Um dos meus gráficos prediletos combina o crescimento econômico com a história política nacional. É muito simples e informativo: as últimas quatro grandes trocas no poder federal ocorreram exatamente nos piores momentos da economia brasileira. O que determina destinos políticos no Brasil “é a economia, estúpido!”, como decreta a famosa frase de um assessor de Bill Clinton sobre o contexto americano.
O tal do gráfico segue abaixo. Caso você tenha facilidade com gráficos, vá direto para a imagem e depois para o resto do texto. Se não, essas três explicações breves devem ser suficientes:
1) O gráfico cobre os últimos 40 anos até 2018. Assim escolhi por focar no período da Nova República, mas seria possível proceder a mesma análise para os anos anteriores;
2) As linhas vermelhas verticais apontam as últimas quatro grandes trocas de poder federal: o fim da ditadura em 1985, o impeachment de Collor em 1992, a vitória do PT em 2002 e o impeachment de Dilma em 2016;
3) A linha azul é um velocímetro de médio prazo economia, pois aponta a taxa média de crescimento do PIB per capita em cinco anos. PIB per capita é a renda média, uma das melhores métricas para o bem-estar econômico nacional. Olhar períodos de cinco anos torna o gráfico mais claro – a taxa de crescimento em anos isolados resultaria num gráfico semelhante a um eletrocardiograma, indo pra cima e para baixo. Esse período deixa o gráfico maior e fácil de entender. Matematicamente, é a raiz quinta do crescimento acumulado em 5 anos.
Enfim, o gráfico:
Além de elucidar o passado, a visualização dos dados pode ajudar no mapeamento do futuro. O gráfico forma diversos V’s, cujo vértice inferior (os momentos de menor crescimento) estão associados a mudanças políticas.
Se Bolsonaro colocar o Brasil em tendência de subida, é provável que se consolide no poder por mais alguns anos além de 2022, repetindo antecessores. Se o contrário ocorrer e o Brasil voltar a embicar ladeira abaixo, o esperado é renúncia, impeachment ou, no melhor cenário, derrota eleitoral em 2022.
Segundo cálculos do Ministério da Economia, a reforma da previdência define o futuro do presidente. Nos cálculos de um estudo da Secretaria de Política Econômica, comandada por Adolfo Sachsida, a não aprovação da reforma coloca o Brasil em nova recessão já nos próximos anos. A aprovação garante alguma aceleração do crescimento – não muita, mas provavelmente suficiente para que a população sinta os benefícios.
No pior cenário, quem segura Jair Bolsonaro?
Nos tempos do impeachment de Dilma, muitos analistas falavam em três bases fundamentais para evitar a queda: apoio parlamentar, apoio popular e bem-estar econômico. Se Bolsonaro já mostra dificuldades com a economia em baixo crescimento, é improvável que sua popularidade e base legislativa cresçam num cenário de recessão, que por definição também afeta o bem-estar econômico.
Um impeachment precisa ainda de certa narrativa em defesa do vice-presidente como avanço para o país, o que já está em curso. E precisa de um crime de responsabilidade, é claro, mas todos sabemos que Collor não caiu pelo Fiat Elba e sim pelas trapalhadas no combate a inflação, assim como Dilma não caiu apenas por causa das pedaladas. Reconheço isso mesmo tendo sido entusiasta do impeachment sob Dilma.
Mesmo no melhor cenário sem aprovação da reforma, o presidente deve chegar tão fraco em 2022 que soa impossível uma vitória eleitoral. Nesse caso, é bem possível que o PT volte ao poder.
Os bolsonaristas não precisam ficar ofendidos pela sugestão, que é mais positiva do que normativa. Não escrevo que a queda de Bolsonaro será boa (honestamente, a depender dos próximos meses, não sei se seria ruim), mas é o cenário provável caso a reforma não seja aprovada.
Escrevo essa coluna até como um alerta ao bolsonarismo sobre a única coisa que importa no momento: é a economia, estúpido!
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