Em apenas dez dias, Israel realizou uma série de ações surpreendentes e sem precedentes, eliminando praticamente toda a liderança do grupo extremista Hezbollah, no Líbano. As ações começaram com as explosões dos pagers e rádios walkie-talkies, que atingiram principalmente as lideranças básicas e intermediárias da organização. Em seguida, Israel realizou ataques direcionados que eliminaram, um a um, os líderes seniores da milícia. A operação culminou na morte do seu chefe máximo, o clérigo Hassan Nasrallah, que foi sepultado sob os escombros do quartel-general do Hezbollah, destruído pelos bombardeios da força aérea israelense.
O Hezbollah foi criado em 1982, no Líbano, que vivia sob invasão israelense em plena guerra civil. Em 1985, o grupo publicou um manifesto declarando seu objetivo: a destruição de Israel, além de replicar, no Líbano, uma revolução nos moldes da iraniana e instaurar um Estado islâmico xiita. Além disso, o grupo jurou lealdade ao líder supremo do Irã, à época o aiatolá Khomeini. Desde o nascimento, o Irã esteve intimamente ligado ao Hezbollah, provendo armamento, apoio material e inspiração ideológica.
Hassan Nasrallah assumiu a liderança do Hezbollah em 1992, após Israel eliminar Abbas al-Musawi, cofundador e então líder da milícia. Sob seu comando, o Hezbollah se transformou na mais poderosa organização não estatal a desafiar o Estado de Israel. Entretanto, essa imagem de um grupo paramilitar poderoso, capaz de dissuadir Israel, desmoronou nos últimos quinze dias. Os recentes ataques israelenses golpearam fortemente a milícia. Seus integrantes não confiam mais no próprio sistema de comunicações, e todos os seus principais líderes estão mortos. Essa é uma combinação fatal para o comando e controle do grupo, que está completamente desorientado.
Do ponto de vista exclusivamente militar, este momento de profunda vulnerabilidade do Hezbollah é o ideal para Israel desferir um ataque terrestre que debilite completamente o grupo, limitando severamente sua capacidade de atuação por alguns anos. Mas, como ensinou Clausewitz, a guerra é a continuação da política por outros meios. Logo, a decisão de uma invasão terrestre não leva em consideração aspectos puramente militares, mas também – e principalmente – aspectos políticos. Em razão disso, é possível que considerações de política interna, somadas a pressões internacionais, evitem ou retardem uma invasão terrestre do território libanês nos próximos dias.
Ademais, qualquer decisão israelense dependerá do comportamento do Irã, um ator fundamental nessa equação, que por sua vez vive um dilema difícil de resolver.
Como líderes do "Eixo da Resistência", composto pelo Hezbollah, Hamas, Houthis do Iêmen e diversas milícias xiitas da Síria e do Iraque, os iranianos têm a obrigação de socorrer o Hezbollah. Caso contrário, podem ver sua autoridade sobre esses grupos ruir e sua influência no Oriente Médio se enfraquecer significativamente. Por outro lado, debilitado economicamente e dividido politicamente, o Irã não deseja uma guerra total contra Israel e seus aliados norte-americanos. Esse cenário poderia colocar em risco a própria continuidade do regime teocrático iraniano.
Enquanto o Hezbollah tenta se reorganizar após os devastadores ataques israelenses, o equilíbrio de poder no Oriente Médio chega a um ponto decisivo
O futuro da milícia e o papel do Irã na região estão em xeque, com ambos enfrentando escolhas difíceis. A resposta de Teerã ao golpe sofrido pelo Hezbollah pode redefinir suas alianças e a geopolítica regional nos próximos meses.
Israel, por sua vez, também vive um dilema e deve pesar cuidadosamente seus próximos passos: uma invasão terrestre do Líbano poderia desferir um golpe praticamente fatal sobre o Hezbollah, um inimigo de décadas.
Por outro lado, poderia deixar o Irã sem outra saída que não reagir, inflando ainda mais o conflito, com consequências imprevisíveis para todo o Oriente Médio e o mundo.
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