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Enquanto todos olham para o norte, os alarmes disparam na América do Sul
| Foto: Miguel Gutiérrez/EFE

Completamente absorvidos pelas notícias vindas das eleições nos EUA, das guerras na Ucrânia e no Oriente Médio e das disputas no Indo-Pacífico, é fácil ignorar as crises que assolam nossos vizinhos sul-americanos. No entanto, não deveria ser assim, especialmente porque a situação na América do Sul está longe de ser tranquila.

A Venezuela continua a servir de palco para um Teatro de Absurdos. O governo, que já anexou a Guiana Essequiba por lei e antecipou o Natal para outubro, voltou a atrair atenção ao fraudar descaradamente as últimas eleições.

Agora, chamou seu embaixador no Brasil "para consultas", acusando o presidente brasileiro e seu assessor para assuntos internacionais de serem "agentes do imperialismo yankee". 

A irritação de Maduro se deve ao fato de o Brasil não ter reconhecido o resultado das eleições, claramente manipuladas para mantê-lo no poder, além de ter impedido que a Venezuela se juntasse aos BRICS como "país associado". Para o presidente venezuelano, uma verdadeira “facada nas costas”.

Enquanto essas tensões diplomáticas se desenrolam, mais de um milhão de venezuelanos migraram para o Brasil desde 2017. Cerca de meio milhão deles permanece no país, buscando uma vida mais digna, algo que se tornou impossível para a maioria dentro da própria Venezuela.

A Bolívia, país com o qual dividimos 3,4 mil km de fronteiras, do Acre ao Mato Grosso do Sul, vive uma crise política. O ex-presidente Evo Morales, que acaba de ser impedido pelo Tribunal Constitucional de se candidatar à presidência nas próximas eleições, estava em greve de fome na semana passada, por considerar que existe uma perseguição política e judicial contra ele.

Há diversas acusações graves contra Evo, inclusive violação de menores. Apoiadores do ex-presidente acabaram de encerrar uma onda de protestos na qual enfrentaram a polícia, bloqueando estradas por três semanas, causando desabastecimento inclusive na capital, La Paz.

O Equador, por sua vez, enfrenta uma crise energética sem precedentes. Desde agosto, o país sofre com a pior seca da história, o que reduziu o volume dos rios que alimentam as usinas hidrelétricas responsáveis por 75% da energia elétrica do país. Como resultado, desde 18 de setembro, os equatorianos convivem com apagões diários que duram entre 6 e 12 horas.

A previsão é que os cortes de energia continuem até março do próximo ano, se a situação não melhorar. As perdas econômicas são enormes: o Comitê Empresarial Equatoriano estima que cada apagão de 8 horas cause prejuízos de cerca de 96 milhões de dólares à economia do país.

Essas crises ocorrem em um contexto de instabilidade internacional, onde os reflexos da competição sistêmica entre EUA, China e Rússia também se fazem sentir no subcontinente sul-americano

Esse impacto ficará ainda mais evidente esta semana, quando os líderes do G-20 se reunirem no Brasil para a cúpula do grupo, expondo as rivalidades e divergências de interesses entre as principais potências mundiais.

Enquanto a América do Sul enfrenta crises internas e sofre os impactos da disputa entre as grandes potências globais, fica claro que a fragmentação política e a falta de cooperação entre os países da região apenas intensificam os desafios. O fortalecimento de um bloco sul-americano unido, com uma agenda comum, poderia ser a chave para promover maior estabilidade e desenvolvimento. 

No entanto, até que isso se concretize, o subcontinente continuará vulnerável tanto às dinâmicas geopolíticas externas quanto aos seus próprios problemas internos, com cada país buscando isoladamente alcançar seus objetivos. Sem uma ação coordenada, esses esforços seguirão limitados, deixando a região com pouca capacidade de influenciar seu próprio destino.

Conteúdo editado por:Aline Menezes
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