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A guerra em curso na Ucrânia tem mostrado que tanto os russos quanto os ucranianos usam as mais variadas táticas para atingir seus objetivos nos campos de batalha.
Entre essas, estão técnicas e procedimentos militares consagrados, que não são nenhuma novidade, como a guerra de trincheiras e o lançamento de largos campos de minas. Além do disparo incessante de salvas de artilharia, que já eram utilizadas na Primeira Guerra Mundial.
Essas táticas - que remontam séculos passados - convivem com o emprego da inteligência artificial, da comunicação satelital em larga escala e ao alcance de todos os combatentes e drones aéreos e navais. Isso para citar apenas alguns exemplos de sistemas e materiais que empregam as mais modernas tecnologias.
É compreensível a razão pela qual testemunhamos o uso concomitante de velhas e consagradas técnicas, com outras tão modernas que fazem sua estreia nos campos de batalha. Afinal, os exércitos sempre utilizarão as capacidades que lhes estiverem disponíveis e que lhes proporcionarem vantagem sobre o adversário, não importando se elas são consideradas modernas ou não. Para o soldado, que coloca sua vida em altíssimo risco, o que importa é o resultado. Ele vai utilizar o que estiver disponível para cumprir sua missão e tentar permanecer vivo.
Dito isso, é inegável, também, que guerras, especialmente aquelas travadas por potências militares do porte da Rússia e da Ucrânia, sempre servem de laboratório para o lançamento, e a experimentação, de novos sistemas de armas e tecnologias bélicas.
Assim acontece com os sistemas aéreos remotamente pilotados, os conhecidos drones aéreos. Embora eles não sejam exatamente uma novidade nos campos de batalha - pois já vêm sendo utilizados há alguns anos, como por exemplo pelos EUA, em suas campanhas no Oriente Médio, e pela Rússia, na Síria, bem como pelo Azerbaijão, em sua guerra contra a Armênia em 2020 - foi na guerra na Ucrânia que esse tipo de equipamento se tornou onipresente nos campos de batalha.
Os pequenos drones aéreos comerciais, simples e baratos, foram adaptados pela inventividade dos soldados e passaram a ser empregados como armas nos escalões mais baixos dos exércitos. Desta forma, operando com letalidade nas trincheiras ou estendendo a capacidade de observação, vigilância e aquisição de alvos para as tropas que atuam em primeiro escalão - aquelas que estão em contato direto com o inimigo.
Ao mesmo tempo, as loitering munitions, os chamados “drones camicases”, passaram a realizar ataques a longas distâncias, contra alvos em profundidade que antes só eram acessíveis por ataques aéreos ou de mísseis, muito mais dispendiosos.
Os drones navais, por sua vez, mostraram uma eficiência surpreendente. A Ucrânia, um país que praticamente não dispõe de uma marinha de guerra, conseguiu na prática negar o uso do Mar Negro à frota russa pelo emprego inteligente dessas armas, que utilizadas em conjunto com mísseis e outros sistemas, levaram à pique ou avariaram seriamente diversas belonaves russas.
O desenvolvimento da inteligência artificial e das comunicações já transforma a maneira como os comandantes russos e ucranianos tomam suas decisões de combate
Algoritmos já trabalham para filtrar a gigantesca quantidade de dados que fluem em direção aos tomadores de decisões no campo de batalha. Assim, auxiliando a separar o que é do que não é relevante, de forma a manter atualizados os quadros de situação das tropas em combate, além dos seus movimentos táticos.
Avanços da inteligência artificial permitirão ainda que, em um futuro brevíssimo, os drones sejam utilizados em grande quantidade, de forma coordenada e, com atenção, autônoma, ou seja, dispensando a necessidade de um operador humano. Esses verdadeiros “enxames” de drones terão uma enorme eficiência, logo, uma letalidade ainda maior.
Tal autonomia já suscita discussões éticas fundamentais: a humanidade vai admitir um meio e um método de combate pelos quais a decisão de selecionar e engajar um alvo seja tomada por uma máquina? Cuja escolha se baseou exclusivamente no que foi ditado pelos algoritmos que a programaram, sem a participação humana no processo decisório?
Para enfrentar a ameaça dos drones, ao lado do desenvolvimento constante das guerras eletrônica e cibernética, que buscarão novos meios de interferir e danificar as máquinas oponentes, outras tecnologias começam a surgir. São exemplos: as armas de energia dirigida, tais como lasers de alta energia e microondas de alta potência, que de forma muito mais eficiente, e também mais econômica, poderão ser utilizadas não só contra os drones, mas também contra aeronaves, mísseis e foguetes lançados pelo inimigo.
A ampla utilização de satélites, inclusive de redes privadas como a Starlink do Elon Musk, adicionou o espaço ao campo de batalha, de forma definitiva.
Esses satélites não apenas fornecem comunicação essencial, mas também desempenham um papel crucial na navegação, espionagem e direcionamento dos ataques, o que os transforma em alvos estratégicos, logo, passíveis de sofrerem ataques militares.
A militarização do espaço adiciona uma nova camada de complexidade e risco aos conflitos modernos, onde a destruição ou interferência de satélites pode ter consequências devastadoras para a condução das operações militares e para as infraestruturas civis dependentes dessas tecnologias.
A guerra na Ucrânia, como tantas outras que a antecederam, tem servido como um verdadeiro laboratório bélico, onde táticas centenárias e tecnologias de ponta coexistem e se complementam.
A utilização de drones, tanto aéreos quanto navais, e a dependência crescente de satélites exemplificam como a inovação e a criatividade podem transformar a condução de conflitos. No entanto, o avanço tecnológico traz à tona questões éticas e estratégicas complexas, como a automação das decisões de combate e a militarização do espaço. Enquanto novas armas e métodos são desenvolvidos para enfrentar essas ameaças, a guerra moderna continua a evoluir, trazendo novos desafios àqueles responsáveis por planejar e conduzir as operações militares.
Conteúdo editado por: Aline Menezes