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Pedro Menezes

Pedro Menezes

Populismo

A Casa Branca nunca foi tão Rosada como na era Trump

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fala com jornalistas ao deixar a Casa Branca, em Washington, para evento em Louisville, 21 de agosto de 2019
Presidente dos EUA, Donald Trump, acusa o Brasil de desvalorizar o real de propósito. (Foto: Jim WATSON / AFP)

Trump acusa. Em represália a um fato inventado por ele mesmo, o presidente americano quer nos punir. Para isso, promete elevar tarifas sobre o aço e o alumínio brasileiro. As alegações não fazem sentido: a política econômica do Brasil não está promovendo uma desvalorização forçada e artificial da taxa de câmbio, ao contrário do que dizem os EUA.

O que o presidente americano quer dizer quando denuncia uma desvalorização artificial do real? Quero saber qual o nexo causal apontado por ele. Quais operações o Banco Central tem feito para atingir esses objetivos? Trump não dá detalhes, pois não há o menor fundamento na acusação. O presidente dos Estados Unidos está mentindo para promover seu populismo protecionista.

Fato é que o Brasil adota um sistema de câmbio flutuante. Ou seja, nossa taxa de câmbio é determinada pelo mercado. As intervenções do Banco Central são pontuais e se limitam a suavizar as flutuações. Essas operações ocorrem apenas quando há valorizações ou desvalorizações bruscas. Não há intervenção constante e sistemática na taxa de câmbio. No longo prazo, ela é determinada pelo mais famoso casal da economia: oferta e demanda.

Nos últimos meses, o Banco Central do Brasil atuou no máximo para suavizar a alta do dólar no curto prazo. Isto é, o BC tem vendido dólares para evitar que o câmbio suba bruscamente. Além de ser uma medida pontual e moderada, ela vai no sentido oposto ao denunciado pelo presidente americano, que nos acusa de desvalorizar o real artificialmente.

A política econômica até tem relação com o atual nível da taxa de câmbio: a queda dos juros, em conjunto com o teto de gastos, diminui a demanda por reais e, portanto, faz o dólar subir. Quando o BC corta os juros de ativos denominados na nossa moeda, ele diminui também o retorno auferido por quem mantém reais na carteira. Não há nada de errado com isso. Sendo o mais influente dos agentes econômicos, o governo sempre influencia os mercados indiretamente, nos mais diversos setores.

Os Estados Unidos também baixam juros quando a inflação está abaixo da meta, o que gera estímulos à economia e desvalorização cambial. Isto acontece em toda nação soberana dotada de política econômica autônoma.

Ajustes fiscais também diminuem a demanda pela moeda doméstica, gerando desvalorização cambial. Os Estados Unidos são soberanos na gestão das próprias contas públicas e já implementaram ajustes em diversos momentos da sua história, gerando desvalorizações cambiais por tabela. Por que o Brasil não pode fazer o mesmo? No fundo, Trump acha que não temos o mesmo direito à soberania na política econômica.

A menção à Argentina deixa a coisa toda ainda mais ridícula. A desvalorização da moeda argentina tem sido puxada pela alta inflação e pelo risco-país crescente. O peso tem perdido poder de compra em velocidade recorde e a incerteza política domina o país. Ou seja, a desvalorização nem sequer é uma escolha. Se os argentinos pudessem escolher, certamente prefeririam inflação e risco-país baixos.

As acusações não fazem sentido. Não há tabelamento, controle de capitais ou intervenções obscuras. Só é possível entender a atitude de Trump como um agrado a empresários aliados. O respeito a uma nação amiga não foi suficiente para evitar a medida.

Outra coisa que não faz sentido é a política fiscal de Trump, que aumenta o déficit público num momento em que a economia está em pleno emprego. Qualquer semelhança com Dilma Rousseff não é mera coincidência. É difícil compreender o fascínio de parte da direita brasileira com o atual presidente americano. Nas atitudes de Donald Trump, há mais Perón do que Kennedy, mais Ciro Gomes do que Reagan. A Casa Branca nunca foi tão parecida com a Casa Rosada. Não é exatamente um bom começo para quem se vendia como salvação dos valores ocidentais.

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