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Pedro Menezes

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Educação

Seu prefeito foi bem no Ideb?

Eleitores devem ficar atentos aos resultados do Ideb da sua cidade para cobrar os prefeitos nas urnas em novembro.
Eleitores devem ficar atentos aos resultados do Ideb da sua cidade para cobrar os prefeitos nas urnas em novembro. (Foto: Aniele Nascimento/Arquivo Gazeta do Povo)

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Saiu o Ideb. Deveria ter sido o grande assunto dos jornais na semana. Ideb é o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. A cada dois anos, todas as escolas públicas do Brasil são avaliadas pelo Estado. O desempenho de cada escola, das redes municipal e estadual, da cidade, do estado e do país, é resumida num número – o Ideb. Com o dado, é possível comparar instituições e gestores públicos. O resultado de 2019 saiu na semana passada. Você ouviu falar sobre o assunto?

No Brasil em que eu gostaria de viver, os pais e alunos ao redor de cada escola dão grande importância ao Ideb. A nota impacta a vida em comunidade e é motivo de preocupação (ou orgulho) dos cidadãos envolvidos. Da mesma forma, os eleitores do Brasil onde eu gostaria de viver se informam sobre o Ideb e cobram explicações dos prefeitos, governadores e secretários de Educação. Para facilitar as cobranças, o Ideb tem metas específicas, ajustadas ao contexto local, para que possamos avaliar cada escola, região e rede de ensino. O debate público precisa honrar a existência de uma ferramenta tão boa.

Os eleitores de São Paulo, por exemplo, precisam debater por que a rede municipal da maior cidade do país tem um Ideb inferior ao de Sobral, no interior do Ceará. A culpa não é só de Bruno Covas: em 2013 e 2015, na gestão Fernando Haddad, São Paulo também estava atrás de Sobral. Nos anos finais do ensino fundamental, o Ideb da rede municipal paulistana está abaixo da meta desde 2007. Kassab, Haddad e Doria/Covas devem explicações por este fracasso.

O Rio está numa situação ainda pior. Ao menos, São Paulo cumpre a meta dos anos iniciais do ensino fundamental. A rede municipal do Rio de Janeiro fica abaixo da meta nos anos iniciais e finais. Marcelo Crivella tem explicações a dar: até 2015, o Rio cumpria a meta dos anos iniciais. Foi a partir da atual gestão, no Ideb de 2017, que os resultados ficaram abaixo do projetado, um cenário repetido em 2019. Os cariocas vão perdoar o prefeito? A situação do Espírito Santo é de igual gravidade. Tanto em Vitória quanto em Vila Velha, as redes municipais estão abaixo da meta nos dois estágios do ensino fundamental.

Alexandre Kalil é outro que deve explicações. Na rede municipal de Belo Horizonte, o Ideb dos anos finais do ensino fundamental piorou – foi de 4,9 em 2017 para 4,7 em 2019. Desde 2013, ainda na gestão anterior, a cidade está abaixo da meta no final do ensino fundamental. No início, assim como ocorre na maior parte do país, a meta é cumprida.

Na Região Sul, a rede municipal das três capitais registraram piora no Ideb dos anos finais do ensino fundamental e nenhuma cumpriu a meta nesse estágio. Nos anos iniciais do ensino fundamental, Curitiba e Florianópolis cumpriram a meta, ao contrário de Porto Alegre.

No Centro-Oeste, Cuiabá e Goiânia alcançam um feito: as duas redes municipais bateram a meta nos anos finais e iniciais do ensino fundamental. Trata-se de um feito sem equivalente na região Centro-Sul do país. Afinal, Campo Grande amarga o cenário oposto: está abaixo da meta nos dois estágios do ensino fundamental.

Uma boa notícia vem do Nordeste: as duas maiores cidades da região, Salvador e Recife, superaram o desempenho de 2017 e bateram a meta dos anos finais do ensino fundamental em 2019. Nos anos iniciais, as duas cidades também batem a meta. A mesma situação se observa em Fortaleza, Maceió, João Pessoa, Teresina. Ou seja, dois terços das capitais nordestinas baterão as duas metas, superando todas as cidades do Sudeste e Sul.

São Luís, Natal e Aracaju são os destaques negativos. Nessas cidades, nenhuma das metas foi batida. No Norte, Manaus e Palmas atingiram suas metas em ambos os estágios, sendo as únicas da região a alcançarem o feito.

Todas as eleições municipais precisam tratar os números do Ideb como evidência de primeira importância. Prefeitos incumbentes são obrigados a explicar onde estão e como pretendem avançar. Vale lembrar que os municípios cuidam da educação em estágios mais iniciais, justamente o período mais importante e com maior retorno social.

Nas colunas, sempre repito o mesmo clichê: reclamar da inversão de prioridades no debate público brasileiro, deste ambiente onde uma hashtag passageira gera mais pauta do que números importantes para a política pública. O caso do Ideb é particularmente gritante. Pouco se discutiu sobre a divulgação dos números, apesar da extrema relevância destes para o debate eleitoral dos próximos meses.

As redes sociais tem repercutido, desde o início da pandemia, o slogan “Defenda o SUS”. A ideia é valorizar uma política pública com grande impacto na vida nacional, capaz de dignificar parcelas excluídas na sociedade. Sugiro uma nova versão: “Discuta o Ideb!”.

Formadores de opinião, políticos, diretores de escola e professores precisam conversar sobre o Ideb, apresentar explicações sobre o passado e caminhos para o futuro. Nas padarias, pais e mães de alunos da mesma escola deveriam discutir a escola da comunidade e seu desempenho. A valorização do Ideb como assunto cotidiano seria o sintoma de que vamos na direção que as democracias liberais devem seguir, com a contínua melhoria das políticas públicas através do debate racional. Discuta o Ideb. Considere os números da sua cidade antes de ir à urna. O país agradece.

P.S. – O resultado completo do Ideb pode ser acessar no site http://ideb.inep.gov.br/.

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