intermédio das redes sociais, mostram uma disposição para o enfrentamento e a imposição de suas vontades. Isso ficou especialmente claro nos últimos dias, com uma série de afirmações polêmicas.

No intervalo de uma semana, o futuro presidente dos EUA ameaçou retomar o controle do Canal do Panamá, em uma reação ao que ele considera ser a cobrança abusiva de tarifas pelo uso da via marítima pelos navios norte-americanos. Trump também manifestou o desejo de comprar a ilha da Groenlândia, por razões estratégicas e de segurança, obrigando o governo dinamarquês a reafirmar que aquele território não está à venda. Por fim, provocou o primeiro-ministro canadense, referindo-se a ele como “governador” e dizendo que seria uma boa ideia se o vizinho ao norte se tornasse o 51.º estado norte-americano.

Todas essas declarações ocorreram na esteira de outras que continham ameaças de aumento de tarifas alfandegárias contra praticamente todo mundo, de europeus a membros dos Brics, passando pelos vizinhos México e Canadá.

O retorno de Donald Trump à presidência dos EUA se mostra tanto um fator de instabilidade quanto uma possibilidade de reordenamento global

Como se tudo isso não bastasse, para além dos conflitos armados e das tensões geopolíticas, o mundo segue enfrentando dois grandes desafios transnacionais: o agravamento da crise climática e a adoção acelerada de tecnologias disruptivas, como a inteligência artificial. Embora essas questões apareçam como prioridade em fóruns internacionais, sua resolução depende, em grande medida, da vontade política das potências globais. Nesse sentido, a maneira como o governo Trump lidará com acordos ambientais, regulações tecnológicas e compromissos multilaterais poderá ampliar ou atenuar os riscos já existentes.

Em meio a tantas variáveis, o retorno de Donald Trump à presidência dos EUA se mostra tanto um fator de instabilidade quanto uma possibilidade de reordenamento global. Resta saber se a autoconfiança de Trump como negociador vai resultar em acordos que mitiguem conflitos ou se, pelo contrário, fomentará um aumento ainda maior das tensões.

Seja qual for o desfecho, 2025 começa sob o signo da incerteza, que abrange também as urgências climáticas, as transformações tecnológicas e a crescente polarização política. Os próximos meses, portanto, prometem demandar atenção redobrada dos líderes mundiais. Qualquer passo em falso pode redundar em consequências de longo prazo, com potencial para afetar todo o planeta.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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