Seu aluguel ou a prestação do apartamento seriam um sonho para a população de Hong Kong, que paga alguns dos valores mais altos do mundo por moradia. Lá, alugar um metro quadrado para viver pode custar o equivalente a muitos milhares de reais. Tanto que os honcongueses menos abastados, sem dinheiro para o luxo da casa própria, recentemente escolheram o McDonald’s para passar as noites…
Se é ruim para os moradores, para as imobiliárias é ótimo. Tais preços levaram a um boom no segmento desde meados de 2010. Para se destacar em meio a esta multidão, uma startup de pouco mais de dois anos resolveu investir em um tipo de imóvel que é parecido com todos o outros, só que tem preços mais baixos e uma boa oferta. Mas tem um problema: são imóveis “mal-assombrados”, segundo os locais.
A aposta da Spacious é um tanto bizarra. Ainda mais da forma que é feita. A imobiliária mostra em seu site um mapa interativo dos imóveis que tem para comercializar. Entre os filtros comuns, como proximidade de escola e densidade do bairro, tem um que se chama “haunted” (“mal-assombrado”, em inglês — você pode navegar na versão em chinês do site, se preferir). A partir daí fica mórbido. Bem mórbido…
Você pode, por exemplo, escolher entre um apartamento onde um rapaz matou e desmembrou o corpo de uma mulher na rua Yan Fat Ylbg e um onde uma mulher tailandesa foi morta após um assalto na To Kwan Wan. E você saberá disso porque o site faz questão de descrever a forma como as mortes ocorreram nos aposentos.
Se o futuro morador não se importar com o histórico da casa, economiza valores entre 10% e 30%, dependendo de quão extrema tenha sido a tragédia no local.
Feng Shui
Esses imóveis dizem muito sobre a cultura chinesa (Hong Kong é uma região administrativa especial da China). Ao site Motherboard, Asif Ghafoor, criador da empresa, diz que quando uma pessoa morre em um apartamento ninguém mais quer morar lá. Ele até ganha um apelido: hung jaak. “O Feng Shui [técnica que prega a manutenção da positividade nos ambientes] é levado muito a sério”, descreve.
Só que a estratégia de Ghafoor é justamente se aproveitar disso. Ele mira em gente que chega de outros países, geralmente jovens empreendedores tentando fazer dinheiro em um dos polos mundiais da tecnologia.
O Motherboard aponta que um dos bairros de onde os honcongueses mais fogem é o Po Hing Fong, que virou um microcosmo de estrangeiros. Hoje, a região é cheia de bares de cerveja artesanal e lojas de produtos vintage, no passado era uma favela e foi o marco zero da peste bubônica em Hong Kong.
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