Trump acusa. Em represália a um fato inventado por ele mesmo, o presidente americano quer nos punir. Para isso, promete elevar tarifas sobre o aço e o alumínio brasileiro. As alegações não fazem sentido: a política econômica do Brasil não está promovendo uma desvalorização forçada e artificial da taxa de câmbio, ao contrário do que dizem os EUA.
O que o presidente americano quer dizer quando denuncia uma desvalorização artificial do real? Quero saber qual o nexo causal apontado por ele. Quais operações o Banco Central tem feito para atingir esses objetivos? Trump não dá detalhes, pois não há o menor fundamento na acusação. O presidente dos Estados Unidos está mentindo para promover seu populismo protecionista.
Fato é que o Brasil adota um sistema de câmbio flutuante. Ou seja, nossa taxa de câmbio é determinada pelo mercado. As intervenções do Banco Central são pontuais e se limitam a suavizar as flutuações. Essas operações ocorrem apenas quando há valorizações ou desvalorizações bruscas. Não há intervenção constante e sistemática na taxa de câmbio. No longo prazo, ela é determinada pelo mais famoso casal da economia: oferta e demanda.
Nos últimos meses, o Banco Central do Brasil atuou no máximo para suavizar a alta do dólar no curto prazo. Isto é, o BC tem vendido dólares para evitar que o câmbio suba bruscamente. Além de ser uma medida pontual e moderada, ela vai no sentido oposto ao denunciado pelo presidente americano, que nos acusa de desvalorizar o real artificialmente.
A política econômica até tem relação com o atual nível da taxa de câmbio: a queda dos juros, em conjunto com o teto de gastos, diminui a demanda por reais e, portanto, faz o dólar subir. Quando o BC corta os juros de ativos denominados na nossa moeda, ele diminui também o retorno auferido por quem mantém reais na carteira. Não há nada de errado com isso. Sendo o mais influente dos agentes econômicos, o governo sempre influencia os mercados indiretamente, nos mais diversos setores.
Os Estados Unidos também baixam juros quando a inflação está abaixo da meta, o que gera estímulos à economia e desvalorização cambial. Isto acontece em toda nação soberana dotada de política econômica autônoma.
Ajustes fiscais também diminuem a demanda pela moeda doméstica, gerando desvalorização cambial. Os Estados Unidos são soberanos na gestão das próprias contas públicas e já implementaram ajustes em diversos momentos da sua história, gerando desvalorizações cambiais por tabela. Por que o Brasil não pode fazer o mesmo? No fundo, Trump acha que não temos o mesmo direito à soberania na política econômica.
A menção à Argentina deixa a coisa toda ainda mais ridícula. A desvalorização da moeda argentina tem sido puxada pela alta inflação e pelo risco-país crescente. O peso tem perdido poder de compra em velocidade recorde e a incerteza política domina o país. Ou seja, a desvalorização nem sequer é uma escolha. Se os argentinos pudessem escolher, certamente prefeririam inflação e risco-país baixos.
As acusações não fazem sentido. Não há tabelamento, controle de capitais ou intervenções obscuras. Só é possível entender a atitude de Trump como um agrado a empresários aliados. O respeito a uma nação amiga não foi suficiente para evitar a medida.
Outra coisa que não faz sentido é a política fiscal de Trump, que aumenta o déficit público num momento em que a economia está em pleno emprego. Qualquer semelhança com Dilma Rousseff não é mera coincidência. É difícil compreender o fascínio de parte da direita brasileira com o atual presidente americano. Nas atitudes de Donald Trump, há mais Perón do que Kennedy, mais Ciro Gomes do que Reagan. A Casa Branca nunca foi tão parecida com a Casa Rosada. Não é exatamente um bom começo para quem se vendia como salvação dos valores ocidentais.
O que explica o rombo histórico das estatais no governo Lula
Governo Lula corre para tentar aprovar mercado de carbono antes da COP-29
Sleeping Giants e Felipe Neto beneficiados por dinheiro americano; assista ao Sem Rodeios
Flávio Dino manda retirar livros jurídicos de circulação por conteúdo homofóbico
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS
Deixe sua opinião