Indicado para operar como fiador de Bolsonaro junto ao mercado financeiro, o ministro Paulo Guedes perde sua credibilidade em velocidade assustadora.| Foto: Edu Andrade/Ascom/ME
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Paulo Guedes começou o ano bem. Em Davos, no Fórum Econômico Mundial, o ministro sugeriu que enfim apoiaria a PEC 45, a reforma tributária da Câmara, formulada por Bernard Appy. Naquele momento, elogiei Guedes publicamente, tratando a fala como uma das melhores decisões de sua gestão. Pouco depois, o ministro da Economia desistiu da boa ideia, trocando-a por uma má: a CPMF. Foi a abertura de um longo desfile de erros grosseiros do antigo Posto Ipiranga.

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O apelido, aliás, mostra quão desastroso foi o ano de Guedes. Na campanha, e em muitos momentos de 2019, o presidente não escondia que, em assuntos econômicos, bastava perguntar no Posto Ipiranga para saber a opinião do governo. Pouco após o início da pandemia, Bolsonaro abriu espaço para novos conselheiros, como os ministros Tarcísio Freitas, Braga Netto e Rogério Marinho.

A perda de credibilidade de Guedes começa a ganhar força no fim de fevereiro. Enquanto muitos especialistas apontavam a pandemia como perigo iminente, o ministro da Economia subestimou a Covid-19. Em março, mesmo após a OMS já ter declarado pandemia, veio a frase icônica: “com 3, 4 ou 5 bilhões, a gente aniquila esse vírus”. O déficit primário em 2020 deve ficar ao redor de R$ 800 bilhões e, mesmo assim, a única coisa que parece ter sido aniquilada desde então foi a reputação de Paulo Guedes.

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Ao mostrar seus dotes de palestrante em 2019, Guedes costumava ressaltar a equipe alinhada, com todos querendo a mesma coisa. Em 2020, o tom mudou. Agora, Guedes ressalta a irresponsabilidade de outros ministros que aconselham o presidente, inclusive denunciando conspirações da Febraban com seus colegas.

Em meio a essa confusão, surgiram dúvidas quanto à continuidade do teto de gastos. Cada vez mais, crescem os boatos de que o presidente estaria disposto a abandonar o teto de gastos em busca de melhores prospectos eleitorais em 2022.

Esta percepção não é apenas minha. Os mercados parecem duvidar da política econômica de Bolsonaro. A parte mais longa da curva de juros mostra isso claramente, com os investidores exigindo taxas cada vez maiores para emprestar dinheiro ao governo. O risco-país, um dos dados que Guedes adorava citar no ano passado, não dá trégua. E o dólar sobe cada vez mais, trazendo consigo o risco de inflação.

Neste fim de ano, a tarefa de Guedes é clara. O ministro precisa saber o que fazer para conter a pobreza e o desemprego após o fim do auxílio emergencial, garantir a continuidade dos juros em patamares baixos e acalmar as expectativas em relação ao futuro das contas públicas brasileiras.

Sem conseguir atingir estes objetivos, Guedes está perdido. Os mercados não dão trégua e, ainda que este não seja um cenário certo, cada vez mais economistas cogitam a possibilidade de "estagflação" no ano que vem.

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Em meio a essa confusão toda, a reforma tributária seria fundamental. Numa tacada só, seria possível facilitar o controle da dívida pública, estimular o crescimento econômico, conter a inflação com ganhos de produtividade e reformar as políticas de isenção fiscal. Todo esse processo ajudaria a alcançar os ganhos de credibilidade que a economia brasileira tanto precisa.

Dez meses depois da declaração em Davos, Guedes continua trabalhando contra a PEC 45 e insistindo na absurda recriação da CPMF. Sem ter um plano claro de recuperação da credibilidade fiscal, o ministro se reveza entre as mesmas promessas que não se concretizam. Promete privatizações a curto prazo, reformas que nunca são entregues e ainda culpa o Legislativo por seus infortúnios, como se negociar com o Congresso não fosse parte das suas funções.

Neste ano, porém, as promessas do talentoso palestrante que lidera o Ministério da Economia já não possuem a mesma força. Indicado para operar como fiador de Bolsonaro junto ao mercado financeiro, o ministro perde sua credibilidade em velocidade assustadora.

Este 2020 foi um ano de mudanças para Paulo Guedes. O status do ministro mudou e só há uma coisa que os mercados temem caso ele seja demitido: a possibilidade de Bolsonaro escolher um substituto ainda pior.