Na última quarta-feira (6) o mundo conheceu o resultado da eleição presidencial dos Estados Unidos que determinou o retorno de Donald Trump à Casa Branca. O republicano, além de conseguir mais que o número mínimo de delegados eleitorais necessários, venceu também no voto popular.
Um pleito presidencial, por si só, já acarreta inúmeras consequências para o xadrez geopolítico mundial. Quando se fala de Estados Unidos, obviamente, toda e qualquer repercussão se superlativiza diante das parcerias comerciais que aquele país detém com o resto do mundo, e isso inclui o Brasil. E se falamos do nosso país, falamos do motor econômico e social: o setor agropecuário brasileiro.
Os EUA atualmente são o terceiro maior destino das exportações do agronegócio brasileiro, com 9,82 bilhões de dólares em compras do setor em 2023, o que representa 5,9% da pauta exportadora do país e fica atrás apenas da China e da União Europeia (UE) que ocupam a primeira e segunda posições, respectivamente. Entre os principais produtos se destacam madeira, celulose, café e carne bovina.
Do ponto de vista comercial, a vitória republicana deve significar o retorno de políticas protecionistas que marcaram seu governo anterior. Trump deve promover uma série de cortes em impostos federais e o barateamento dos insumos e da energia, inclusive com subsídios diretos aos produtores americanos, para ampliar a competitividade dos produtos locais frente aos concorrentes no mercado internacional.
Tal característica serve de alerta importante para o Brasil, especialmente diante da forma como o governo federal tem lidado com o agro. O desprezo e a falta de atenção aos produtores rurais, além das constantes críticas baseadas em inverdades, devem dificultar ainda mais a maneira como o mundo enxerga o setor agropecuário, publicizado pelo atual Poder Executivo.
É triste dizer isso, mas não são poucos os personagens que integram o Palácio do Planalto e a Esplanada dos Ministérios que envergonham o agro brasileiro mundo afora. Espalham inverdades e desdenham dos produtores rurais. Mesmo aqueles que sofrem diuturnamente com a falta de seguro rural ou com o menosprezo após as trágicas chuvas no Rio Grande do Sul.
Quando se fala de Estados Unidos, obviamente, toda e qualquer repercussão se superlativiza diante das parcerias comerciais que aquele país detém com o resto do mundo, e isso inclui o Brasil
Devemos nos atentar ainda para os embates comerciais entre americanos e chineses. São esperadas medidas específicas para produtos da China, sendo a mais notória o estabelecimento de tarifas de importação de 60% sobre bens advindos do país. Isso pode acirrar a guerra comercial com Pequim e, no curto prazo, beneficiar as exportações brasileiras, como a soja, que ganharia espaço no mercado chinês, em resposta às possíveis barreiras tarifárias americanas.
Uma segunda fase da guerra comercial com a China pode gerar pressões inflacionárias importantes nos EUA, o que exigirá uma política monetária contracionista que atrairia investimentos para o mercado americano, sobretudo em detrimento dos países emergentes, como o Brasil, e fortaleceria o dólar frente à outras moedas. Isso também pode gerar oportunidades para setores exportadores.
Ao contrário do relacionamento que possuem com os chineses, ou a falta dele, os EUA veem na União Europeia um parceiro comercial significativo. Ainda em 2023, o Parlamento Europeu passou a adotar medida que impõe aos países do bloco a coleta de informações, avaliação e mitigação de risco na aquisição de produtos importados como forma de garantir que as commodities não tenham sido produzidas em áreas sujeitas a desmatamento a partir de 31 de dezembro de 2020. Essa é mais uma medida que impacta diretamente na competitividade da produção brasileira e que impõe restrições nas relações comerciais do Brasil.
Para contrapor as exigências aos produtos brasileiros e buscar um tratamento igualitário, foi apresentado no Senado Federal o PL 2088/2023, a Lei da “Reciprocidade Ambiental”. De autoria do senador Zequinha Marinho (PL-PA), vice-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) no Senado, o projeto altera a Política Nacional sobre Mudanças do Clima e determina que “só poderão ser colocados ou disponibilizados no mercado brasileiro bens e produtos originados de países que cumpram com padrões ambientais compatíveis aos adotados no Brasil”.
Há certa preocupação do setor de biocombustíveis em relação ao mercado de etanol. Os EUA deverão pressionar pela inserção de seu álcool de milho no mercado internacional. Também na questão das proteínas animais, já que a estreita relação entre os Estados Unidos e o Japão, um dos maiores mercados de carne no mundo e um aliado histórico dos americanos, pode representar um obstáculo significativo para o Brasil.
Isto significa que o acirramento de tensões entre EUA e China colocam também um dilema relevante sobre o posicionamento brasileiro e de outros países no cenário geopolítico global. Precisaremos exercer algo que está em falta na Presidência da República do Brasil e nos seus representantes ministeriais: o diálogo eficaz. A hora é de nos comportamos como os protagonistas que sempre fomos, em busca do fortalecimento e desenvolvimento do nosso agro.
Todo novo capítulo marca o surgimento de oportunidades. Esse é mais um para mostrarmos que o Brasil pode ser mais. Depende de nós, das nossas forças e do nosso povo - e, preferencialmente, do governo da ocasião não atrapalhar.
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