Gastos militares chegam a US$ 2,46 trilhões no mundo em 2024.| Foto: Necati Savas/Wu Hao/Aaron Schwartz/Al Drago/EFE/EPA/POOL/SPUTNIK/KREMLIN
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O International Institute of Strategic Studies (IISS) divulgou na última semana seu respeitado balanço anual, chamado Military Balance 2025. O documento faz uma radiografia das forças militares, apresenta os investimentos em Defesa e estabelece comparações fundamentais para a análise dos temas de Segurança e Defesa, servindo de base para estudos e avaliações estratégicas em todo o mundo.

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Os números do relatório confirmam uma realidade que salta aos olhos diariamente nas manchetes dos jornais e é conhecida de quem acompanha semanalmente este espaço na Gazeta do Povo: o mundo vive um período de grande instabilidade geopolítica. E, como sempre ocorre em momentos assim, os países reagem reforçando suas defesas.

Ao observarem seus vizinhos investindo em munições, armas, carros de combate, mísseis e submarinos, os países que ainda hesitavam se veem pressionados a seguir o mesmo caminho. 

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O medo de ficar para trás, somado à incerteza sobre as intenções alheias, acelera um ciclo de rearmamento mútuo. O que poderia ser uma precaução defensiva de um país acaba sendo interpretado como uma ameaça por outro, intensificando a dinâmica conhecida pelos estudiosos de Relações Internacionais como “Dilema de Segurança”.

Os principais achados do relatório do IISS foram os seguintes:

  • Os gastos globais com defesa atingiram US$ 2,46 trilhões em 2024, um crescimento real de 7,4% em relação ao ano anterior. O aumento já havia sido de 6,5% em 2023 e 3,5% em 2022. Todas as regiões, com exceção da África Subsaariana, registraram crescimento real nos gastos em 2024.
  • Como proporção do PIB global, os investimentos em defesa aumentaram de 1,59% em 2022 para 1,80% em 2023 e 1,94% em 2024.
  • O gasto militar total da Rússia cresceu 41,9% entre 2023 e 2024, alcançando US$ 145,9 bilhões.
  • A Europa teve um aumento expressivo de 11,7% nos gastos militares em 2024, com destaque para a Alemanha, cujo orçamento de defesa subiu 23,2% no último ano. O país agora tem o quarto maior orçamento militar do mundo.
  • A China ampliou seus gastos militares em 7,4% em 2024, mantendo a tendência de crescimento contínuo de seu orçamento de defesa.
  • No geral, os gastos militares na Europa cresceram mais de 50% em termos nominais na última década.

Coincidentemente, os dados do IISS foram divulgados na mesma semana em que o Secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, em discurso para os ministros da defesa dos países europeus, cobrou, em nome do presidente Donald Trump, que os países do velho continente aumentassem seus investimentos em defesa para 5% do PIB.

Na maioria dos casos, isso significaria mais que dobrar os atuais orçamentos militares. 

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A mensagem de Washington foi clara: a Europa precisa se rearmar, porque os EUA têm outras prioridades

Enquanto isso, o Brasil fica para trás. O investimento em defesa em 2024 não chegou a 1,1% do PIB, muito abaixo da média global de 1,94%. Esta é uma realidade preocupante. A defesa não se improvisa. A aquisição de sistemas e materiais militares leva anos entre a decisão de compra e a efetiva entrega dos equipamentos.

Ainda mais tempo — sem falar nos investimentos necessários — é exigido para o desenvolvimento de uma indústria de defesa robusta, capaz de atender às necessidades brasileiras. 

A decisão e a vontade política de implementá-la devem ser tomadas já, sob pena de, no futuro, as gerações que nos sucederem herdarem um país cujo mapa seria irreconhecível.

Alarmismo? Exagero? Não creio. Em 1994, a Ucrânia entregou seu arsenal nuclear à Rússia em troca de um compromisso formal de segurança, assinado pelos próprios russos, além de americanos e britânicos. Era o Memorando de Budapeste, que garantia a integridade territorial ucraniana.

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Pois bem, esta semana, na Arábia Saudita, dois dos signatários e garantidores do documento, os americanos e os russos, discutirão o redesenho do mapa da Ucrânia – sem que Kiev tenha muito a dizer sobre isso. Para aqueles que confiaram no tratado, o novo mapa será irreconhecível. Para os que acreditam que defesa é uma preocupação para depois que a ameaça já se instalou, fica a lição.