O avanço tecnológico desafia muitas indústrias, mas em poucas o debate é tão intenso quanto no jornalismo. A internet permite aos leitores acessarem grande quantidade de informação à baixo custo, mas o conteúdo sem filtro dá margem às fake news. Importantes eventos políticos recentes por todo mundo são atribuídos a elas, da eleição de Trump ao Brexit, passando pelo pleito de independência da Catalunha.
Como vão ser os próximos 100 anos dos jornais?
A Civil é uma start-up americana que está pensando no problema. À medida que a propaganda em jornais impressos e os classificados perdem importância, o jornalismo estaria ameaçado – especialmente o feito a nível local. Cidadãos estariam sendo privados de informação confiável e opinião crítica sobre o que ocorre ao seu redor.
Todos os termos da moda aparecem no trabalho da Civil: blockchain, criptomoedas, fake news. Este novo modelo de negócio seria a solução para o risco que veem de erradicação do jornalismo, cuja relevância para a sociedade não poderia ser menosprezada: o jornal seria o próprio primeiro rascunho da história. O tom apaixonado da Civil também aparece quando define o seu produto simplesmente como o Jornalismo 3.0.
O que a Civil propõe? Ela quer ser uma plataforma que conecta redações aos leitores. Seu foco: garantir a qualidade da informação. Este filtro se daria de forma descentralizada, e a própria comunidade de leitores decidiria o que é fake news e o que não é.
Qualquer leitor poderia desafiar uma redação, apontando que uma notícia é falsa. Outros leitores podem julgar se a notícia é ou não verdadeira: se a maioria entender que ela é, assim será considerada. O pulo do gato é a maneira como esta avaliação é feita: um mecanismo baseado em teoria dos jogos.
O leitor não vai simplesmente votar, ele vai na verdade apostar contra um ou outro resultado. Quem aposta no resultado vencedor ganha: ao colocar seu próprio dinheiro na reta (com uma espécie de bitcoin), estaria colocado o incentivo para uma boa avaliação.
O desafio da Civil é imenso. Como em outras plataformas que funcionam em rede, ela depende que uma grande quantidade de redações e de leitores se juntem a ela. Do Facebook ao Tinder, passando pelas redes de cartão de crédito, ninguém quer estar em uma plataforma que pouca gente está usando.
Outra start-up tentando reinventar o modelo de negócios dos jornais é a holandesa Blender, que recebeu investimentos do próprio New York Times. A ideia é mais simples: vender artigos separadamente de diversas publicações em uma mesma plataforma.
Não à toa ela é tipicamente comparada ao iTunes, que inovou ao permitir ao consumidor comprar músicas isoladas de diversos artistas em vez de CDs inteiros de um só. Como no iTunes, o consumidor ganharia em diversidade e em custo (pode comprar 2 músicas ou 2 artigos em vez de um CD ou jornal inteiro).
Enquanto a solução para esse problema de demanda não é oferecida, uma possibilidade de reduzir custos dos jornais surge da inteligência artificial. A tecnologia disponível já permitiria que robôs escrevessem matérias simples, por exemplo, como será o tempo amanhã ou como foi o jogo de futebol e o pregão de Bolsa de ontem.
A visão dominante, porém, parece ser de que a inteligência artificial servirá para ajudar os jornalistas, não para substituí-los. Ela pouparia tempo de tarefas mais braçais, permitiria escolher frases já prontas sobre um evento e até facilitaria a produção de vídeos.
Que o futuro desta Gazeta nos próximos 100 anos seja tão especial quanto foi nos últimos 100. O colunista é feliz de participar de uma equipe motivada, comprometida com o Brasil e que preza pelo debate livre e franco de ideias. Vida longa à Gazeta do Povo.