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O palestrante prometia entregar as contas federais no azul após o primeiro ano de mandato. O ministro deve terminar o governo com 4 anos de déficit. Por sinal, ocorreu exatamente como escrevi em 2018 – ou melhor: como todo economista sério escreveu em 2018, sob xingamentos de quem se deixava levar pelas palestras.
Hoje, o palestrante desvaloriza qualquer preocupação com as contas públicas. É um defensor apaixonado da austeridade. Sob aplausos, garante que está cumprindo o teto de gastos. Não menciona, por motivos óbvios, o que de fato ocorreu com o teto durante a gestão do ministro.
Afinal, seria preciso explicar que o teto só foi cumprido em 2019, um ano cujo orçamento foi elaborado pelo governo Temer. O ministro, ao entrar no cargo, cometeu um famoso ato falho: não sabia que o orçamento de um ano era elaborado pelo governo anterior. O palestrante garantia ser profundo conhecedor das políticas públicas brasileiras.
Em 2020, o teto de gastos foi suspenso. Era uma medida necessária em meio à pandemia. Não satisfeito, o ministro decidiu operar um recorde histórico de emendas parlamentares. O palestrante, como se sabe, é um liberal convicto e crítico do patrimonialismo brasileiro, um homem de ideias que jamais se sujeitaria às baixezas de Brasília.
No orçamento de 2021, o ministro transformou a gafe em prática política: o orçamento foi sancionado no último dia 23 de abril, quase 4 meses após o início do exercício. O conteúdo era tipicamente dilmista: gastos obrigatórios subestimados sem qualquer explicação. Tudo para que o governo, tomado pelo espírito olímpico, renovasse o recorde brasileiro de emendas parlamentares.
Ribamar Oliveira, primeiro jornalista a denunciar as pedaladas fiscais, batizou o orçamento de 2021 como “peça de ficção”. A maioria dos economistas concordaram. O palestrante aproveitou a oportunidade para ressaltar a força das instituições brasileiras. Ele estava encantado com o diálogo democrático dos parlamentares.
Nas últimas semanas, o palestrante continua no mesmo tom: tudo está bem e a inflação não é preocupante, pois o teto de gastos continuará sendo cumprido. O palestrante é muito diferente dos seus antecessores. O ministro, por outro lado, quer copiar Guido Mantega para cumprir o teto em 2022.
A ideia do ministro é retirar precatórios da lista de despesas submetidas ao teto de gastos. Ainda no governo Lula, Mantega também cumpria a meta de superávit primário, a regra fiscal mais rígida da época. Porém, só cumpria porque excluiu investimentos do cálculo, tal como o ministro pretende fazer com os precatórios.
O palestrante é um técnico inquestionável, "dotô" por Chicago e leu Keynes várias vezes na versão original. Depois do doutorado, foi operar no mercado financeiro, sequer focava na análise macroeconômica e só discutia política pública em artigos pesadamente ideológicos nos jornais. Ao se tornar ministro, vende a tributação do Pix como suprassumo da modernidade — com apoio de empresários que temem uma reforma mais profunda.
O palestrante prioriza a modernização do sistema tributário para incentivar o empreendedorismo. O ministro elogia a guerra fiscal do ICMS e quer manter este imposto estadual, certamente um dos piores do mundo. O palestrante acha que seu público é otário. O ministro tem certeza.