Na semana passada, as atenções do mundo se voltaram para a convenção do Partido Democrata, nos EUA, que formalizou a indicação da atual vice-presidente, Kamala Harris, como candidata às eleições presidenciais de novembro. O evento seguiu o estilo típico norte-americano, combinando discursos de Harris, de seu vice, e de grandes nomes do partido, como o presidente Biden e os casais Clinton e Obama, com falas de estrelas do entretenimento. Não faltaram lágrimas e profissões de fé no futuro.
Com as convenções partidárias encerradas, as atenções se voltam para as propostas de política externa da candidata à presidência dos EUA. Em um cenário global de tensões crescentes, como não se via desde o final da Guerra Fria, o posicionamento do(a) próximo(a) presidente dos EUA em relação às crises atuais será crucial para o futuro dos acontecimentos.
Em um eventual mandato a partir de 2025, espera-se que Harris mantenha as diretrizes gerais da política externa do governo Biden.
No caso da guerra entre Rússia e Ucrânia, isso implicaria na continuidade do apoio dos EUA aos ucranianos - embora o desgaste da opinião pública com o conflito, e a oposição de muitos congressistas republicanos ao financiamento da guerra, possa gerar pressão para uma redução gradual dessa ajuda.
Esse é um dos pontos em que há maior divergência em relação a um possível governo do outro candidato na disputa, Donald Trump, do Partido Republicano, que quase certamente reduziria significativamente o apoio dos EUA à Ucrânia e pressionaria por um acordo de paz, mesmo que isso significasse, na prática, uma rendição quase incondicional da Ucrânia à Rússia.
No caso da guerra na Faixa de Gaza, embora Harris tenha defendido o direito de Israel de se proteger contra os ataques de seus inimigos, espera-se que, caso se torne presidente, adote uma postura mais crítica em relação ao governo do Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu.
Kamala não compareceu ao discurso de Netanyahu no Congresso dos EUA, no mês passado, e já expressou preocupação com o sofrimento da população civil de Gaza devido às ações militares israelenses
Nesse ponto, Trump provavelmente manteria uma relação mais próxima com Netanyahu do que Harris. Mas, no geral, o apoio dos EUA a Israel, seu principal aliado no Oriente Médio, não mudaria significativamente com nenhum dos dois candidatos na Casa Branca.
Em relação à região do Indo-Pacífico - o principal foco geopolítico dos EUA atualmente - espera-se que Harris mantenha a política de Biden em relação à China. Em seu discurso na convenção, ela prometeu que "a América, não a China" vencerá no século XXI.
Curiosamente, enquanto Harris nunca esteve na China, seu candidato a vice, o governador de Minnesota, Tim Walz, visitou o país diversas vezes, tendo trabalhado como professor de inglês na província de Guangdong, na década de 1980. Por isso, é possível que Walz desempenhe um papel importante nas relações com a China caso se torne vice-presidente em 2025.
Ainda no contexto do Indo-Pacífico, Harris mantém alguma proximidade com o presidente das Filipinas, Ferdinand Marcos Jr., o que pode ser relevante em um momento em que as relações entre chineses e filipinos estão especialmente tensas.
De qualquer forma, a política de Biden em relação à China foi, em grande parte, uma continuação da política de Trump, aprofundando, em muitos aspectos, a guerra comercial iniciada por seu antecessor. Não se espera, portanto, grandes mudanças na abordagem norte-americana em relação à China, seja com Harris, ou com Trump na Casa Branca.
À medida que o cenário eleitoral nos EUA caminha para uma decisão, o mundo observa atentamente como a futura liderança norte-americana abordará as questões internacionais. Seja com Kamala Harris ou Donald Trump, as continuidades e mudanças nas abordagens dos EUA em relação às principais questões geopolíticas globais afetarão não só os norte-americanos, mas também o equilíbrio de poder em todo o mundo.
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