O longo e peculiar processo das eleições presidenciais dos EUA se encerra amanhã. O resultado das urnas, que definirá o(a) próximo(a) ocupante da Casa Branca, terá impacto imediato em todo o mundo, especialmente nas dinâmicas geopolíticas que abordamos semanalmente neste espaço, aqui na Gazeta do Povo.
A ansiedade pelos resultados não afeta apenas os norte-americanos. Certamente há muitos russos, ucranianos, israelenses, iranianos, taiwaneses e chineses fazendo cálculos e ajustando estratégias de relacionamento, caso o botão que aciona as armas nucleares norte-americanas passe a ser controlado por Kamala Harris, ou volte a ser guardado por Donald Trump.
Prever o futuro é sempre arriscado, mas há indícios suficientes para tentar antecipar a abordagem de Trump e Kamala em relação a algumas das principais questões internacionais da atualidade.
Comecemos pela guerra entre Rússia e Ucrânia, um tema no qual as diferenças entre os dois candidatos são bastante evidentes. Enquanto Harris deve manter a atual política de apoio militar e econômico à Ucrânia, Trump já afirmou diversas vezes que, se eleito, intermediará um acordo entre os lados antes mesmo de tomar posse. Suas críticas frequentes à Ucrânia, chegando a culpar o presidente Zelensky pelo conflito, levam os ucranianos a temerem uma retirada drástica do apoio dos EUA, o que os obrigaria a aceitar um acordo amplamente desfavorável com a Rússia e, possivelmente, a uma perda territorial substancial e quase irreversível.
Ciente dessa possibilidade, Zelensky tem feito apelos à visão transacional de Trump, destacando o valor econômico da Ucrânia como um país rico em recursos naturais estratégicos, como titânio, grafite e lítio, essenciais para os interesses econômicos dos EUA em uma economia cada vez mais voltada para tecnologias sustentáveis e inovadoras.
No Oriente Médio, é improvável que qualquer um dos candidatos mude o apoio militar e econômico ao principal aliado dos EUA na região, Israel
No entanto, Harris provavelmente adotaria uma postura mais crítica em relação ao governo Netanyahu, pressionando por um cessar-fogo e negociações com os palestinos. Trump, por outro lado, teria uma postura mais condescendente com as ações militares de Israel na Faixa de Gaza e no Líbano.
Para a China, os desafios permanecem, independentemente de quem vença. Ambos os candidatos devem manter uma postura firme na disputa comercial, mas Trump já declarou que imporá “tarifas gerais” sobre as exportações chinesas, sugerindo uma postura ainda mais agressiva do que a de Kamala nesse aspecto.
Em relação a Taiwan, entretanto, os papéis se invertem. O governo Biden tem trabalhado bastante para fortalecer sua aliança com Coreia do Sul, Japão, Filipinas, Austrália e Índia, além de ter celebrado acordos substanciais de transferências de armas e munições para Taiwan. Tudo indica que Kamala daria continuidade a essa política, enquanto Trump demonstra bem menos interesse por essas questões. Com isso, a China provavelmente considera que negociar com Trump em relação a Taiwan seria mais fácil do que com Kamala.
Em linhas gerais, Kamala representa uma continuidade da atual política externa dos EUA, enquanto Trump adotaria uma postura mais isolacionista, focando mais em questões comerciais imediatas do que em uma grande estratégia de longo prazo para manter a primazia global dos EUA.
À medida que o mundo observa ansiosamente o desfecho das eleições norte-americanas, é evidente que os rumos da política externa dos EUA influenciarão o equilíbrio geopolítico global. Independentemente de quem seja o vencedor, a mensagem é clara: estamos em uma era de incertezas, onde decisões tomadas em Washington têm o potencial de reverberar com força em cada canto do planeta.
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