O novo presidente será odiado. Ou bem ele fará reformas impopulares, ou haverá uma continuação da crise econômica.
Alguns números sobre o que o eleito terá que lidar:
1) O déficit primário é estimado em R$ 130 bilhões já no seu primeiro ano, e estão previstos déficits em todos os anos do seu mandato (nos governos do PT, isso só ocorreu a partir de 2014).
2) A dívida em relação ao PIB, que era de 60% em 2014, saltará a 80% no início do seu mandato e pode chegar a 100% do PIB no final.
3) Já a partir de 2019 o presidente pode ser alvo de impeachment por descumprir regra da Constituição que impede que se endivide para pagar despesas correntes. O buraco é de R$ 260 bilhões e vai crescer durante o seu governo.
Isso exige aumento de impostos e corte de despesas, em uma proporção que não chegamos nem perto de fazer nos últimos anos.
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Além da urgência do curto prazo, o presidente também enfrentará um desequilíbrio atuarial trilionário da Previdência. O setor privado não está disposto a investir sem que este problema esteja encaminhado.
O economista de Bolsonaro, Paulo Guedes, prometeu não aumentar a carga tributária. Já o seu principal oponente, Fernando Haddad, foi tímido em falar o oposto, corte de despesas.
O que o próximo presidente terá de fazer:
A) Elevar tributos, que são importantes para o ajuste fiscal em curto prazo. As mudanças mais prováveis: volta da CPMF; tributação de lucros e dividendos, afetando milhões de profissionais liberais que recebem como pessoa jurídica; e aumento da contribuição previdenciária de todos os servidores do país.
B) Cortar despesas, que são importantes para o ajuste em curto e longo prazo: suspender aumentos salariais dados por Michel Temer; reformar amplamente as regras do INSS (aposentadorias, pensões) e previdência dos servidores; não aumentar o salário mínimo acima da inflação; revisar as regras do seguro-desemprego e do abono salarial.
Essas mudanças, embora contribuam para garantir a existência do Estado brasileiro, geram sensação de perda em diversos grupos em um primeiro momento – e de grupos organizados.
Se for bem sucedido, o presidente será impopular. A resposta da economia demorará mais a chegar do que a rejeição que as políticas vão provocar em um primeiro momento.
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Se não for bem sucedido, o presidente também será impopular. Se não quiser, ou não conseguir, fazer o ajuste via impostos e gastos, quem vai fazer o trabalho sujo é a inflação.
E aí é a especialidade da casa: a chamada ‘estagflação’. Uma economia estagnada que patina apesar de uma inflação que acelera. A pobreza irá aumentar. A inflação de quase 11% que experimentamos em 2015 pode ser uma lembrança feliz no caos que enfrentaremos.
Nenhum dos principais candidatos trouxe esta realidade para os seus eleitores. Alguma percepção de estelionato eleitoral, de traição, será inevitável.
O perdedor da eleição será desde já o favorito da eleição de 2022.
Porque este será um presidente eleito com dificuldade na sua reeleição e com risco real de impeachment se não conseguir arrumar a casa.
É melhor já ir se acostumando.
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