Foto: Nelson Almeida/AFP| Foto:

Muita gente acha que a democracia está em risco. Eleitores de Bolsonaro denunciam Haddad e vice-versa. Nulistas acusam os dois. O único item em falta é gente calma, tranquila com o pessoal que está gritando por aí. Seja qual for a opinião do leitor enquanto eleitor, não importa qual ameaça parece mais real, o Brasil estará mais protegido se reformar o Estado e abraçar a economia de mercado.

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O mercado não é a Faria Lima, mas muitos jornais usam a palavra com esse desleixo: o repórter conversa com duas ou três fontes do mercado financeiro paulistano e tasca na manchete que “o mercado” acha isso ou aquilo. Caros jornalistas, um par de diretores do Itaú mal representa o Itaú, quanto mais o mercado financeiro; e mesmo o mercado financeiro é um mercado, não o mercado.

O mercado mesmo é um sistema de trocas livres que nos torna mais democráticos, incentiva o trabalho duro e a tolerância entre os seres humanos. É uma plataforma onde oferta encontra demanda sem trapaças, o conjunto de decisões econômicas de seres humanos livres, buscando o próprio interesse. Esta plataforma existe no mundo todo. Funciona melhor quando regras e instituições são estáveis, o governo gasta o que arrecada e os agentes saem satisfeitos das trocas.

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A liberdade política é mais forte quando protegida por uma sociedade civil sem rabo preso. Essa independência, por óbvio, só pode vir de quem não depende do Estado. Quando a iniciativa privada tem força própria, surgem ONGs em defesa dos direitos humanos e universidades privadas de excelência, dificultando a doutrinação estatal.

A democracia precisa que você tenha dinheiro para assinar a Gazeta do Povo. E a Gazeta também precisa de simplicidade regulatória para operar sem medo de punições arbitrárias. Uma boa economia de mercado é combustível para a imprensa livre.

Literalmente, o comunismo é impossível, como bem demonstraram Mises e Hayek. Stalin não socializou os meios de produção. Ele controlava a propriedade privada como ferramenta para controlar a sociedade. Sob esse ponto de vista, o stalinismo deu certo. Com jornais guiados pelo Partido Comunista, foi fácil derramar sangue e concentrar poder.

Estabilidade econômica e orçamento controlado fazem bem para as instituições políticas. Disparadas na inflação e taxa de câmbio tornam o ambiente mais propício para rupturas. Na Venezuela dos nossos dias ou no Brasil dos anos 1960, o caos econômico facilita guinadas autoritárias.

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Atualmente, o gasto público em previdência tem trajetória explosiva. Dispositivos constitucionais impedem que o próximo governo maneje cerca de 90% do orçamento. Não dá nem para chamar isso de gestão fiscal. O próximo presidente estará de mãos atadas. Será difícil atender aos desejos de eleitores no cenário atual.

O Brasil é recordista, simultaneamente, em carga tributária, dívida pública e déficit. O Estado arrecada muito, pesa no bolso do cidadão. Apesar disso, não consegue bancar o que gasta e a dívida pública está em trajetória explosiva.

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Se o Brasil não resolver com urgência o atual problema fiscal, a escolha entre Bolsonaro e Haddad será peixe pequeno. Muita gente reclama da oferta de autoritários, mas a coisa fica feia é quando surge a demanda. Quando o caos se instaura, retrocesso vira tendência.

A abertura da economia ao mundo é outro bom ingrediente na defesa da democracia. Participar de uma comunidade de democracias estáveis pode constranger impulsos autoritários. Num país integrado ao comércio internacional, sanções diplomáticas custam mais.

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Há muito terrorismo no ar. Por mais autoritários que sejam os candidatos, uma ditadura é improvável no curto prazo, e mesmo no médio. Temos imprensa livre, Judiciário independente, pluralidade no Congresso e muitos cães de guarda na ativa.

Quem se preocupa com a democracia brasileira pode, desde já, refletir sobre qual modelo de sociedade convive melhor com a liberdade civil. A política é menos livre quando o Estado tem poder discricionário para intervir onde quiser. Será dura a conciliação entre uma reforma da previdência fiscalmente responsável e o vídeo alarmista que um PSOL vai convencer qualquer Wagner Moura a gravar, mas empurrar o problema com a barriga é muito pior.

Entre o Plano Real e a crise de 2008, o governo brasileiro adotou políticas simpáticas à economia de mercado. Foi o único período da Nova República sem impeachments, crises políticas colossais ou insatisfação geral com as instituições. É crucial, para os bolsos e liberdades, que o próximo presidente nos recoloque nesse rumo.