Saiu o Ideb. Deveria ter sido o grande assunto dos jornais na semana. Ideb é o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. A cada dois anos, todas as escolas públicas do Brasil são avaliadas pelo Estado. O desempenho de cada escola, das redes municipal e estadual, da cidade, do estado e do país, é resumida num número – o Ideb. Com o dado, é possível comparar instituições e gestores públicos. O resultado de 2019 saiu na semana passada. Você ouviu falar sobre o assunto?
No Brasil em que eu gostaria de viver, os pais e alunos ao redor de cada escola dão grande importância ao Ideb. A nota impacta a vida em comunidade e é motivo de preocupação (ou orgulho) dos cidadãos envolvidos. Da mesma forma, os eleitores do Brasil onde eu gostaria de viver se informam sobre o Ideb e cobram explicações dos prefeitos, governadores e secretários de Educação. Para facilitar as cobranças, o Ideb tem metas específicas, ajustadas ao contexto local, para que possamos avaliar cada escola, região e rede de ensino. O debate público precisa honrar a existência de uma ferramenta tão boa.
Os eleitores de São Paulo, por exemplo, precisam debater por que a rede municipal da maior cidade do país tem um Ideb inferior ao de Sobral, no interior do Ceará. A culpa não é só de Bruno Covas: em 2013 e 2015, na gestão Fernando Haddad, São Paulo também estava atrás de Sobral. Nos anos finais do ensino fundamental, o Ideb da rede municipal paulistana está abaixo da meta desde 2007. Kassab, Haddad e Doria/Covas devem explicações por este fracasso.
O Rio está numa situação ainda pior. Ao menos, São Paulo cumpre a meta dos anos iniciais do ensino fundamental. A rede municipal do Rio de Janeiro fica abaixo da meta nos anos iniciais e finais. Marcelo Crivella tem explicações a dar: até 2015, o Rio cumpria a meta dos anos iniciais. Foi a partir da atual gestão, no Ideb de 2017, que os resultados ficaram abaixo do projetado, um cenário repetido em 2019. Os cariocas vão perdoar o prefeito? A situação do Espírito Santo é de igual gravidade. Tanto em Vitória quanto em Vila Velha, as redes municipais estão abaixo da meta nos dois estágios do ensino fundamental.
Alexandre Kalil é outro que deve explicações. Na rede municipal de Belo Horizonte, o Ideb dos anos finais do ensino fundamental piorou – foi de 4,9 em 2017 para 4,7 em 2019. Desde 2013, ainda na gestão anterior, a cidade está abaixo da meta no final do ensino fundamental. No início, assim como ocorre na maior parte do país, a meta é cumprida.
Na Região Sul, a rede municipal das três capitais registraram piora no Ideb dos anos finais do ensino fundamental e nenhuma cumpriu a meta nesse estágio. Nos anos iniciais do ensino fundamental, Curitiba e Florianópolis cumpriram a meta, ao contrário de Porto Alegre.
No Centro-Oeste, Cuiabá e Goiânia alcançam um feito: as duas redes municipais bateram a meta nos anos finais e iniciais do ensino fundamental. Trata-se de um feito sem equivalente na região Centro-Sul do país. Afinal, Campo Grande amarga o cenário oposto: está abaixo da meta nos dois estágios do ensino fundamental.
Uma boa notícia vem do Nordeste: as duas maiores cidades da região, Salvador e Recife, superaram o desempenho de 2017 e bateram a meta dos anos finais do ensino fundamental em 2019. Nos anos iniciais, as duas cidades também batem a meta. A mesma situação se observa em Fortaleza, Maceió, João Pessoa, Teresina. Ou seja, dois terços das capitais nordestinas baterão as duas metas, superando todas as cidades do Sudeste e Sul.
São Luís, Natal e Aracaju são os destaques negativos. Nessas cidades, nenhuma das metas foi batida. No Norte, Manaus e Palmas atingiram suas metas em ambos os estágios, sendo as únicas da região a alcançarem o feito.
Todas as eleições municipais precisam tratar os números do Ideb como evidência de primeira importância. Prefeitos incumbentes são obrigados a explicar onde estão e como pretendem avançar. Vale lembrar que os municípios cuidam da educação em estágios mais iniciais, justamente o período mais importante e com maior retorno social.
Nas colunas, sempre repito o mesmo clichê: reclamar da inversão de prioridades no debate público brasileiro, deste ambiente onde uma hashtag passageira gera mais pauta do que números importantes para a política pública. O caso do Ideb é particularmente gritante. Pouco se discutiu sobre a divulgação dos números, apesar da extrema relevância destes para o debate eleitoral dos próximos meses.
As redes sociais tem repercutido, desde o início da pandemia, o slogan “Defenda o SUS”. A ideia é valorizar uma política pública com grande impacto na vida nacional, capaz de dignificar parcelas excluídas na sociedade. Sugiro uma nova versão: “Discuta o Ideb!”.
Formadores de opinião, políticos, diretores de escola e professores precisam conversar sobre o Ideb, apresentar explicações sobre o passado e caminhos para o futuro. Nas padarias, pais e mães de alunos da mesma escola deveriam discutir a escola da comunidade e seu desempenho. A valorização do Ideb como assunto cotidiano seria o sintoma de que vamos na direção que as democracias liberais devem seguir, com a contínua melhoria das políticas públicas através do debate racional. Discuta o Ideb. Considere os números da sua cidade antes de ir à urna. O país agradece.
P.S. – O resultado completo do Ideb pode ser acessar no site http://ideb.inep.gov.br/.
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