Com dois títulos e um vice, o Palmeiras teve o melhor triênio da sua história em campeonatos brasileiros. A campanha do vice Flamengo seria suficiente para o título no ano passado e foi a melhor do clube na era dos pontos corridos, coroando o terceiro ano consecutivo de classificação para a Libertadores. Ambos já eram favoritos no início do campeonato e são, de longe, os clubes mais ricos do país.
A supremacia de Palmeiras e Flamengo é fruto de gestões que modernizaram velhas estruturas e transformaram déficits em superávits. Em resumo, fizeram o que o Brasil precisa fazer. Se Jair Bolsonaro quiser convencer a população sobre a importância de um ajuste fiscal, a trajetória recente do Flamengo é especialmente ilustrativa. Lula, dado a metáforas futebolísticas quando presidente, dificilmente deixaria escapar um exemplo tão bom.
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Os rivais Corinthians e Vasco, por outro lado, explicam bem como o Brasil chegou na lamentável situação econômica atual.
O Itaquerão é um monumento já valiosíssimo sob o ponto de vista histórico, simbolizando a arrogante irresponsabilidade que tomou a política econômica petista a partir da crise de 2009. Depois de superar um bilhão de reais em custos, restou ao Corinthians uma dívida impagável. Por isso, o clube não consegue contratar ou remunerar como Palmeiras e Flamengo.
No caso do Vasco, há um descompasso crônico entre receitas e despesas, gerando baixíssima poupança e dificuldade até mesmo de planejar o clube num curtíssimo prazo. Os juros são altíssimos em qualquer tentativa de financiamento. Representantes de má qualidade, frequentemente criminosos, dificultam ainda mais a situação do clube. Qualquer semelhança com a política nacional não é mera coincidência.
Quando o brasileiro reclama que os chineses estão comprando tudo no país, há semelhanças com santistas e tricolores revoltados pela ida de Lucas Lima ao Palmeiras e de Henrique Dourado ao Flamengo. Uns poupam, outros não. Não adianta reclamar só das consequências sem resolver a origem do problema.
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A mesma lógica vale fora do eixo Rio-São Paulo. O Atlético Paranaense, um dos clubes mais responsáveis do país na gestão das suas contas, será o único representante do estado na série A em 2019. O Bahia, após reformas internas e anos de austeridade fiscal, voltou a ter mais força que o rival Vitória, rebaixado neste ano.
Por que não há mais clubes capazes de investir como Palmeiras e Flamengo? Por que Palmeiras e Flamengo, mesmo ricos, não alcançam o top 50 do futebol mundial no ranking do site americano FiveThirtyEight?
A persistência de velhas estruturas extrativas é nítida tanto no futebol quanto na política. Cartolas de federações estaduais dificultam a racionalização do calendário, pois não querem perder suas boquinhas. Cartolas da CBF impedem a formação de uma liga independente entre os clubes, também por medo de perder influência. Grandes clubes e Rede Globo privilegiam uma divisão desigual de recursos no campeonato. Inovações que beneficiam tanto o torcedor quanto o esporte são descartadas por interesses parasitários. A dinâmica não é muito distinta da que explica a persistência de políticas públicas irrazoáveis, como o atual sistema previdenciário.
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Como bem sabia Nelson Rodrigues, o futebol é fonte inesgotável de alegorias sobre problemas elevados. Há muitas semelhanças gritantes entre o subdesenvolvimento do Brasil e do seu esporte mais popular.
Faria bem, aos clubes e à nação, reformar suas estruturas buscando maior abertura política e prosperidade econômica. Uma gestão profissional e inovadora, voltada ao desenvolvimento, fiscalmente responsável e disposta a dialogar com o mercados, fez bem a Flamengo e Palmeiras e faria bem ao Brasil. Longe de ser uma trivialidade recreativa, a tabela do Brasileirão traz interessantes lições sobre o nosso país.
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