Neste fim de 2021, é realmente difícil encontrar um economista sério que respeite Paulo Guedes. Noutros grupos na sociedade brasileira, o ministro mantém alguns admiradores. Na Faria Lima, sobrou o pessoal que ganha dinheiro vendendo cursos para leigos operarem ativos de alto risco – alguns fazem até estátua em homenagem ao ministro. Nas mídias, tem o pessoal que lucra com cursos para partidários radicais do bolsonarismo, sempre agradando a turma. Somada a esta gente fina, cujos valores são elevados, há também o caso dos próprios bolsonaristas radicais, que desconhecem economistas sérios, por isso acreditam que o ministro-palestrante é um exemplar da espécie.
Com a consolidação de sua péssima reputação entre colegas, Paulo Guedes vem deixando o fracasso subir à cabeça. Suas respostas aos críticos podem ser divididas em duas partes.
Na primeira parte, denuncia os colegas por práticas que ele mesmo adota enquanto ministro. Foi o caso de quando denunciou Felipe Salto, diretor da IFI, por previsões supostamente partidárias e incorretas. O mesmo vale para a crítica a Affonso Pastore, que seria incapaz de incorporar o equilíbrio geral em seus raciocínios.
Nenhuma das críticas é justa. Guedes criticou Felipe Salto por supostos erros em previsões sobre o rompimento do teto de gastos. O tempo, senhor da razão, mostrou quem estava correto – e, para azar do ministro, vai continuar mostrando. Os livros de história registrarão que Felipe Salto ajudou a construir uma instituição importante para a democracia brasileira, enquanto Guedes apegava-se a um carguinho num governo que quer transformar a democracia brasileira em nada mais do que história.
Após a divulgação do PIB no terceiro trimestre, com direito a um quadro de recessão técnica, o Ministério da Economia divulgou que o crescimento é negativo, mas tem boa qualidade. Afinal, a poupança cresce como proporção do PIB, assim como o investimento e a oferta de crédito não-direcionado. Portanto, o crescimento do PIB logo virá.
Curiosamente, o raciocínio cita três relações de equilíbrio parcial para chegar a uma conclusão estranhíssima sobre o equilíbrio geral. É só mais um exemplar deste lamentável desfile que assistimos há meses. O que acontece na economia pouco importa para economistas orientados pelo apego ao próprio cargo. Como não pode reconhecer o que realmente baseia as análises do seu ministério, o ministro prefere denunciar a suposta ignorância de Affonso Pastore.
Após acusar os colegas daquilo que ele faz, Guedes costuma partir para a segunda parte das suas respostas: jogar tão baixo quanto possível, numa tentativa de intimidar seus interlocutores. O ministro pediu a demissão de Felipe Salto e associa Affonso Pastore à ditadura militar. Escolha curiosa, dado que Pastore esteve no Banco Central durante um período de abertura política, situação bem diferente de Guedes, o palestrante oficial de um governo que enfraquece a democracia brasileira a cada dia.
No início do governo, havia um debate sobre se Guedes fazia parte da ala técnica ou ideológica do governo. O tempo mostrou que nenhuma das duas opções é correta. O ministro, defensor da tributação do Pix e crítico da PEC 45, não é um técnico sério. Também não é um ideólogo: o mundo das ideias pouco importa para uma figura tão medíocre. Para manter o cargo, está disposto a fazer qualquer coisa que agrade ao presidente, inclusive jogar no lixo as regrais fiscais vigentes.
Se há um lado bom nas grosserias do palestrante, é o seguinte: ao divergir de economistas liberais, ele atenua o impacto que seu mau exemplo terá para a reputação do grupo que finge fazer parte. Temo que seja pouco. Infelizmente, mesmo com essa ajuda, os liberais de verdade precisarão de décadas para desfazer a péssima imagem deixada por Paulo Guedes.
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