• Carregando...
Captura de vídeo fornecido pelo Ministério da Defesa russo sobre o envio de tropas russas para a região de Kursk, face à incursão ucraniana.
Captura de vídeo fornecido pelo Ministério da Defesa russo sobre o envio de tropas russas para a região de Kursk, face à incursão ucraniana.| Foto: EFE/EPA/Ministério da Defesa da Rússia

A guerra entre Rússia e Ucrânia atingiu a marca de 900 dias, e os estrategistas ucranianos resolveram criar um evento inesperado para marcar a data: a invasão do território russo na região de Kursk.

Alcançar a surpresa é um dos princípios sempre buscados pelos planejadores militares. Entretanto, atualmente, com a abundância de sensores no campo de batalha — como radares, drones e até celulares, que rapidamente divulgam imagens possibilitando a localização das tropas — sem mencionar os satélites que monitoram o terreno 24 horas por dia, a surpresa se tornou praticamente impossível. Ainda mais a chamada “surpresa estratégica”, como essa em que a Ucrânia abre uma nova frente de batalha em pleno território russo.

Dessa forma, tal feito militar já insere a ofensiva de Kursk no rol das batalhas que entrarão para a história, certamente passando a ser estudada por militares de todo o mundo nos anos que estão por vir.

Os objetivos dessa ofensiva podem ser analisados em diferentes campos. Politicamente, representa um grande revés e um enorme constrangimento para o presidente Putin. Afinal, uma grande potência só é digna dessa designação se for capaz de garantir a completa inviolabilidade de suas fronteiras.

A ousada ação ucraniana mostra que o gigante russo talvez possua pés de barro. 

Além disso, a pergunta é: como o presidente Putin pode manter a narrativa de que a guerra é apenas uma “operação militar especial”, que ocorre sem afetar a vida da maioria dos civis russos, se cerca de 70 mil cidadãos estão sendo obrigados a evacuar suas casas na região de Kursk?

Ainda no campo político, mas sob a perspectiva ucraniana, a ofensiva é uma tentativa de reverter um momento bastante desfavorável. 

A possível vitória do ex-presidente Trump, nas próximas eleições norte-americanas, sinaliza uma redução drástica do apoio dos EUA aos ucranianos, somado ao cansaço da opinião pública europeia com a guerra. Isto aumenta a pressão por um acordo de paz que certamente poderia redundar em enormes perdas territoriais para a Ucrânia - colocariam o presidente Zelensky na defensiva.

No entanto, essa dinâmica muda caso a Ucrânia consiga manter a posse do território russo. Zelensky, que até então não tinha nada para barganhar, melhora substancialmente sua posição, pois, se for obrigado a sentar à mesa para a assinatura de um acordo de paz, pode exigir devolução de parte do território ucraniano em troca da restituição do território russo conquistado.

Do ponto de vista estratégico, a operação ucraniana exige que a Rússia mova tropas para reforçar a defesa da região invadida de seu território, para posteriormente tentar uma contraofensiva. Dado que não há muitas reservas disponíveis, boa parte dos soldados virá de outras frentes do Teatro de Operações. A expectativa dos ucranianos é que essa redistribuição de tropas alivie a pressão russa em áreas onde suas forças estão fortemente pressionadas, como no Leste do país, na região do Donbass.

A operação ucraniana também se revela como um poderoso instrumento na chamada guerra informacional, onde os corações e mentes estão em disputa

A moral da tropa, que vinha de constantes reveses, se revitaliza, e isso é fundamental para a manutenção do espírito combativo. A população, por sua vez, tem uma rara vitória a comemorar, o que certamente repercute no apoio dos cidadãos ao esforço de guerra e ao próprio governo ucraniano. 

Como se vê, a recente ofensiva do exército da Ucrânia, em território russo, não apenas altera a dinâmica militar, mas também impacta profundamente o cenário político e psicológico de ambos os lados. Resta saber se os ucranianos terão as capacidades militares necessárias para manter essas conquistas, ou se os russos farão valer sua condição de potência militar, assegurando a inviolabilidade do próprio território.

Conteúdo editado por:Aline Menezes
0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]